Para melhor compreender a participa\u00e7\u00e3o brasileira nas negocia\u00e7\u00f5es do regime de mudan\u00e7as clim\u00e1ticas \u00e9 necess\u00e1rio salientar que no referente \u00e0s emiss\u00f5es de carbono o nosso pa\u00eds tem tr\u00eas grandes vantagens e uma grande desvantagem.<\/p>\n\n\n\n
As tr\u00eas vantagens s\u00e3o: ser um pa\u00eds de renda m\u00e9dia (estando fora dos compromissos obrigat\u00f3rios de redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es de carbono correspondentes aos pa\u00edses desenvolvidos), ter uma matriz energ\u00e9tica com forte peso da hidreletricidade (mais de 90% da eletricidade gerada a partir de fontes h\u00eddricas) e conseq\u00fcentemente muito limpa do ponto de vista das emiss\u00f5es estufa, e, possuir no seu territ\u00f3rio 16% das florestas mundiais (tendo grande import\u00e2ncia no ciclo global do carbono). A grande desvantagem \u00e9 ter uma grande emiss\u00e3o de carbono derivada do uso da queimada na agricultura tradicional e do desmatamento na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n
As emiss\u00f5es de carbono do Brasil s\u00e3o ao redor de 2,5% das mundiais: quase 25% s\u00e3o procedentes da ind\u00fastria e da agricultura modernas e 75% da agricultura tradicional, da convers\u00e3o de uso na fronteira agr\u00edcola e das atividades madeireiras ineficientes e\/ou predat\u00f3rias. Cerca de 80% da popula\u00e7\u00e3o brasileira est\u00e1 vinculada a atividades produtivas que n\u00e3o dependem de altas emiss\u00f5es de carbono e conseq\u00fcentemente tem uma taxa de emiss\u00f5es per capita e por unidade de PIB muito inferiores \u00e0 m\u00e9dia dos pa\u00edses desenvolvidos e emergentes, produto fundamentalmente do alto peso da hidreletricidade na matriz energ\u00e9tica.<\/p>\n\n\n\n
Aproximadamente 20% da popula\u00e7\u00e3o brasileira est\u00e1 ligada (direta ou indiretamente) \u00e0 agricultura tradicional, \u00e0 convers\u00e3o de uso da terra na fronteira agr\u00edcola e \u00e0 atividade madeireira ineficiente e\/ou predat\u00f3ria, e conseq\u00fcentemente, \u00e9 respons\u00e1vel por emiss\u00f5es de carbono per capita superiores a m\u00e9dia dos pa\u00edses emergentes e por unidade de PIB muito superiores a m\u00e9dia dos pa\u00edses desenvolvidos e emergentes.<\/p>\n\n\n\n
A pol\u00edtica amaz\u00f4nica federal do Presidente Fernando Henrique Cardoso tem tido as seguintes caracter\u00edsticas fundamentais: est\u00edmulo a grandes investimentos atrav\u00e9s do programa “Avan\u00e7a Brasil” (nas \u00e1reas de minera\u00e7\u00e3o, energia, madeira, soja e transportes); baixa capacidade de punir as queimadas e desmatamento ilegal das empresas madeireiras, dos latifundi\u00e1rios, dos colonos, do “Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra” e das popula\u00e7\u00f5es tradicionais; baixa capacidade de articular pol\u00edticas e incentivos para o desenvolvimento do setor biodiversidade\/biotecnologia que valorizariam os recursos da floresta promovendo o desenvolvimento de cadeias produtivas de alto valor agregado.<\/p>\n\n\n\n
Tamb\u00e9m se caracteriza pela baixa capacidade de promover o turismo ecol\u00f3gico nacional e internacional; pela incapacidade de controlar o avan\u00e7o do crime organizado derivado principalmente do tr\u00e1fico de drogas, armas, ouro e animais silvestres (isto se constitui no principal problema para a consist\u00eancia e efici\u00eancia das pol\u00edticas p\u00fablicas para a Amaz\u00f4nia); e, pela prioridade para o estabelecimento do SIVAM que provavelmente ter\u00e1 um impacto muito positivo em termos de controlar atividades ilegais e refor\u00e7ar o Estado de Direito.<\/p>\n\n\n\n
O crescimento da demanda por madeira do resto do pa\u00eds, a exist\u00eancia de vastos contingentes de popula\u00e7\u00f5es em condi\u00e7\u00f5es de pobreza com a conseq\u00fcente tend\u00eancia ao comportamento predat\u00f3rio, a corrup\u00e7\u00e3o em v\u00e1rios postos do IBAMA, e uma vis\u00e3o de curto prazo do desenvolvimento por parte das elites locais tem sido as causas fundamentais do desmatamento na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n
A taxa de desmatamento tem se mantido numa m\u00e9dia anual acima dos 15.000 Km\u00b2 por ano desde 1995, quando um uso racional da floresta demandaria menos de 5.000 Km\u00b2 por ano.<\/p>\n\n\n\n
A limitada disposi\u00e7\u00e3o e capacidade para coibir o desmatamento na Amaz\u00f4nia demonstrada pelo governo Cardoso (e pela maioria dos governos estaduais) tem limitado as potencialidades de lideran\u00e7a no Brasil no Protocolo de Kyoto. A coaliz\u00e3o pr\u00f3-desmatamento, predominante na Amaz\u00f4nia e com grande poder no Congresso, tem condicionado o desempenho do Brasil moderno.<\/p>\n\n\n\n
O regime de mudan\u00e7as clim\u00e1ticas \u00e9 um dos mais complexos e relevantes regimes internacionais porque implica profundas inter-rela\u00e7\u00f5es entre a economia global e o ambiente global, e nele existem nove pa\u00edses chaves.<\/p>\n\n\n\n
A despeito do clima pessimista que se instalou a partir de mar\u00e7o de 2001, causado pelo Presidente George W. Bush declarando morto o Protocolo de Kyoto, a maioria das quest\u00f5es principais pendentes da Confer\u00eancia de Haia(novembro 2000) foi negociada com sucesso nas Confer\u00eancias das Partes, realizadas em Bonn (julho 2001) e Marrakesh (novembro 2001).<\/p>\n\n\n\n
Para a realiza\u00e7\u00e3o do Acordo todas as partes contribu\u00edram: a Uni\u00e3o Europ\u00e9ia fez mais concess\u00f5es que em Haia; o G-77 moderou suas demandas; os pa\u00edses do “Grupo Guarda-chuva” abandonaram os EUA; as ONG\u00b4s procuraram qualquer acordo antes que um forte acordo; e, os EUA aceitaram sua derrota n\u00e3o bloqueando as negocia\u00e7\u00f5es. Pela primeira vez na hist\u00f3ria contempor\u00e2nea uma quest\u00e3o que n\u00e3o \u00e9 cl\u00e1ssica de seguran\u00e7a ou economia, ocupou um lugar principal na agenda dos principais pa\u00edses do mundo.<\/p>\n\n\n\n
Para usar uma f\u00f3rmula cl\u00e1ssica das rela\u00e7\u00f5es internacionais, a mudan\u00e7a clim\u00e1tica passou da baixa pol\u00edtica para a alta pol\u00edtica. Tamb\u00e9m pela primeira vez depois da II Guerra Mundial, os EUA e a Europa Ocidental se confrontaram numa quest\u00e3o de alta relev\u00e2ncia da arena internacional.<\/p>\n\n\n\n
E \u00e9 tamb\u00e9m a primeira vez que, no p\u00f3s-Guerra Fria, a posi\u00e7\u00e3o do governo estadunidense conta com uma forte oposi\u00e7\u00e3o dom\u00e9stica e internacional imbricadas.<\/p>\n\n\n\n
A atua\u00e7\u00e3o do Brasil no processo negociador do Protocolo de Kyoto (1996-2001) esteve orientada pela defini\u00e7\u00e3o do interesse nacional segundo quatro dimens\u00f5es principais, detalhadas a seguir:<\/p>\n\n\n\n
As caracter\u00edsticas espec\u00edficas do posicionamento brasileiro nas diversas quest\u00f5es do Protocolo de Kyoto podem ser consideradas cronologicamente como segue.<\/p>\n\n\n\n
A delega\u00e7\u00e3o brasileira esteve sob o comando do Minist\u00e9rio da Ci\u00eancia e Tecnologia (o presidente da Ag\u00eancia Espacial Brasileira, Gilv\u00e3o Meira Filho, teve um papel fundamental) nos aspectos substantivos e do Itamaraty nos aspectos do processo negociador. At\u00e9 1999, a Presid\u00eancia da Rep\u00fablica n\u00e3o considerou a negocia\u00e7\u00e3o do Protocolo de Kyoto uma quest\u00e3o importante sobre a qual tinha que interferir.<\/p>\n\n\n\n
A arena de defini\u00e7\u00e3o do posicionamento brasileiro foi muito restrito entre 1996 e 1999, quase sem participa\u00e7\u00e3o de governos estaduais, empres\u00e1rios ou ONGs.<\/p>\n\n\n\n
A partir do ano de 2000 o campo de defini\u00e7\u00e3o do posicionamento brasileiro se ampliou com a inclus\u00e3o em posi\u00e7\u00e3o secund\u00e1ria do Minist\u00e9rio do Meio Ambiente, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustent\u00e1vel – CEBDS, de alguns governos estaduais da Amaz\u00f4nia e de v\u00e1rias organiza\u00e7\u00f5es n\u00e3o-governamentais.<\/p>\n\n\n\n
Em junho de 2000, por iniciativa do Deputado F\u00e1bio Feldmann, foi criado oF\u00f3rum Brasileiro de Mudan\u00e7as Clim\u00e1ticas, de car\u00e1ter multissetorial reunindo diversos atores governamentais, empresariais, n\u00e3o-governamentais e acad\u00eamicos.<\/p>\n\n\n\n
Este F\u00f3rum tende a constituir-se numa inova\u00e7\u00e3o a escala internacional, tanto em termos de arena para a forma\u00e7\u00e3o do posicionamento nacional quanto de internalizar o regime de clima dentro do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n
A partir de outubro de 2000 o Minist\u00e9rio do Meio Ambiente e os governos de alguns estados Amaz\u00f4nicos questionaram o posicionamento hist\u00f3rico do Brasil contr\u00e1rio \u00e0 inclus\u00e3o do conjunto do Ciclo do Carbono no Protocolo (de sumidouros atrav\u00e9s de florestas e do manejo do solo).<\/p>\n\n\n\n
V\u00e1rias ONGs, particularmente as que tem forte atua\u00e7\u00e3o na Amaz\u00f4nia demandaram ativamente que o Brasil apoiasse a inclus\u00e3o de projetos relacionados a prote\u00e7\u00e3o de florestas prim\u00e1rias (evitando o desmatamento) no MDL. Contudo, o MCT e o Itamaraty continuaram predominando.<\/p>\n\n\n\n
O Brasil sempre teve uma posi\u00e7\u00e3o de lideran\u00e7a dentro do Grupo G-77\/China (grupo dos 77 pa\u00edses em desenvolvimento mais a China), embora tratando de constituir-se numa ponte entre este grupo e os pa\u00edses desenvolvidos, frente \u00e0 \u00cdndia, China, Indon\u00e9sia e Mal\u00e1sia, que assumiram em geral posi\u00e7\u00f5es de maior confronto com pa\u00edses desenvolvidos.<\/p>\n\n\n\n
Nosso pa\u00eds manteve uma posi\u00e7\u00e3o de colocar toda a responsabilidade pela redu\u00e7\u00e3o das emiss\u00f5es nos pa\u00edses desenvolvidos e opondo-se frontalmente aos compromissos de redu\u00e7\u00e3o da taxa de crescimento futuro das emiss\u00f5es por parte dos pa\u00edses emergentes.<\/p>\n\n\n\n
A posi\u00e7\u00e3o de lideran\u00e7a brasileira nesta quest\u00e3o levou a enfrentar-se com os pa\u00edses desenvolvidos (e particularmente com os Estados Unidos) em v\u00e1rias ocasi\u00f5es e com a Argentina em 1998\/99.<\/p>\n\n\n\n
O Brasil assumiu desde 1997 uma posi\u00e7\u00e3o principista ao levantar a doutrina de que as emiss\u00f5es de carbono deveriam ser calculadas diacronicamente em sua acumula\u00e7\u00e3o hist\u00f3rica desde fins do s\u00e9c. XVIII e n\u00e3o apenas sincronicamente a partir do ano-base de 1990.<\/p>\n\n\n\n
Embora esta posi\u00e7\u00e3o tenha contado com forte apoio da maioria dos pa\u00edses n\u00e3o-Anexo 1 (e tem sido um do pilares da lideran\u00e7a brasileira), n\u00e3o tem sido considerada seriamente pelos governos dos pa\u00edses do Anexo 1 e conseq\u00fcentemente n\u00e3o tem tido impacto, pelo menos at\u00e9 fins de 2001, no processo negociador.<\/p>\n\n\n\n
A proposta brasileira \u00e9 consistente em termos t\u00e9cnicos, leg\u00edtima do ponto de vista hist\u00f3rico e eq\u00fcitativa desde uma abordagem te\u00f3rica baseada em direitos universais da popula\u00e7\u00e3o mundial ao uso da atmosfera como um bem p\u00fablico global, mas pode ser considerada ut\u00f3pica por estar muito longe das realidades efetivas do poder mundial em in\u00edcio do s\u00e9c. XXI, contudo, \u00e9 prov\u00e1vel que a proposta brasileira acabe contribuindo para melhorar a capacidade de negocia\u00e7\u00e3o geral dos pa\u00edses emergentes quando se decida a quest\u00e3o dos seus compromissos de redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n
Em junho de 1997, o Brasil fez uma proposta original, o Fundo de Desenvolvimento Limpo (FDL), que estaria constitu\u00edda pelas multas pagas pelos pa\u00edses desenvolvidos que n\u00e3o cumprissem com as metas de redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es.<\/p>\n\n\n\n
Esta proposta teve forte apoio dos pa\u00edses emergentes, mas teve frontal oposi\u00e7\u00e3o de todos os pa\u00edses desenvolvidos. Em outubro de 1997, por\u00e9m, aconteceu um desdobramento inesperado: EUA e Brasil articularam uma vers\u00e3o alterada do FDL que se denominou Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).<\/p>\n\n\n\n
O MDL abriu a possibilidade dos pa\u00edses desenvolvidos cumprirem parte das suas metas de redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00e3o atrav\u00e9s do financiamento de projetos de desenvolvimento sustent\u00e1vel nos pa\u00edses emergentes e pobres. O MDL acabou sendo uma das grandes novidades do Protocolo e, atrav\u00e9s dele, o Brasil aceitou o conceito de mecanismos de mercado flexibilizadores para complementar os compromissos de redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es dos pa\u00edses desenvolvidos.<\/p>\n\n\n\n
Esta aceita\u00e7\u00e3o por parte do Brasil foi uma ruptura tanto com sua anterior oposi\u00e7\u00e3o \u00e0 Implementa\u00e7\u00e3o Conjunta (prevista na Confer\u00eancia das Na\u00e7\u00f5es Unidas sobre Meio ambiente e Desenvolvimento – Rio 92), quanto com sua oposi\u00e7\u00e3o as cotas de emiss\u00e3o comercializ\u00e1veis entre os pa\u00edses do Anexo 1 (que acabaram sendo estabelecidas no Protocolo).<\/p>\n\n\n\n
O MDL constitui-se num momento not\u00e1vel de colabora\u00e7\u00e3o entre diplomacias estadunidense e brasileira e numa vit\u00f3ria geral de ambas, porque atrav\u00e9s dele os pa\u00edses emergentes e pobres aceitaram o princ\u00edpio de mecanismos flexibilizadores de mercado para complementar os compromissos de redu\u00e7\u00e3o de emiss\u00f5es dos pa\u00edses desenvolvidos.<\/p>\n\n\n\n
O componente mais flex\u00edvel e criativo da posi\u00e7\u00e3o brasileira em todas as negocia\u00e7\u00f5es do Protocolo mostrou-se na capacidade de articular-se com a diplomacia estadunidense, em outubro de 1997, para transformar o invi\u00e1velFundo de Desenvolvimento Limpo no novedoso e promissor Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL.<\/p>\n\n\n\n
Entre 1999 e 2001, o Brasil liderou uma proposta vitoriosa para que o MDL seja o primeiro dos tr\u00eas mecanismos flexibilizadores a ser implementado, e, para que no seu Conselho Diretor os pa\u00edses emergentes e pobres tenham uma representa\u00e7\u00e3o mais forte que no GEF – Global Environment Facility.<\/p>\n\n\n\n
Com rela\u00e7\u00e3o aos sumidouros de carbono, o interesse nacional foi definido sempre de um modo defensivo: a Floresta Amaz\u00f4nica foi percebida como um \u00f4nus por causa do desmatamento e n\u00e3o como um trunfo por causa do servi\u00e7o global de seq\u00fcestro de carbono. O suposto impl\u00edcito dos negociadores brasileiros era que o pa\u00eds n\u00e3o conseguiria colocar um freio significativo no desmatamento na Amaz\u00f4nia. Isso levou o Brasil a se posicionar contra a inclus\u00e3o do conjunto do ciclo do carbono no Protocolo, temendo que no futuro, quando se estabele\u00e7am compromissos para os pa\u00edses emergentes, o Brasil possa vir a ter um grande passivo derivado do desmatamento na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n
A decis\u00e3o final pode analisar-se como um intermedi\u00e1rio para esse posicionamento brasileiro: de um lado Brasil e a Uni\u00e3o Europ\u00e9ia foram derrotados e os sumidouros de carbono passaram a fazer parte do Protocoloem geral, mas no referente ao MDL apenas o florestamento e o reflorestamento poder\u00e3o ser acreditados como atividade de seq\u00fcestro de carbono, ficando de fora do MDL as atividades orientadas a evitar o desmatamento de florestas prim\u00e1rias (nisto o Brasil e a Uni\u00e3o Europ\u00e9ia foram vitoriosos). Na quest\u00e3o da n\u00e3o-inclus\u00e3o das florestas prim\u00e1rias no MDL o Brasil ficou em minoria entre os pa\u00edses n\u00e3o-Anexo 1, particularmente na Am\u00e9rica Latina.<\/p>\n\n\n\n
Apesar de ser um pa\u00eds emergente com matriz energ\u00e9tica limpa, o Brasil assumiu uma alian\u00e7a geral com pa\u00edses emergentes com matriz energ\u00e9tica dependente de combust\u00edveis f\u00f3sseis (China, \u00cdndia e Indon\u00e9sia). A vantagem da matriz energ\u00e9tica ficou sempre subordinada a desvantagem do desmatamento na Amaz\u00f4nia na forma\u00e7\u00e3o da posi\u00e7\u00e3o brasileira. Por isso, Brasil aliou-se em geral com a Uni\u00e3o Europ\u00e9ia contra os pa\u00edses florestais com capacidade de controle do desmatamento (EUA, Canad\u00e1, Austr\u00e1lia, R\u00fassia, Jap\u00e3o, Chile, Costa Rica) na quest\u00e3o da inclus\u00e3o dos sumidouros de carbono na contabilidade de emiss\u00f5es e conseq\u00fcentemente na valoriza\u00e7\u00e3o do servi\u00e7o global prestado pelas florestas como seq\u00fcestradores de carbono. Uma vis\u00e3o alternativa\/positiva sobre a Amaz\u00f4nia teria levado o Brasil para uma alian\u00e7a inversa o que talvez teria tido influ\u00eancia significativa sobre o perfil final doProtocolo.<\/p>\n\n\n\n
O Brasil teve sempre uma posi\u00e7\u00e3o de forte lideran\u00e7a na quest\u00e3o da necessidade de novos fundos financeiros dos pa\u00edses desenvolvidos para o financiamento de transfer\u00eancia de tecnologias limpas e desenvolvimento de capacidades institucionais nos pa\u00edses em desenvolvimento e conseguiu um triunfo parcial a este respeito na Confer\u00eancia de Bonn (2001). A \u00eanfase brasileira na transfer\u00eancia facilitada de tecnologias produtivas limpas foi consistente com o objetivo geral da pol\u00edtica externa brasileira, durante o governo Cardoso, de promover a inser\u00e7\u00e3o competitiva do pa\u00eds na economia globalizada.<\/p>\n\n\n\n
As rela\u00e7\u00f5es entre Brasil e EUA no \u00e2mbito do Protocolo tornaram-se dif\u00edceis desde meados de 1999 devido ao confronto em v\u00e1rias quest\u00f5es relevantes: os EUA eram favor\u00e1veis a compromissos da redu\u00e7\u00e3o da taxa de crescimento futuro das emiss\u00f5es para os pa\u00edses emergentes no primeiro per\u00edodo (2010) e o Brasil era frontalmente contra; o Brasil era contr\u00e1rio a inclus\u00e3o das florestas nativas no MDL e os EUA a favor.<\/p>\n\n\n\n
Os EUA eram a favor de um regime de san\u00e7\u00f5es fraco e o Brasil apoiou a Uni\u00e3o Europ\u00e9ia num regime forte, o Brasil (apoiando a Uni\u00e3o Europ\u00e9ia) queria incluir limites nos sumidouros de carbono para os pa\u00edses desenvolvidos e os EUA eram contra.<\/p>\n\n\n\n
Desde a retirada dos EUA do Protocolo (mar\u00e7o de 2001) at\u00e9 a conclus\u00e3o das negocia\u00e7\u00f5es (novembro 2001), o Brasil teve uma atua\u00e7\u00e3o destacada, tanto na cr\u00edtica da posi\u00e7\u00e3o estadunidense quanto na promo\u00e7\u00e3o das negocia\u00e7\u00f5es entre os diversos blocos de pa\u00edses. O Brasil teve um papel de lideran\u00e7a na articula\u00e7\u00e3o da alian\u00e7a entre a Uni\u00e3o Europ\u00e9ia e os pa\u00edses emergentes que possibilitou o sucesso na negocia\u00e7\u00e3o final do Protocolo.<\/p>\n\n\n\n
Em v\u00e1rios discursos internacionais – antes e depois do 11 de setembro – o Presidente Fernando Henrique Cardoso criticou incisiva e consistentemente a pol\u00edtica unilateral do Governo Bush em rela\u00e7\u00e3o ao regime de mudan\u00e7as clim\u00e1ticas. Se compararmos as posi\u00e7\u00f5es relativas do Brasil e dos EUA com rela\u00e7\u00e3o aos problemas ambientais globais entre 1989 e 2001, pode-se dizer que houve uma invers\u00e3o que revela a evolu\u00e7\u00e3o positiva acontecida no Brasil (mesmo com as limita\u00e7\u00f5es ainda existentes): em 1989 o Governo Bush (pai) aliado dos outros pa\u00edses desenvolvidos criticava o Governo Sarney pela contribui\u00e7\u00e3o para as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas do alto desmatamento na Amaz\u00f4nia; em 2001 o Governo Cardoso, aliado a outros pa\u00edses desenvolvidos, criticava o Governo Bush pela falta de uma atitude respons\u00e1vel em rela\u00e7\u00e3o ao clima.<\/p>\n\n\n\n
Desde 2000 o Presidente Cardoso tem elevado o perfil da participa\u00e7\u00e3o brasileira no Protocolo de Kyoto e isto, no caso de continuar nos pr\u00f3ximos anos, promete bons frutos para o Brasil.<\/p>\n\n\n\n
A viabilidade de longo prazo do Protocolo de Kyoto depende de uma volta dos EUA ao regime e da aceita\u00e7\u00e3o de compromissos de redu\u00e7\u00e3o da taxa de crescimento futuro das emiss\u00f5es por parte dos pa\u00edses emergentes; as emiss\u00f5es poder\u00e3o continuar a crescer, mas a um ritmo menor.<\/p>\n\n\n\n
A posi\u00e7\u00e3o do Brasil ser\u00e1 provavelmente decisiva neste respeito j\u00e1 que entre os pa\u00edses emergentes chaves \u00e9 o melhor situado para avan\u00e7ar naquela dire\u00e7\u00e3o. Para isso, o Brasil teria que diminuir o desmatamento na Amaz\u00f4nia, uma meta que provavelmente contaria com o apoio da grande maioria da popula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n
Assim, uma coaliz\u00e3o para um uso mais racional da Floresta Amaz\u00f4nica teria impactos favor\u00e1veis n\u00e3o apenas internamente no Brasil, mas tamb\u00e9m para o prest\u00edgio (soft power) do Brasil no mundo e para a coopera\u00e7\u00e3o internacional em geral.<\/p>\n\n\n\n
Fonte: Eduardo Viola, Revista Eco 21, Ano XII, N\u00famero 66, Maio 2002 (www.eco21.com.br)<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"
As emiss\u00f5es de carbono do Brasil s\u00e3o ao redor de 2,5% das mundiais: quase 25% s\u00e3o procedentes da ind\u00fastria e da agricultura modernas e 75% da agricultura tradicional, da convers\u00e3o de uso na fronteira agr\u00edcola e das atividades madeireiras ineficientes e\/ou predat\u00f3rias. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1493],"tags":[742],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2108"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2108"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2108\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4555,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2108\/revisions\/4555"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2108"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2108"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2108"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}