{"id":2138,"date":"2009-01-19T16:00:37","date_gmt":"2009-01-19T16:00:37","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:34:28","modified_gmt":"2021-07-10T23:34:28","slug":"furacoes_e_aquecimento_global","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/mudancas_climaticas\/artigos\/furacoes_e_aquecimento_global.html","title":{"rendered":"Furac\u00f5es e aquecimento global"},"content":{"rendered":"\n

Em 17 de Setembro, quando o ciclone tropical Ivan atingiu a costa sul dos Estados Unidos (Alabama), seus ventos sopravam ainda a uma velocidade de 209 km\/h, com rajadas de 260 km\/h. Na sexta-feira, dia 18, ele continuou sua trajet\u00f3ria para Louisiana, Mississipi e Fl\u00f3rida provocando quedas de \u00e1rvores, inunda\u00e7\u00f5es, deslizamento de terras e a morte de mais de 30 pessoas. Essa viol\u00eancia parece um pouco inexplic\u00e1vel, pois a pot\u00eancia dos ciclones se reduz quando chegam ao terreno s\u00f3lido. De fato, no mar ele apresentou rajadas da ordem de at\u00e9 302 km\/h, com ondas de 16 metros. Esse \u00e9 sem d\u00favida um dos mais violentos ciclones observados na regi\u00e3o do Caribe. Por sua intensidade e viol\u00eancia esse ciclone foi chamado Ivan, o Terr\u00edvel. <\/p>\n\n\n\n

Em 20 de Setembro, outro furac\u00e3o, o Jeanne atingiu o Haiti provocando inunda\u00e7\u00f5es e fez mais de 700 mortes. Ao mesmo tempo um novo ciclone – Karl -, come\u00e7ou a se formar no Oceano Atl\u00e2ntico, a cerca de 2000 km a Leste de Cabo Verde, com velocidade de 225 km\/h, e amea\u00e7a a regi\u00e3o do Caribe. <\/p>\n\n\n\n

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Os furac\u00f5es e o aquecimento global <\/strong><\/p>\n\n\n\n

Desde o in\u00edcio da esta\u00e7\u00e3o dos ciclones, denominados hurricanes nos EUA, que nesta regi\u00e3o tem in\u00edcio em Junho e acaba no come\u00e7o de Novembro, j\u00e1 ocorreram doze furac\u00f5es, alguns deles, como Charley, Francis, Ivan e Jeanne particularmente destruidores registrados nestas \u00faltimas cinco semanas. Para os meteorologistas este n\u00famero n\u00e3o parece normal. As previs\u00f5es estimam ao todo 14 furac\u00f5es anualmente na regi\u00e3o. Na realidade, este ano parece um ano especial, pois n\u00e3o ocorreu nenhum em Julho, mas a atividade no m\u00eas de Agosto constitui um recorde. Em meados de Setembro foi registrado o equivalente a uma esta\u00e7\u00e3o de ciclones completa. <\/p>\n\n\n\n

Nos \u00faltimos 30 anos, a m\u00e9dia era de 10 a 11 furac\u00f5es; desde 1995, esta m\u00e9dia subiu de 12 para 14. As raz\u00f5es dessas altera\u00e7\u00f5es t\u00eam v\u00e1rias explica\u00e7\u00f5es. Para o ano atual, a aus\u00eancia do El Ni\u00f1o sobre o Pac\u00edfico conduz a um aumento dos ciclones do Atl\u00e2ntico, em virtude das temperaturas oce\u00e2nicas muito elevadas no Mar do Caribe, onde os ciclones surgem aproveitando essa eleva\u00e7\u00e3o de temperatura. Com efeito, a umidade quente \u00e9 o principal fator respons\u00e1vel pelo aparecimento dos furac\u00f5es. Al\u00e9m do mais, alguns meteorologistas acreditam que o aquecimento global pode contribuir para o desenvolvimento desses furac\u00f5es. Em defesa desta \u00faltima id\u00e9ia, os meteorologistas assinalam exatamente o aumento do n\u00famero de furac\u00f5es associando-o ao aumento da temperatura nestes \u00faltimos anos. N\u00e3o h\u00e1 d\u00favida que o aquecimento global vem contribuindo efetivamente para que os fen\u00f4menos extremos ocorram com mais freq\u00fc\u00eancia. <\/p>\n\n\n\n

A forma\u00e7\u00e3o dos furac\u00f5es <\/strong><\/p>\n\n\n\n

O furac\u00e3o \u00e9 uma poderosa tempestade que produz ventos extremamente r\u00e1pidos. Na realidade, o furac\u00e3o \u00e9 um ciclone (uma depress\u00e3o) de forte intensidade. Ele compreende, \u00e0s vezes, centenas de tempestades, podendo estender-se por centenas de quil\u00f4metros. Quando o furac\u00e3o alcan\u00e7a o continente, ele provoca chuvas torrenciais de grande intensidade num curto intervalo de tempo, inundando as cidades costeiras. Esses ciclones de grande intensidade s\u00e3o denominados de hurricane na Am\u00e9rica do Norte e na regi\u00e3o do Caribe, de tuf\u00f5es no Sudeste asi\u00e1tico e de willi-willi no Oceano \u00cdndico e na Austr\u00e1lia. <\/p>\n\n\n\n

Com freq\u00fc\u00eancia confunde-se tornado com furac\u00e3o. Pode-se distingui-los pelo fato de o tornado constituir um fen\u00f4meno local, enquanto o furac\u00e3o pode estender-se at\u00e9 1.000km de di\u00e2metro. Al\u00e9m do mais, o tornado \u00e9 acompanhado de ventos ainda mais violentos do que o ciclone, mas ele s\u00f3 dura algumas horas, enquanto um furac\u00e3o pode durar semanas e percorrer milhares de quil\u00f4metros. <\/p>\n\n\n\n

Os furac\u00f5es se formam depois que os raios do Sol incidem durante v\u00e1rios dias sobre o oceano, provocando o aquecimento da massa de ar situada pr\u00f3ximo de sua superf\u00edcie l\u00edquida, quando a sua umidade se eleva. Quanto mais ar quente e \u00famido sobe, mais a temperatura diminui o que favorece a condensa\u00e7\u00e3o do vapor em gotas de chuva para formar as nuvens. Quanto mais umidade e calor existirem, mais evapora\u00e7\u00e3o ir\u00e1 ocorrer, o que poderia provocar o surgimento de v\u00e1rias centenas de tempestades. <\/p>\n\n\n\n

Duas s\u00e3o as condi\u00e7\u00f5es essenciais para a forma\u00e7\u00e3o de um furac\u00e3o. Em primeiro lugar, a evapora\u00e7\u00e3o de massa de \u00e1gua, al\u00e9m de ser suficiente, deve ocorrer acima dos oceanos, onde a temperatura varia entre 26,5\u00ba e 27\u00baC. Esta \u00faltima condi\u00e7\u00e3o explica por que os furac\u00f5es se formam sempre pr\u00f3ximo dos tr\u00f3picos. <\/p>\n\n\n\n

Ali\u00e1s, \u00e9 o calor liberado por ocasi\u00e3o da condensa\u00e7\u00e3o do vapor de \u00e1gua que d\u00e1 ao furac\u00e3o a sua pot\u00eancia. Em segundo lugar, a massa de tempestade deve situar-se ou se deslocar a 5\u00ba de latitude norte ou sul do equador, onde a for\u00e7a de Coriolis come\u00e7a a ocorrer. <\/p>\n\n\n\n

A for\u00e7a de Coriolis \u00e9 um fen\u00f4meno produzido pela rota\u00e7\u00e3o da Terra ao redor de seu eixo. Esta for\u00e7a induz um movimento de rota\u00e7\u00e3o \u00e0 massa tempestuosa, que come\u00e7a a se enrolar sobre si mesma no sentido anti-hor\u00e1rio no Hemisf\u00e9rio Norte e no sentido hor\u00e1rio no Hemisf\u00e9rio Sul. \u00c0 medida que se afasta do Equador, a for\u00e7a de Coriolis \u00e9 mais intensa, de modo que a rota\u00e7\u00e3o das massas tempestuosas ser\u00e1 mais r\u00e1pida e os ventos se tornar\u00e3o mais r\u00e1pidos. Assim que o furac\u00e3o toca o continente, ele encontra \u00e1guas mais frias ao Norte, no Hemisf\u00e9rio Norte, ou ao Sul, no Hemisf\u00e9rio Sul. <\/p>\n\n\n\n

O calor e a umidade necess\u00e1rios para a sua manuten\u00e7\u00e3o tornam-se insuficientes e come\u00e7a o seu decl\u00ednio. Al\u00e9m do mais, quando ele se desloca sobre o continente, o furac\u00e3o perde rapidamente energia e velocidade em virtude de seu atrito com a superf\u00edcie terrestre. Se a trajet\u00f3ria do furac\u00e3o o conduz para o equador, onde a for\u00e7a de Coriolis \u00e9 nula, em conseq\u00fc\u00eancia, al\u00e9m de perder a sua velocidade de rota\u00e7\u00e3o, ele se tornar\u00e1 uma mera massa tempestuosa. <\/p>\n\n\n\n

No interior dos furac\u00f5es, os ventos variam de 117 km\/h a 300 km\/h. Segundo a sua intensidade, o di\u00e2metro do furac\u00e3o pode atingir os 2.000 km e pode deslocar-se por v\u00e1rios milhares de quil\u00f4metros. Alguns deles se deslocam \u00e0 velocidade de 20 a 25 km\/h, apesar da velocidade excessiva dos ventos que os fazem girar. Um fato curioso e not\u00e1vel \u00e9 que no centro \u2013 olho do furac\u00e3o \u2013 a tempestade \u00e9 mais calma. Nesta zona, a press\u00e3o \u00e9 muito baixa, podendo ocorrer ventos de somente 30 km\/h. <\/p>\n\n\n\n

O maior perigo \u00e9 quando um furac\u00e3o atinge a costa, ap\u00f3s ter percorrido uma grande extens\u00e3o sobre o mar: produz ent\u00e3o a denominada mar\u00e9 de tempestade. Um mont\u00edculo de \u00e1gua se forma sob o centro do furac\u00e3o, onde a \u00e1gua se eleva por aspira\u00e7\u00e3o. Sobre o oceano, esse relevo semelhante a uma bossa e ligeiramente vis\u00edvel vai crescendo \u00e0 medida que se aproxima da costa. Ao tocar a costa, a \u00e1gua invade as terras, provocando destrui\u00e7\u00f5es indescrit\u00edveis. O tuf\u00e3o de Bangladesh, em 1970, causou a maior taxa de mortalidade; cerca de 300 mil pessoas submergiram em vagas inimagin\u00e1veis. Recentemente, em 1992, o tuf\u00e3o Andrew, ao tocar a Fl\u00f3rida e a Louisiana, causou destrui\u00e7\u00f5es avaliadas em quase 26 bilh\u00f5es de d\u00f3lares. <\/p>\n\n\n\n

Como surgem e se distribuem os furac\u00f5es <\/strong><\/p>\n\n\n\n

Os furac\u00f5es surgem numa zona de baixa press\u00e3o atmosf\u00e9rica, onde o ar mais leve tende a subir. Quando esse movimento ascendente acontece sobre um oceano tropical, a evapora\u00e7\u00e3o da \u00e1gua marinha faz com que as camadas mais baixas de atmosfera sejam ricas em vapor de \u00e1gua. A enorme quantidade de vapor de \u00e1gua assim formada \u00e9 transportada \u00e0s mais elevadas e frias camadas da atmosfera. <\/p>\n\n\n\n

Ao alcan\u00e7ar as camadas superiores, o vapor se condensa dando origem \u00e0 \u00e1gua. Durante o processo, uma parte do calor existente no vapor \u00e9 liberada na atmosfera, reaquecendo o ar em sua volta, que retorna a parte superior. \u00c0 medida que a diferen\u00e7a de temperatura entre as camadas superficiais e superiores da atmosfera aumenta, maior ser\u00e1 a possibilidade do ciclone se transformar num furac\u00e3o. <\/p>\n\n\n\n

Uma vez formado o furac\u00e3o, ocorrem ventos horizontais na superf\u00edcie, cada vez mais r\u00e1pidos, provocados por massas de ar que se deslocam para ocupar o espa\u00e7o deixado por outras massas de ar quente que subiram para as camadas superiores da atmosfera. <\/p>\n\n\n\n

Os ciclones do Atl\u00e2ntico Norte t\u00eam sua origem no Leste da \u00c1frica sob a forma de grossas linhas de gr\u00e3os que atravessam o continente africano em dire\u00e7\u00e3o ao Oeste, que, em seguida, prosseguem sua rota pelo Oceano Atl\u00e2ntico. Se as condi\u00e7\u00f5es s\u00e3o favor\u00e1veis, esses gr\u00e3os se transformam em ciclones tropicais, cuja trajet\u00f3ria sofre a influ\u00eancia dos ventos situados entre o n\u00edvel do oceano at\u00e9 15 km de altitude. <\/p>\n\n\n\n

Em outras regi\u00f5es do mundo, nos Oceanos \u00cdndico e Pac\u00edfico, a origem dos ciclones \u00e9 diferente. <\/p>\n\n\n\n

Eles se iniciam sob a forma de modestas perturba\u00e7\u00f5es tropicais que surgem ao n\u00edvel do Equador meteorol\u00f3gico \u2013 uma zona que oscila de uma parte a outra do equador geogr\u00e1fico segundo as esta\u00e7\u00f5es -, e ao longo do qual se elevam nuvens muito poderosas como os cumulus-nimbus, gigantescas torres de nuvens que podem atingir 13 km de altura. Para que uma perturba\u00e7\u00e3o tropical se transforme em ciclone, \u00e9 necess\u00e1rio que a temperatura do oceano seja superior a 26\u00baC, para que ocorra uma evapora\u00e7\u00e3o intensa. Essa atividade atinge o seu m\u00e1ximo no fim do ver\u00e3o, quando as \u00e1guas da superf\u00edcie atingem de 27\u00ba a 28\u00baC. \u00c9 necess\u00e1rio tamb\u00e9m que a for\u00e7a de Coriolis seja suficiente para que, conduzida pela rota\u00e7\u00e3o da Terra, ela venha a imprimir aos ventos um desvio para a direita no hemisf\u00e9rio norte e para a esquerda no hemisf\u00e9rio sul. No Equador ela \u00e9 nula. \u00c9 esta a for\u00e7a que aciona o movimento dos turbilh\u00f5es iniciais. <\/p>\n\n\n\n

Uma vez formado, o ciclone se comp\u00f5e de um olho \u2013 uma zona de vento fraco \u2013 de 20 a 35 km de di\u00e2metro -, em torno do qual se situa um anel de nuvens de 1000 km a 2000 km di\u00e2metro. Nessas nuvens muito elevadas e muito densas sopram ventos superiores a 120 km\/h e que podem ultrapassar os 300 km\/h. Esta velocidade \u00e9 que define o fen\u00f4meno. Abaixo de 60 km\/h tem-se uma depress\u00e3o tropical; entre 60 e 120 km\/h uma tempestade tropical; acima de 120 km\/h tem-se o ciclone. O n\u00famero total de ciclones que ocorrem no Planeta varia muito pouco, entre 80 a 90 anualmente. As sete zonas onde surgem estes fen\u00f4menos n\u00e3o mudam muito: o Oceano Atl\u00e2ntico Norte, o Pac\u00edfico Nordeste, o Pac\u00edfico Noroeste, o Pac\u00edfico Sul, \u00cdndico Norte, o \u00cdndico Sudoeste e o Oceano \u00cdndico Sudeste.<\/p>\n\n\n\n

Ronaldo Rog\u00e9rio de Freitas Mour\u00e3o – Astr\u00f4nomo e escritor
\nFonte: Revista Eco 21, Ano XIV, Edi\u00e7\u00e3o 95, Outubro 2004. (www.eco21.com.br)
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Em 20 de Setembro, o furac\u00e3o Jeanne atingiu o Haiti provocando inunda\u00e7\u00f5es e fez mais de 700 mortes. Ao mesmo tempo um novo ciclone – Karl -, come\u00e7ou a se formar no Oceano Atl\u00e2ntico, a cerca de 2000 km a Leste de Cabo Verde, com velocidade de 225 km\/h, e amea\u00e7a a regi\u00e3o do Caribe. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":2139,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1508],"tags":[498,23,74],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2138"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2138"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2138\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5596,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2138\/revisions\/5596"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/2139"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2138"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2138"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2138"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}