{"id":2137,"date":"2009-01-19T15:31:12","date_gmt":"2009-01-19T15:31:12","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:34:28","modified_gmt":"2021-07-10T23:34:28","slug":"clima_pode_extinguir_centenas_de_especies_dentro_de_50_anos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/mudancas_climaticas\/artigos\/clima_pode_extinguir_centenas_de_especies_dentro_de_50_anos.html","title":{"rendered":"Clima pode extinguir centenas de esp\u00e9cies dentro de 50 anos"},"content":{"rendered":"\n

Um estudo coordenado pelo bi\u00f3logo brit\u00e2nico Chris Thomas, da Universidade de Leeds, e publicado na revista Nature, reuniu o trabalho de pesquisadores de v\u00e1rias partes do mundo (entre eles, a bi\u00f3loga brasileira Marinez Ferreira de Siqueira, do Centro de Refer\u00eancia em Informa\u00e7\u00e3o Ambiental, de Campinas) prev\u00ea que com um aumento de 2\u00baC na temperatura m\u00e9dia mundial, poderiam ser extintas at\u00e9 52% das esp\u00e9cies devido ao desaparecimento dos seus h\u00e1bitats naturais.<\/p>\n\n\n\n

Marinez, ao analisar os efeitos das altera\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas nas \u00e1rvores do Cerrado, identificou a possibilidade de redu\u00e7\u00e3o desta \u00e1rea em 25% em 50 anos (ao usar um cen\u00e1rio mais conservador, isto \u00e9, de aumento de 0,5% ao ano no g\u00e1s carb\u00f4nico presente na atmosfera), \u00edndice que poderia chegar a 90% num cen\u00e1rio menos conservador (com aumento de 1% no CO2 ao ano).<\/p>\n\n\n\n

O estudo tomou por base a exist\u00eancia de \u201cenvelopes\u201d ambientais para cada esp\u00e9cie, ou seja, a id\u00e9ia de que uma s\u00e9rie de condi\u00e7\u00f5es, como precipita\u00e7\u00e3o, temperatura e sazonalidade influem na sobreviv\u00eancia daquele grupo de seres vivos. Numa segunda etapa, foram usados modelos para projetar cen\u00e1rios futuros quanto a estas condi\u00e7\u00f5es, o que permitiu identificar se tais esp\u00e9cies teriam possibilidade de continuar existindo ou n\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n

<\/span><\/div>\n\n\n\n

S\u00f3 pol\u00edtica global evita a destrui\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O trabalho apresentado na revista Nature partiu do pressuposto de que, para cada esp\u00e9cie, existe um tipo de \u201cenvelope ambiental\u201d condi\u00e7\u00f5es de temperatura, precipita\u00e7\u00e3o (quantidade de chuva) e sazonalidade (varia\u00e7\u00e3o das esta\u00e7\u00f5es do ano) das quais a esp\u00e9cie depende para sobreviver.<\/p>\n\n\n\n

A partir disso, os pesquisadores criam modelos matem\u00e1ticos que levam em conta tais condi\u00e7\u00f5es e a distribui\u00e7\u00e3o atual das esp\u00e9cies numa regi\u00e3o. O algoritmo busca, fora dos pontos de ocorr\u00eancia das esp\u00e9cies, regi\u00f5es similares onde a esp\u00e9cie poderia ocorrer no presente e no futuro, usando as proje\u00e7\u00f5es do IPCC (Painel Internacional de Mudan\u00e7a Clim\u00e1tica, \u00f3rg\u00e3o da ONU) para daqui a 50 anos. N\u00f3s estudamos os efeitos de poss\u00edveis altera\u00e7\u00f5es sobre esp\u00e9cies de \u00e1rvores presentes no Cerrado.<\/p>\n\n\n\n

O que acontece \u00e9 que, em diversos casos, e de acordo com a intensidade de mudan\u00e7a ambiental gerada pelo aquecimento nos v\u00e1rios cen\u00e1rios futuristas estimados pelo IPCC, a \u00e1rea dispon\u00edvel para uma esp\u00e9cie pode encolher tanto que ela simplesmente pode ficar sem um ambiente prop\u00edcio para o seu desenvolvimento, podendo, em alguns casos, acabar se extinguindo. No pior dos cen\u00e1rios, isso poderia acabar acontecendo para 75 de um total de 163 esp\u00e9cies de \u00e1rvores do Cerrado, como a douradinha (Palicourea rigida) ou o murici (Byrsonima coccolobifolia).<\/p>\n\n\n\n

No entanto, h\u00e1 esperan\u00e7as. H\u00e1 grandes diferen\u00e7as nas extin\u00e7\u00f5es projetadas para aquecimento global m\u00ednimo ou m\u00e1ximo, de forma que a a\u00e7\u00e3o pol\u00edtica global ainda poderia salvar um n\u00famero enorme de esp\u00e9cies.<\/p>\n\n\n\n

As esp\u00e9cies n\u00e3o se tornam extintas no momento em que o clima muda. Portanto, reverter o aquecimento global poderia salvar algumas, ou talvez muitas, dessas esp\u00e9cies.<\/p>\n\n\n\n

O trabalho para entender como as vari\u00e1-veis clim\u00e1ticas e biol\u00f3gicas interagem com a distribui\u00e7\u00e3o das esp\u00e9cies est\u00e1 apenas no come\u00e7o, \u00e9 claro que com a adi\u00e7\u00e3o de mais dados biol\u00f3gicos e de vari\u00e1veis ambientais com resolu\u00e7\u00e3o mais detalhada, melhoraria muito a qualidade da informa\u00e7\u00e3o gerada pelas t\u00e9cnicas de modelagem.<\/p>\n\n\n\n

Mas o que pode ser feito de concreto para minimizarmos essas previs\u00f5es? Observando os dados apresentados no trabalho do Cerrado, podemos ver que as melhores \u00e1reas, do ponto de vista clim\u00e1tico, para preserva\u00e7\u00e3o dessas esp\u00e9cies, s\u00e3o aquelas mais ao sul da distribui\u00e7\u00e3o atual do bioma Cerrado, ou seja, as \u00e1reas do Mato Grosso do Sul, S\u00e3o Paulo, Sul de Minas Gerais e Norte do Paran\u00e1. Isso porque essas \u00e1reas, nas quais a maioria dessas esp\u00e9cies ocorrem hoje, ainda permaneceriam com um clima favor\u00e1vel para essas esp\u00e9cies.<\/p>\n\n\n\n

Esses resultados s\u00e3o importantes principalmente para uma tomada de consci\u00eancia a respeito da necessidade do pa\u00eds continuar (e principalmente ampliar) seus investimentos em pesquisa da biodiversidade. O Brasil \u00e9 muito grande e muito ainda existe para ser estudado em rela\u00e7\u00e3o a fauna, flora e microbiota. Al\u00e9m disso, \u00e9 preciso tamb\u00e9m investir no desenvolvimento de ferramentas de an\u00e1lises (por exemplo, modelagem) e de ambientes computacionais para que, com o que j\u00e1 temos de informa\u00e7\u00e3o dispon\u00edvel, podermos gerar subs\u00eddios para a tomada de decis\u00e3o sobre conserva\u00e7\u00e3o da biodiversidade no Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Marinez Ferreira de Siqueira (Bi\u00f3loga e Pesquisadora do Centro de Refer\u00eancia em Informa\u00e7\u00e3o Ambiental (CRIA) – Campinas)
\nRevista Eco 21, ano XV, N\u00ba 101, mar\u00e7o\/2005.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O estudo tomou por base a exist\u00eancia de \u201cenvelopes\u201d ambientais para cada esp\u00e9cie, ou seja, a id\u00e9ia de que uma s\u00e9rie de condi\u00e7\u00f5es, como precipita\u00e7\u00e3o, temperatura e sazonalidade influem na sobreviv\u00eancia daquele grupo de seres vivos. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1508],"tags":[498,23,74],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2137"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2137"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2137\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5597,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2137\/revisions\/5597"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2137"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2137"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2137"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}