{"id":2105,"date":"2009-03-12T09:55:10","date_gmt":"2009-03-12T09:55:10","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:14:47","modified_gmt":"2021-07-10T23:14:47","slug":"complexidade_e_sustentabilidade","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/gestao\/artigos\/complexidade_e_sustentabilidade.html","title":{"rendered":"Complexidade e Sustentabilidade"},"content":{"rendered":"\n

1. Introdu\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

No \u201cmundo em desenvolvimento\u201d, tanto quanto no \u201cmundo desenvolvido\u201d, v\u00e1rios fatores contribuem para o surgimento e agravamento dos problemas ambientais, tais como: o crescimento populacional, a industrializa\u00e7\u00e3o, a urbaniza\u00e7\u00e3o acelerada, a polui\u00e7\u00e3o e o esgotamento dos recursos naturais; sendo que a forma como estes fen\u00f4menos se organizam e se reproduzem vem causando uma degrada\u00e7\u00e3o crescente e de efeitos imprevis\u00edveis ao meio ambiente planet\u00e1rio \u2013 isto em fun\u00e7\u00e3o de at\u00e9 bem pouco tempo o meio ambiente ser considerado como um bem livre (e ainda o \u00e9) ou quase livre, o que \u00e9 conseq\u00fc\u00eancia da vis\u00e3o de mundo da sociedade ocidental capitalista, atualmente nomeada como \u201csociedade globalizada\u201d. <\/p>\n\n\n\n

Neste cen\u00e1rio criado pela a\u00e7\u00e3o humana, no qual o mundo contempor\u00e2neo \u00e9 desnudado em suas inten\u00e7\u00f5es de dom\u00ednio da natureza, ecologia, ecodesenvolvimento, desenvolvimento sustent\u00e1vel, economia ecol\u00f3gica e economia do estado-est\u00e1vel, entre outros l\u00e9xicos que comp\u00f5em o quadro te\u00f3rico-conceitual sobre o tema meio ambiente e desenvolvimento, mostram-se como sendo mais do que um movimento de \u201cmodismos\u201d intelectuais; expressam a crescente preocupa\u00e7\u00e3o dos diversos segmentos sociais com a constata\u00e7\u00e3o de que a organiza\u00e7\u00e3o social que emergiu desde a revolu\u00e7\u00e3o industrial, est\u00e1 colocando em cheque1 a sobreviv\u00eancia da esp\u00e9cie humana; como tamb\u00e9m, pondo em risco a sobreviv\u00eancia de centenas de milhares de outras esp\u00e9cies de seres vivos e, como se n\u00e3o fosse suficiente, o pr\u00f3prio meio ambiente \u00e9 colocado na \u201clinha de frente\u201d da a\u00e7\u00e3o-degrada\u00e7\u00e3o global ora em curso. <\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n
<\/div>\n\n\n\n

2. Desvelando o desenvolvimento<\/strong><\/p>\n\n\n\n

As inova\u00e7\u00f5es tecnol\u00f3gicas que perseguem a otimiza\u00e7\u00e3o do processo de produ\u00e7\u00e3o, via de regra, n\u00e3o levam em conta os efeitos nocivos sobre o meio ambiente \u2013 as externalidades, ou seja, os custos sociais devido \u00e0 polui\u00e7\u00e3o do meio externo \u00e0 planta industrial, como tamb\u00e9m, a deple\u00e7\u00e3o dos recursos naturais \u2013, o que fica claro, principalmente, quando os custos ambientais da atividade econ\u00f4mica ultrapassam a capacidade assimilativa do meio ambiente, que serve como espa\u00e7o de despejo de toda sorte de res\u00edduos \u2013 afinal, tem sido at\u00e9 agora, economicamente eficiente conduzir de forma ecologicamente ineficiente, o modelo de civiliza\u00e7\u00e3o vigente. <\/p>\n\n\n\n

Com o agravamento dos \u00edndices de polui\u00e7\u00e3o e seus efeitos nocivos \u00e0 sa\u00fade humana e aos diversos ecossistemas, surge nos pa\u00edses mais industrializados, uma maior press\u00e3o social sobre os problemas ambientais. A a\u00e7\u00e3o governamental, regra geral, atua atrav\u00e9s da demarca\u00e7\u00e3o de \u00e1reas de conserva\u00e7\u00e3o e preserva\u00e7\u00e3o ambientais, do estabelecimento de padr\u00f5es mais rigorosos de emiss\u00e3o de poluentes industriais, da internaliza\u00e7\u00e3o dos custos ambientais pagos em grau cada vez maior pelas atividades econ\u00f4micas que os produzem (repassando os custos aos consumidores), da cria\u00e7\u00e3o de equipamentos sofisticados de antipolui\u00e7\u00e3o e, tamb\u00e9m, do desenvolvimento de plantas industriais mais limpas com a conseq\u00fcente exporta\u00e7\u00e3o de ind\u00fastrias poluidoras para os pa\u00edses em desenvolvimento, levando a estes um \u201csurto\u201d de progresso. <\/p>\n\n\n\n

De fato, n\u00e3o h\u00e1 como negar a necessidade do desenvolvimento social da humanidade; mas, de qual esp\u00e9cie de desenvolvimento estamos falando? Como esse desenvolvimento vem sendo posto em pr\u00e1tica? E para quem \u00e9 realizado o desenvolvimento? Ser\u00e1 que as realiza\u00e7\u00f5es do desenvolvimento baseado na determina\u00e7\u00e3o do crescimento econ\u00f4mico est\u00e3o sendo t\u00e3o prodigiosas a ponto de n\u00e3o suscitarem um questionamento amplo e profundo em suas bases te\u00f3rico-conceituais? <\/p>\n\n\n\n

O que percebemos, atualmente, \u00e9 a emerg\u00eancia de uma s\u00e9rie de problem\u00e1ticas que est\u00e3o ligadas ao processo de desenvolvimento t\u00e9cnico-cient\u00edfico, de seus usos, de suas forma\u00e7\u00f5es, conforma\u00e7\u00f5es e transforma\u00e7\u00f5es, no e do meio ambiente natural e cultural. Este \u201cmosaico\u201d de problem\u00e1ticas \u00e9 designado em sentido amplo como quest\u00f5es ambientais \u2013 que englobam as diversas dimens\u00f5es da organiza\u00e7\u00e3o planet\u00e1ria. <\/p>\n\n\n\n

O eixo subjacente \u00e0 reflex\u00e3o te\u00f3rica que surge sob a \u00e9gide das quest\u00f5es ambientais \u00e9 a no\u00e7\u00e3o e, posteriormente, a constru\u00e7\u00e3o do conceito de desenvolvimento sustent\u00e1vel. <\/p>\n\n\n\n

O desenvolvimento sustent\u00e1vel vem sendo divulgado por todo o planeta como uma forma mais racional de prover uma qualidade de vida equ\u00e2nime e socialmente justa. Este conceito adquiriu maior express\u00e3o atrav\u00e9s do Relat\u00f3rio Brundtland \u2013 NOSSO FUTURO COMUM \u2013, encomendado pela ONU, e atrav\u00e9s da Confer\u00eancia UNCED-92 (Eco-92), realizada no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro em 1992. <\/p>\n\n\n\n

O conceito de desenvolvimento sustent\u00e1vel apresenta tr\u00eas n\u00edveis fundamentais, quais sejam: sustentabilidade da sociosfera, sustentabilidade da biosfera e sustentabilidade da ecosfera. Sendo que cada um destes subsistemas est\u00e1 interligado aos demais, alimentando perenemente o conceito de sustentabilidade atrav\u00e9s do princ\u00edpio da recursividade, n\u00e3o havendo, portanto, o privilegiamento de um n\u00edvel sobre os demais. <\/p>\n\n\n\n

Sustentabilidade \u00e9 o modo de sustenta\u00e7\u00e3o, ou seja, da qualidade de manuten\u00e7\u00e3o de algo. Este algo \u201csomos n\u00f3s\u201d, nossa forma de vida enquanto esp\u00e9cie biol\u00f3gica, individualidade ps\u00edquica e seres sociais. Obviamente, que tamb\u00e9m se inclui no princ\u00edpio da sustentabilidade, o meio ambiente – lato sensu – e as demais formas de vida do planeta \u2013 afinal, embora o ser humano possua autonomia de exist\u00eancia, n\u00e3o possui independ\u00eancia da natureza. Por mais que nos mostremos seres s\u00f3cioculturais, ainda somos, tamb\u00e9m, seres biol\u00f3gicos! <\/p>\n\n\n\n

3. Complexidade<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A grande quest\u00e3o com que nos defrontamos atualmente \u00e9 de como articularmos as v\u00e1rias informa\u00e7\u00f5es (cient\u00edficas e de outros campos do saber humano) em um todo consistente e coerente para mantermos uma uniformidade organizativa, sem sufocarmos a diversidade criativa do saber-fazer humano. Uma sugest\u00e3o para tal intento, s\u00e3o os estudos apoiados na Complexidade, elaborados, entre outros, por Edgar Morin, em sua obra intitulada, O M\u00e9todo, composta de quatro volumes, onde \u00e9 destacada (principalmente nos dois primeiros volumes) a import\u00e2ncia de uma organiza\u00e7\u00e3o pautada pelo macro-conceito de auto-eco-organiza\u00e7\u00e3o atrav\u00e9s dos princ\u00edpios da dial\u00f3gica, da recursividade organizacional e do princ\u00edpio hologram\u00e1tico, para se viabilizar uma sociedade sustent\u00e1vel. <\/p>\n\n\n\n

A auto-eco-organiza\u00e7\u00e3o, sucintamente, \u00e9 o entendimento de que todos os fen\u00f4menos de organiza\u00e7\u00e3o s\u00e3o de duas ordens: uma aut\u00f4noma e outra dependente. Na autonomia temos a concep\u00e7\u00e3o daquilo que \u00e9 interno ou pr\u00f3prio \u00e0 organiza\u00e7\u00e3o e que d\u00e1 a sua identidade enquanto tal. Na depend\u00eancia temos o entendimento dos diversos n\u00edveis de rela\u00e7\u00f5es; ou seja, da interdepend\u00eancia dos fen\u00f4menos organizacionais. A dial\u00f3gica \u00e9 o entendimento dos fen\u00f4menos como simultaneamente concorrentes, antag\u00f4nicos e complementares. A recursividade organizacional postula a n\u00e3o-linearidade da rela\u00e7\u00e3o causa e efeito, mas sim, o constante fluxo e refluxo, onde causas e efeitos se alternam como origens e conseq\u00fc\u00eancias dos fen\u00f4menos, gerando uma complexa sinergia. O princ\u00edpio hologram\u00e1tico diz respeito \u00e0 imbricada rela\u00e7\u00e3o entre a parte e o todo, onde o todo \u00e9 maior ou menor que a soma das partes, sendo que o todo cont\u00e9m a parte e nela est\u00e1 contido. <\/p>\n\n\n\n

O fen\u00f4meno organizacional deve ser visto, ent\u00e3o, como uma teia complexa, onde ordem e desordem est\u00e3o ligadas e comp\u00f5em a tessitura da pr\u00f3pria organiza\u00e7\u00e3o na sua sustentabilidade\/insustentabilidade atrav\u00e9s de ciclos que se reciclam, ora reprimindo, ora inovando o processo de auto-eco-organiza\u00e7\u00e3o. <\/p>\n\n\n\n

O princ\u00edpio da sustentabilidade, embora seja um conceito antropoc\u00eantrico, possui a dimens\u00e3o cr\u00edtica da necessidade de co-evolu\u00e7\u00e3o do ser humano e demais formas de vida, com e no meio ambiente natural e ambiente antr\u00f3pico, como o expressa t\u00e3o bem Fritjof Capra, em sua obra, A Teia da Vida, onde ressalta a necessidade da alfabetiza\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica da humanidade; ou seja, de uma pr\u00e1tica educativa transdisciplinar que seja precursora de um novo ser humano que possua de forma marcante e ineg\u00e1vel, a percep\u00e7\u00e3o e a consci\u00eancia da interdepend\u00eancia entre os sistemas bi\u00f3ticos e abi\u00f3ticos em seus v\u00e1rios n\u00edveis de rela\u00e7\u00f5es. A sustentabilidade, aqui, portanto, \u00e9 percebida como um exerc\u00edcio de simbiose e coopera\u00e7\u00e3o. <\/p>\n\n\n\n

Assim, temas como polui\u00e7\u00e3o, biodiversidade, explora\u00e7\u00e3o de recursos naturais renov\u00e1veis e n\u00e3o-renov\u00e1veis e efeitos clim\u00e1ticos complexos, devem ser relacionados (tanto para an\u00e1lise quanto para a implementa\u00e7\u00e3o de solu\u00e7\u00f5es) ao desemprego, pobreza e riqueza, inova\u00e7\u00f5es tecnol\u00f3gicas, valores culturais, organiza\u00e7\u00e3o pol\u00edtica e organiza\u00e7\u00e3o social. Ou seja, as dimens\u00f5es do social e do natural est\u00e3o imbricadas de tal forma, que o modo de apreens\u00e3o desses eventos \u00e9 de fundamental import\u00e2ncia, isto \u00e9, a percep\u00e7\u00e3o do observador (cient\u00edfico ou n\u00e3o) enquanto criador\/produtor, processo e criatura\/produto. <\/p>\n\n\n\n

Fica claro que pensar a sustentabilidade n\u00e3o \u00e9 tarefa apenas de um ramo cient\u00edfico, nem mesmo de um setor espec\u00edfico da sociedade. Tamb\u00e9m \u00e9 desvelada a condi\u00e7\u00e3o de insustentabilidade na qual nos encontramos e que por quase um s\u00e9culo, acreditamos ser plenamente vi\u00e1vel. <\/p>\n\n\n\n

Da\u00ed a necessidade de refletirmos que o conceito de desenvolvimento tem sido considerado de forma unidimensional de acordo com a pr\u00e1tica do crescimento econ\u00f4mico industrial ilimitado, quando na verdade, o desenvolvimento que \u00e9 posto em a\u00e7\u00e3o comporta uma multiplicidade de id\u00e9ias e concep\u00e7\u00f5es (conscientes ou n\u00e3o) que revelam a sua complexidade. Como exemplo, cito dois aspectos. <\/p>\n\n\n\n

Todo desenvolvimento significa des-envolver algo que est\u00e1 envolvido, ou seja, abrir, desfazer, destruir, para reorganizar e reenvolver o que foi des-envolvido em um novo padr\u00e3o, em uma nova estrutura, com outras propriedades e fun\u00e7\u00f5es. Este processo n\u00e3o pode ser considerado apenas de um ponto de vista do \u201cprogresso humano\u201d, do avan\u00e7o da t\u00e9cnica e do conhecimento cient\u00edfico, como se n\u00e3o houvesse o outro \u201clado da moeda\u201d, o subdesenvolvimento! <\/p>\n\n\n\n

O segundo aspecto \u00e9 justamente o subdesenvolvimento, o regresso que est\u00e1 contido na id\u00e9ia de desenvolvimento e progresso. Existe tanto o aspecto prejudicial da pr\u00f3pria t\u00e9cnica, como por exemplo, os dejetos radioativos da produ\u00e7\u00e3o nuclear, quanto \u00e0s seq\u00fcelas pol\u00edtico-ideol\u00f3gicas, t\u00e3o bem representadas na atualidade, pela divis\u00e3o econ\u00f4mica mundial. O problema \u00e9 que a id\u00e9ia de desenvolvimento industrial vem sendo apresentada como uma cren\u00e7a de salva\u00e7\u00e3o a todos os povos do planeta, obrigando-os a uma \u201cconvers\u00e3o\u201d ao padr\u00e3o considerado como \u201cverdadeiro\u201d. Por isso, temos que atentar para o uso do qualificativo sustent\u00e1vel agregado ao conceito de desenvolvimento, justamente em um momento em que o desenvolvimento \u00e9 desvelado em seu subdesenvolvimento (principalmente na esfera da \u00e9tica).<\/p>\n\n\n\n

4. Reciclagem e auto-eco-organiza\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A natureza se organiza em ciclos de reciclagem biogeoqu\u00edmicos que prov\u00eam a sua sustentabilidade; contudo a produ\u00e7\u00e3o crescente de res\u00edduos e as externalidades de origem antr\u00f3pica colocam em risco a reprodu\u00e7\u00e3o destes ciclos, e, por conseguinte, da pr\u00f3pria vida. <\/p>\n\n\n\n

Da\u00ed que a pista para se alcan\u00e7ar tamb\u00e9m a sustentabilidade da sociedade humana seja atrav\u00e9s de ciclos de reciclagem. Mas, reciclagem do qu\u00ea? Para se dar in\u00edcio a esta empreitada, comecemos pelo lixo, em seu aspecto material e energ\u00e9tico. Penso que \u00e9 uma boa escolha para refletirmos sobre o tema do meio ambiente e desenvolvimento porque, segundo Rosnay (1997:327): <\/p>\n\n\n\n

Diferentemente das leis de regula\u00e7\u00e3o que regem a biologia ou a ecologia, nossas sociedades industriais funcionam em \u201ccircuitos abertos\u201d, sem macroregula\u00e7\u00f5es. As cadeias de produ\u00e7\u00e3o e consumo s\u00e3o seq\u00fc\u00eancias, dando origem a detritos que se acumulam no meio ambiente. A press\u00e3o ecol\u00f3gica no decorrer dos \u00faltimos anos imp\u00f4s progressivamente o princ\u00edpio da reciclagem (fechamento de circuitos). Embora este esteja se generalizando, por enquanto s\u00f3 \u00e9 aplicado por um n\u00famero limitado de setores industriais. <\/p>\n\n\n\n

O que temos de compreender \u00e9 a necessidade urgente de organizarmos n\u00e3o apenas uma economia ecol\u00f3gica, mas uma reorganiza\u00e7\u00e3o antropossocial que se funde na premissa dos ciclos ecol\u00f3gicos; ou seja, devemos atentar para a constru\u00e7\u00e3o de uma sociedade planet\u00e1ria em que o macro-conceito de auto-eco-organiza\u00e7\u00e3o, seja n\u00e3o somente uma proposi\u00e7\u00e3o te\u00f3rica, mas tamb\u00e9m a materializa\u00e7\u00e3o de nossos projetos e a\u00e7\u00f5es, tanto de cunho individual quanto coletivo. <\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o se pode, portanto, prender a aten\u00e7\u00e3o apenas na reciclagem pontual de alguns exemplos isolados, mas sim, ampliar-se esta pr\u00e1xis (da reciclagem) \u00e0 dimens\u00e3o do social; tarefa nada f\u00e1cil de ser realizada, por\u00e9m urgente, j\u00e1 que o esgotamento da mat\u00e9ria\/energia do planeta e o aumento vertiginoso da entropia produzida pela nossa atual sociedade que se pauta pela cren\u00e7a (e a executa) em um crescimento ilimitado e ca\u00f3tico, est\u00e3o pondo em risco a sobreviv\u00eancia planet\u00e1ria da humanidade enquanto organiza\u00e7\u00e3o cultural.<\/p>\n\n\n\n

Logo, a pertin\u00eancia da reciclagem como uma pr\u00e1xis n\u00e3o s\u00f3 para o pr\u00f3ximo s\u00e9culo, como para este momento, pode ser enunciada como: a constru\u00e7\u00e3o de uma sociedade sustent\u00e1vel est\u00e1 relacionada \u00e0 reciclagem constante de seus res\u00edduos com vias \u00e0 reciclagem total atrav\u00e9s da operacionaliza\u00e7\u00e3o do conceito de auto-eco-organiza\u00e7\u00e3o2.<\/p>\n\n\n\n

A operacionaliza\u00e7\u00e3o proposta para tal intento, deve ser concebida atrav\u00e9s de dois requisitos b\u00e1sicos: configura\u00e7\u00e3o de modelos de reciclagem e constru\u00e7\u00e3o de um coeficiente de reciclagem. O primeiro faz refer\u00eancia aos aspectos qualitativos da organiza\u00e7\u00e3o social, o segundo funciona como par\u00e2metro quantitativo; ambos atuam como substrato emp\u00edrico das formula\u00e7\u00f5es te\u00f3ricas. <\/p>\n\n\n\n

Estes requisitos s\u00e3o \u201cpistas\u201d para a compreens\u00e3o do que possa vir a ser uma sociedade auto-eco-organizada, ou seja, segundo a concep\u00e7\u00e3o dos ciclos ecol\u00f3gicos, atingindo, assim, um status que se possa designar como sociedade sustent\u00e1vel. <\/p>\n\n\n\n

5. Considera\u00e7\u00f5es finais<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O desenvolvimento baseado no crescimento ilimitado do modo de produ\u00e7\u00e3o capitalista-industrial \u00e9 apenas um momento da organiza\u00e7\u00e3o antropossocial que se planetariza, e que traz (e trar\u00e1) conseq\u00fc\u00eancias imprevis\u00edveis a curto e m\u00e9dio prazo \u2013 efeitos que se originam aqu\u00e9m e al\u00e9m da tecnosfera produzida por esta pr\u00e1tica do crescimento ilimitado. <\/p>\n\n\n\n

Sabemos que os v\u00e1rios atores que comp\u00f5em o cen\u00e1rio mundial, possuem interesses e concep\u00e7\u00f5es diversas sobre desenvolvimento e sustentabilidade, e de como proceder para a implanta\u00e7\u00e3o dos mesmos. Mas o fato de estarmos no mesmo \u201cbarco\u201d, leva a uma responsabilidade comum \u00e0 constru\u00e7\u00e3o de uma realidade social que permita aos diversos sistemas sociais, persistirem de forma sustentada respeitando a diversidade de cada organiza\u00e7\u00e3o social. <\/p>\n\n\n\n

As transforma\u00e7\u00f5es cient\u00edficas nos d\u00e3o al\u00e9m do progresso t\u00e9cnico (e n\u00e3o h\u00e1 motivo para se desdenhar tais conquistas), os desequil\u00edbrios que amea\u00e7am os v\u00e1rios ecossistemas do planeta. Nunca antes na hist\u00f3ria humana o homem foi capaz de um poder, n\u00e3o de destrui\u00e7\u00e3o, mas de dizima\u00e7\u00e3o e exterm\u00ednio da totalidade dos seres vivos que habitam o planeta. Fora essa \u201ccapacidade\u201d gigantesca, a vida social est\u00e1 sendo deteriorada e levada \u00e0 decad\u00eancia \u00e9tica em propor\u00e7\u00f5es homeop\u00e1ticas, mas que est\u00e3o sendo aceleradas e ampliadas. Infelizmente a tomada de consci\u00eancia ainda \u00e9 lenta comparando-a com a velocidade dos acontecimentos desencadeados pelas revolu\u00e7\u00f5es do saber cient\u00edfico. <\/p>\n\n\n\n

Atualmente o homem transforma o globo terrestre em um \u201cgrande laborat\u00f3rio\u201d, do qual n\u00e3o possui um m\u00ednimo de controle. A atividade humana altera a litosfera, a hidrosfera, a atmosfera, a biosfera; extingue esp\u00e9cies, compostos org\u00e2nicos e inorg\u00e2nicos, diminuindo sensivelmente a biodiversidade em todo o planeta. Al\u00e9m disso, ensaia manipula\u00e7\u00f5es ao c\u00f3digo gen\u00e9tico, e para qu\u00ea? Qual o prop\u00f3sito desta aventura (ou desventura)? \u201cO progresso da ci\u00eancia n\u00e3o pode ser paralisado\u201d, eis o que respondem \u201cas vozes\u201d do saber cient\u00edfico, respaldadas pelas \u201cvozes\u201d do saber-fazer pol\u00edtico. Talvez tenham raz\u00e3o, n\u00e3o pelos motivos que julgam, mas por n\u00e3o saberem como parar o carro de Jagren\u00e1!3<\/p>\n\n\n\n

Mas ent\u00e3o, quais sistemas de id\u00e9ias estar\u00e3o sendo concebidos e aplicados dentro das alternativas atuais? Qual ou quais apresentam maiores possibilidades de se perpetuarem? Ser\u00e1 que a emerg\u00eancia de uma consci\u00eancia ambiental \u2013 se de fato caracterizada como tal \u2013 apontar\u00e1 para mudan\u00e7as globais? Ser\u00e1, ent\u00e3o, o pensamento complexo uma abordagem fecunda \u00e0s diversas quest\u00f5es e as tem\u00e1ticas relacionadas ao meio ambiente? Penso que a resposta a esta \u00faltima interroga\u00e7\u00e3o \u00e9 sim; pois, conforme Morin e Kern (1995 : 65), a terra n\u00e3o \u00e9 a adi\u00e7\u00e3o de um planeta f\u00edsico, mais a biosfera, mais a humanidade. A terra \u00e9 uma totalidade complexa f\u00edsica\/biol\u00f3gica\/antropol\u00f3gica, em que a vida \u00e9 uma emerg\u00eancia da hist\u00f3ria da vida terrestre. A vida \u00e9 uma for\u00e7a organizadora biof\u00edsica em a\u00e7\u00e3o na atmosfera que ela criou, sobre a terra, debaixo da terra, nos mares, onde ela se espalhou e se desenvolveu. A humanidade \u00e9 uma entidade planet\u00e1ria e biosf\u00e9rica. <\/p>\n\n\n\n

Estamos agora diante da necessidade de mudarmos a nossa concep\u00e7\u00e3o\/percep\u00e7\u00e3o de organiza\u00e7\u00e3o social, o que significa crise. Entretanto, a crise pode ser a oportunidade para a humanidade de cria\u00e7\u00e3o de novas formas organizativas do ser antropossocial; ou ent\u00e3o, de seu eclipse em mais um \u201cinverno glacial\u201d que poder\u00e1 ou n\u00e3o, suscitar uma nova \u201cchance\u201d de recome\u00e7armos a civiliza\u00e7\u00e3o humana sobre a superf\u00edcie do \u00fanico lar que temos, a Terra! A op\u00e7\u00e3o consciente ou n\u00e3o, \u00e9 nossa (da humanidade)! <\/p>\n\n\n\n

6. Notas<\/strong><\/p>\n\n\n\n

1 \u201cOrdem escrita, pela qual uma pessoa titular de uma conta de dep\u00f3sito, […] efetua, em proveito pr\u00f3prio ou em proveito de um terceiro, a retirada da totalidade ou de parte dos fundos lan\u00e7ados a seu cr\u00e9dito.\u201d (HOUAISS, Ant\u00f4nio (Ed.) (1979). Pequeno dicion\u00e1rio enciclop\u00e9dico koogan larousse. Rio de Janeiro : Editora Larousse do Brasil. P.187). Os \u201cfundos\u201d que est\u00e3o sendo retirados, dizem respeito \u00e0 deple\u00e7\u00e3o dos recursos naturais em proveito daqueles que se julgam propriet\u00e1rios do meio ambiente. <\/p>\n\n\n\n

2 \u201cA escolha de um fato ou caracter\u00edstica para representar um conceito abstrato \u00e9 conhecida como operacionaliza\u00e7\u00e3o do conceito\u201d (RICHARDSON, 1999 : 19).<\/p>\n\n\n\n

3 \u201cO termo vem do hindu Jagann\u00e3th, \u201csenhor do mundo\u201d, e \u00e9 um t\u00edtulo de Krishna; um \u00eddolo desta deidade era levado anualmente pelas ruas num grande carro, sob cuja rodas, conta-se atiravam-se seus seguidores para serem esmagados\u201d. Gidens utiliza-se desta met\u00e1fora para expressar a insensatez do mundo moderno; assim, o carro de Jagren\u00e1, significa \u201c[…] uma m\u00e1quina em movimento de enorme pot\u00eancia que, coletivamente como seres humanos, podemos guiar at\u00e9 certo ponto, mas que tamb\u00e9m amea\u00e7a escapar de nosso controle e poderia se espatifar. O carro de Jagren\u00e1 esmaga os que lhe resistem, e embora ele \u00e0s vezes parece ter um rumo determinado, h\u00e1 momentos em que ele guina erraticamente para dire\u00e7\u00f5es que n\u00e3o podemos prever\u201d (GIDDENS, Anthony (1991). As conseq\u00fc\u00eancias da modernidade. S\u00e3o Paulo: UNESP, p. 133 e 140).<\/p>\n\n\n\n

7. Refer\u00eancias Bibliogr\u00e1ficas<\/strong><\/p>\n\n\n\n

CAPRA, Fritjof (1997). A teia da vida: uma nova compreens\u00e3o cient\u00edfica dos sistemas vivos. S\u00e3o Paulo : Cultrix. <\/p>\n\n\n\n

MELLO, Reynaldo Fran\u00e7a Lins de (1999). Em busca da sustentabilidade da organiza\u00e7\u00e3o antropossocial atrav\u00e9s da reciclagem e do conceito de auto-eco-organiza\u00e7\u00e3o. Curitiba, UFPR (Disserta\u00e7\u00e3o). <\/p>\n\n\n\n

MORIN, Edgar. (S\/d). O m\u00e9todo I: A natureza da natureza. Portugal : Publica\u00e7\u00f5es Europa-Am\u00e9rica. ___ (S\/d). O m\u00e9todo II: a vida da vida. Portugal : Publica\u00e7\u00f5es Europa-Am\u00e9rica. <\/p>\n\n\n\n

MORIN, Edgar e KERN, Anne (1995). Terra-p\u00e1tria. Porto Alegre : Sulina. <\/p>\n\n\n\n

RICHARDSON, Robert Jarry (1999). Pesquisa social: m\u00e9todos e t\u00e9cnicas. S\u00e3o Paulo : Atlas. <\/p>\n\n\n\n

ROSNAY, Jo\u00ebl de (1997). O homem simbi\u00f3tico. Petr\u00f3polis : Vozes.<\/p>\n\n\n\n

Reynaldo Fran\u00e7a Lins de Mello
\nSoci\u00f3logo, doutorando em Hist\u00f3ria Social na USP<\/em>\n<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

No \u201cmundo em desenvolvimento\u201d, tanto quanto no \u201cmundo desenvolvido\u201d, v\u00e1rios fatores contribuem para o surgimento e agravamento dos problemas ambientais, tais como: o crescimento populacional, a industrializa\u00e7\u00e3o, a urbaniza\u00e7\u00e3o acelerada, a polui\u00e7\u00e3o e o esgotamento dos recursos naturais. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1493],"tags":[86,44],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2105"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=2105"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2105\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4608,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/2105\/revisions\/4608"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=2105"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=2105"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=2105"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}