{"id":2012,"date":"2009-03-12T17:02:46","date_gmt":"2009-03-12T17:02:46","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:14:28","modified_gmt":"2021-07-10T23:14:28","slug":"biodiversidade_ferramenta_para_a_competitividade","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/gestao\/artigos\/biodiversidade_ferramenta_para_a_competitividade.html","title":{"rendered":"Biodiversidade: ferramenta para a competitividade"},"content":{"rendered":"\n

O Brasil \u00e9 reconhecido no mundo inteiro como o pa\u00eds mais rico em termos de diversidade biol\u00f3gica. \u00c9 chegado o tempo de identificar maneiras e meios de como converter essa riqueza num instrumento para a competitividade, bem como numa base para responder \u00e0s necessidades b\u00e1sicas de todos os cidad\u00e3os em termos de \u00e1gua, alimenta\u00e7\u00e3o, abrigo, assist\u00eancia de sa\u00fade e energia. Neste texto se demonstrar\u00e1 que \u00e9 poss\u00edvel responder \u00e0s necessidades prementes, especialmente dos pobres e daqueles que vivem da terra, ao mesmo tempo em que se embarca num caminho co-evolutivo com a natureza. Os tr\u00eas casos nos quais colaboramos na busca de sucesso usando recursos biol\u00f3gicos est\u00e3o dispon\u00edveis nos ecossistemas brasileiros, eles s\u00e3o: o bambu, o arroz e o caf\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

A economia globalizada determina que a competitividade \u00e9 definida como a combina\u00e7\u00e3o mais eficaz de m\u00e3o-de-obra, capital e produtividade material. Na realidade, ainda que a atual l\u00f3gica econ\u00f4mica seja dominada pelo conceito \u201cproduto gerado por trabalhador por hora\u201d ou pela produtividade de m\u00e3o-de-obra, ou pela produtividade de capital, o valor atribu\u00eddo \u00e0s mat\u00e9rias-primas \u00e9 considerado trivial na equa\u00e7\u00e3o da economia mundial. Embora isso possa fazer sentido do ponto de vista das na\u00e7\u00f5es industrializadas, onde o custo real dos materiais de insumo \u00e9 marginal (por exemplo, o valor adicionado de mat\u00e9rias-primas num rel\u00f3gio \u00e9 menos de 3%) e onde a diversidade biol\u00f3gica \u00e9 muito pobre, a equa\u00e7\u00e3o muda completamente quando consideramos as oportunidades para o mundo em desenvolvimento. A riqueza em diversidade biol\u00f3gica oferece oportunidades de desenvolvimento \u00fanicas que s\u00e3o desconhecidas e, portanto, inexploradas na economia mundial que \u00e9 dominada por na\u00e7\u00f5es caracterizadas \u201cquatro esta\u00e7\u00f5es\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Do Norte industrializado, caracterizado por uma pobre diversidade biol\u00f3gica, n\u00e3o se pode esperar que d\u00ea aten\u00e7\u00e3o priorit\u00e1ria \u00e0 riqueza de recursos naturais, nem podem os economistas e especialistas em desenvolvimento imaginar como uma economia pode viver de sua riqueza natural. Pa\u00edses como o Brasil, que t\u00eam uma vasta reserva de diversidade biol\u00f3gica, podemos cham\u00e1-la mesmo de mega-diversidade, baseados na imensa variedade de esp\u00e9cies dispon\u00edveis, poderiam redefinir sua posi\u00e7\u00e3o competitiva. Essa diversidade biol\u00f3gica inclui os animais e plantas que est\u00e3o bem documentados, mas tamb\u00e9m deve cobrir os bem menos conhecidos fungos, algas e bact\u00e9rias. Segundo an\u00e1lises inovadoras e competitivas, a for\u00e7a de uma economia n\u00e3o \u00e9 determinada pela mera disponibilidade de fatores insumos. A for\u00e7a da economia brasileira \u00e9 determinada por sua diversidade, e a intera\u00e7\u00e3o din\u00e2mica entre os componentes mais d\u00edspares dos \u201cCinco Reinos da Natureza\u201d.<\/p>\n\n\n\n

A gera\u00e7\u00e3o de empregos, a capacidade de responder \u00e0s necessidades locais, a capacidade de gerar dinheiro e a capacidade de construir capital social s\u00e3o considerados quatro componentes chave para determinar a resist\u00eancia social e econ\u00f4mica \u00faltimas da economia local. O vetor \u00e9 a busca de n\u00edveis mais altos de produtividade, especialmente de produtividade material. Uma vez que a economia brasileira se caracteriza por uma abund\u00e2ncia de biodiversidade, de abund\u00e2ncia de m\u00e3o-de-obra, e de escassez de capital, a estrat\u00e9gia de desenvolvimento deve, conseq\u00fcentemente, basear-se naqueles tr\u00eas componentes.<\/p>\n\n\n\n

Imaginem simplesmente o uso do bambu como uma ferramenta para a gera\u00e7\u00e3o de empregos e com capacidade para responder \u00e0s necessidades locais. Em Macei\u00f3, a Funda\u00e7\u00e3o Brasil ZERI negociou com as usinas de a\u00e7\u00facar a convers\u00e3o das partes menos produtivas da planta\u00e7\u00e3o numa \u00e1rea remanescente da Mata Atl\u00e2ntica. Embora a popula\u00e7\u00e3o local se opusesse a essa decis\u00e3o, temendo perdas adicionais de empregos nas planta\u00e7\u00f5es de cana-de-a\u00e7\u00facar, a iniciativa mereceu o benef\u00edcio da d\u00favida. O reflorestamento com cerca de 40 diferentes esp\u00e9cies exige paci\u00eancia e vis\u00e3o. A inclus\u00e3o de uma esp\u00e9cie nativa de bambu de r\u00e1pido crescimento foi um golpe de mestre. Com efeito, o pequeno bambu poderia ser colhido dentro de um par de meses e tornou-se a mat\u00e9ria-prima do \u201cProjeto Cabide\u201d, a fabrica\u00e7\u00e3o de cabides a partir de materiais locais.<\/p>\n\n\n\n

O cabide foi concebido por Lucio Ventania, um criativo artista de Belo Horizonte que imaginou a produ\u00e7\u00e3o de cabides sem o uso de qualquer cola ou metal. Uma vez que o bambu, que \u00e9 uma gram\u00ednea e n\u00e3o uma \u00e1rvore, pode ser colhido em poucos meses.<\/p>\n\n\n\n

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Programa Bambu<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O \u201cPrograma Bambu\u201d foi inspirado num projeto ligado ao bambu compar\u00e1vel, realizado na Col\u00f4mbia. A esp\u00e9cie local de bambu, chamada Guadua angustifolia, tornou-se o elemento central de um programa de habita\u00e7\u00e3o pelo qual a capacidade de fazer juntas de bambu, segundo os c\u00f3digos alem\u00e3es de constru\u00e7\u00e3o, tornou-se uma ferramenta importante para o desenvolvimento de habita\u00e7\u00f5es sociais. Segundo o Smithsonian Institute h\u00e1 cerca de 2.000 esp\u00e9cies de bambu. O Brasil e a Col\u00f4mbia t\u00eam a maior diversidade. As variedades colombianas s\u00e3o ideais para a constru\u00e7\u00e3o e os testes cient\u00edficos financiados pela Funda\u00e7\u00e3o ZERI demonstraram que os bambus mais fortes superariam \u00e0 for\u00e7a de tens\u00e3o e de compress\u00e3o do a\u00e7o e do cimento.<\/p>\n\n\n\n

Esta \u00e9 uma conclus\u00e3o dram\u00e1tica. O bambu \u00e9 um material natural, considerado pelos mais pobres dos pobres como um s\u00edmbolo de sua pobreza. Mas, segundo relat\u00f3rios cient\u00edficos dos engenheiros alem\u00e3es da \u00e1rea de constru\u00e7\u00e3o, o bambu atende a todos os padr\u00f5es e normas dos c\u00f3digos de constru\u00e7\u00e3o da Alemanha, uma na\u00e7\u00e3o que n\u00e3o planta qualquer esp\u00e9cie nativa. <\/p>\n\n\n\n

A din\u00e2mica do bambu \u00e9 at\u00e9 mesmo mais impressionante. Quando se considera que em meros cem metros quadrados \u00e9 poss\u00edvel colher suficiente bambu para \u201ccriar\u201d uma casa a cada ano. Isso proporciona uma nova vis\u00e3o de como responder \u00e0s necessidades habitacionais em algumas regi\u00f5es onde o uso de blocos de cimento e de telhados de zinco oferece abrigo, mas raramente um lar.<\/p>\n\n\n\n

Imaginem simplesmente que cerca de 100 bambus de 9 metros s\u00e3o suficientes para proporcionar a estrutura para a moradia social. Uma casa de dois andares, com uma grande sacada, com cerca de 67 metros quadrados de espa\u00e7o \u00fatil e um custo de constru\u00e7\u00e3o quando o pr\u00f3prio propriet\u00e1rio constr\u00f3i se limita a meros 1.750 d\u00f3lares. A moradia social \u00e9 vital, e proporcionar abrigo a todos \u00e9 um dever. Assim, o conceito de \u201cplante sua pr\u00f3pria casa\u201d baseado em sistemas inovadores de constru\u00e7\u00e3o e em t\u00e9cnicas de preserva\u00e7\u00e3o \u00e9 uma revolu\u00e7\u00e3o. Mais ainda, uma vez que seu financiamento pode ser parcialmente garantido atrav\u00e9s da venda de direitos de seq\u00fcestro de carbono. Com efeito, uma vez que o bambu \u00e9 capaz de reter 40 vezes mais di\u00f3xido de carbono por hectare por ano do que qualquer \u00e1rvore, a promo\u00e7\u00e3o da moradia social usando bambu equivale \u00e0 estabiliza\u00e7\u00e3o do clima.<\/p>\n\n\n\n

A chave do sucesso \u00e9 a preserva\u00e7\u00e3o de bambu. Em coopera\u00e7\u00e3o com cientistas japoneses, os colombianos refinaram a t\u00e9cnica do bambu defumado. Basicamente a parte do bambu que n\u00e3o \u00e9 usada para constru\u00e7\u00e3o (40%) \u00e9 convertida em carv\u00e3o. A inova\u00e7\u00e3o \u00e9 que os gases liberados nesse processo s\u00e3o capturados, destilados, purificados e re-evaporados no pr\u00f3prio bambu. Como resultado, o bambu \u00e9 preservado por sua pr\u00f3pria bioqu\u00edmica. O efeito \u00e9 simples: os produtos qu\u00edmicos t\u00f3xicos s\u00e3o substitu\u00eddos por agentes naturais de preserva\u00e7\u00e3o, a casa de bambu tem um per\u00edodo de vida de 5 a 50 anos, aumentando a base de capital, gerando empregos locais e reduzindo o uso de materiais n\u00e3o-sustent\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

O pr\u00f3ximo passo \u00e9 a elimina\u00e7\u00e3o do amianto e de suas fibras substitutas por fibras de bambu. Uma vez que o refor\u00e7o de placas de cimento com fibras minerais \u00e9 a norma, o uso de fibras vegetais tem sido considerado invi\u00e1vel pela simples raz\u00e3o de que a presen\u00e7a de a\u00e7\u00facares inibe a cristaliza\u00e7\u00e3o perfeita do cimento. No entanto, um estudo cuidadoso de fungos que vivem no bambu permitiu a produ\u00e7\u00e3o de um \u201ciogurte\u201d que libera quantidades maci\u00e7as de enzimas que destroem todos os a\u00e7\u00facares. Isso torna as fibras de bambu um substituto ideal para o amianto. A primeira dessas f\u00e1bricas foi criada nos arredores de Jacarta, na Indon\u00e9sia, atrav\u00e9s de um investimento japon\u00eas.<\/p>\n\n\n\n

Abordagem sist\u00eamica dos alimentos<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A concep\u00e7\u00e3o de um conglomerado de atividades em torno do bambu, que inclui um programa de moradia social seq\u00fcestrador de di\u00f3xido de carbono, ao mesmo tempo em que promove a efici\u00eancia e a beleza, com base numa concep\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica, n\u00e3o \u00e9 apenas socialmente respons\u00e1vel, \u00e9 tamb\u00e9m economicamente vi\u00e1vel e reflete a riqueza em cultura e artes.<\/p>\n\n\n\n

O que surge \u00e9 um conglomerado de atividades s\u00f3cio-econ\u00f4micas que transforma o bambu economicamente \u201cinativo\u201d num motor de desenvolvimento. \u00c9 na mesma linha de pensamento que se pode come\u00e7ar a reavaliar v\u00e1rios ecossistemas e imaginar um programa econ\u00f4mico que responda rapidamente \u00e0s necessidades das pessoas. Outro conglomerado de atividades deste tipo foi desenvolvido em torno do caf\u00e9.<\/p>\n\n\n\n

O pre\u00e7o do caf\u00e9 no mercado mundial caiu a seu n\u00edvel mais baixo em seus 100 anos de hist\u00f3ria. O bambu n\u00e3o \u00e9 usado de modo algum, mas o caf\u00e9 somente \u00e9 usado marginalmente. Na realidade somente 0,2% do que qualquer cafeicultor produz termina na x\u00edcara de caf\u00e9, o resto \u00e9 considerado dejeto. Um programa nas fazendas e em cidades do interior da Col\u00f4mbia transformou essa maci\u00e7a corrente de dejetos, ou melhor, esse volume maci\u00e7o de biomassa n\u00e3o utilizada numa fonte de prote\u00ednas. Na realidade, os programas de desenvolvimento regional na Regi\u00e3o do Caf\u00e9 – Pereira, Armenia, e Manizales – prev\u00ea que at\u00e9 60% da seguran\u00e7a alimentar local para crian\u00e7as ser\u00e3o gerados a partir de dejetos do caf\u00e9, tanto nas fazendas quanto nas unidades de beneficiamento quanto nas casas.<\/p>\n\n\n\n

O caf\u00e9 \u00e9 rico em cafe\u00edna. No entanto seus dejetos, ricos em fibras e prote\u00ednas, nunca foram considerados apropriados para uso como forragem, uma vez que a cafe\u00edna provocaria estresse nas vacas tanto quanto o excesso dele provoca em qualquer ser humano. No entanto, uma s\u00e9rie de cogumelos vive melhor em substratos ricos em cafe\u00edna; isto \u00e9 especialmente verdadeiro para o shiitake (Lentinula edodes), um cogumelo tropical reconhecido por sua riqueza em amino\u00e1cidos essenciais e em componentes nutarroz\u00faticos, como terpenoides e prote\u00ednas polisacar\u00eddeas.<\/p>\n\n\n\n

Tradicionalmente, o shiitake \u00e9 cultivado em madeiras de lei como o carvalho. Isso tem levado a esquemas maci\u00e7os de desmatamento na China, onde o shiitake e os cogumelos tropicais correlatos agora representam uma ind\u00fastria de exporta\u00e7\u00e3o de aproximadamente 1,7 bilh\u00f5es de d\u00f3lares. Os dejetos do caf\u00e9 s\u00e3o um substrato ideal para cultivar nas hortas escolares os cogumelos shiitake.<\/p>\n\n\n\n

O cultivo de cogumelos na cidade de Manizales, na Col\u00f4mbia, levou \u00e0 cria\u00e7\u00e3o de empregos em favelas. Os dejetos do caf\u00e9 local s\u00e3o fermentados, inoculados, transformando edif\u00edcios n\u00e3o utilizados em unidades agr\u00edcolas urbanas onde cooperativas geram empregos e alimentos. Os cogumelos s\u00e3o integrados ao programa de merenda escolar, assegurando prote\u00ednas para as crian\u00e7as, ao mesmo tempo em que proporcionam renda para as m\u00e3es. O cultivo de cogumelos exige higiene, que \u00e9 prontamente aceita, uma vez que o cultivo agora \u00e9 para gera\u00e7\u00e3o de renda. A quantidade de dejetos org\u00e2nicos \u00e9 reduzida, melhoram-se as condi\u00e7\u00f5es de sa\u00fade, enquanto se minimiza o volume de lixo coletado. Os dejetos do cultivo de cogumelos n\u00e3o cont\u00eam cafe\u00edna e s\u00e3o ricos em prote\u00ednas, enquanto que as fibras geralmente j\u00e1 foram trituradas. Agora \u00e9 uma boa forragem. Os programas de hortas em escolas est\u00e3o adaptados ao cultivo de cogumelos. As crian\u00e7as nas aulas, tanto dentro quanto fora da cidade, aprendem como transformar os dejetos da escola em alimentos; eles s\u00e3o convertidos numa deliciosa refei\u00e7\u00e3o uma vez por semana. As crian\u00e7as, desde as tenras idades de 4 e 5 anos no jardim da inf\u00e2ncia aprendem desde cedo que a natureza \u00e9 abundante.<\/p>\n\n\n\n

O conglomerado do arroz no Sul do Brasil<\/strong><\/p>\n\n\n\n

A abordagem ZERI sugere que tudo o que \u00e9 dejeto para um \u00e9 alimento para outro, mesmo que perten\u00e7a a outro reino da natureza. \u00c9 esse cascatear de mat\u00e9ria e energia que torna a capacidade de regenera\u00e7\u00e3o dos ecossistemas t\u00e3o forte. \u00c9 nossa falta de entendimento de como os \u201cCinco Reinos da Natureza\u201d se interligam e continuam – na temperatura e na press\u00e3o do ambiente – a converter restos e recursos n\u00e3o utilizados em nutrientes, reservas, energia e estrutura para outros. A estrat\u00e9gia empresarial central, que domina a atual l\u00f3gica dos neg\u00f3cios, torna imposs\u00edvel considerar um tal conglomerado de atividades econ\u00f4micas. Embora seja exatamente esse conglomerado que permite que a economia local responda \u00e0s necessidades da comunidade.<\/p>\n\n\n\n

Um programa desse tipo \u00e9 o uso da \u00e1gua da irriga\u00e7\u00e3o de planta\u00e7\u00f5es de arroz para o cultivo de algas do tipo spirulina. Os casos anteriores demonstraram a inter-rela\u00e7\u00e3o entre plantas, animais e fungos. Agora isso se enriquece mais ainda com a oportunidade oferecida pelas algas. A Spirulina platensis se desenvolve em ambiente alcalino. <\/p>\n\n\n\n

\u00c9 rica em betacaroteno e apenas uma grama por dia proporciona uma s\u00e9rie de minerais que proporcionam os nutrientes b\u00e1sicos que uma crian\u00e7a necessita para se desenvolver. A capacidade de assegurar sa\u00fade e nutrientes originalmente foi demonstrada na regi\u00e3o do Lago Chade (\u00c1frica) e a spirulina rapidamente se tornou o suprimento alimentar favorito dos hippies nos anos sessenta. Devido a chuvas \u00e1cidas decorrentes da polui\u00e7\u00e3o descontrolada do ar, h\u00e1 poucas condi\u00e7\u00f5es naturais para que as algas se possam desenvolver. Uma das principais exce\u00e7\u00f5es \u00e9 a ponta meridional do Brasil, hoje caracterizada por uma crise no cultivo do arroz.<\/p>\n\n\n\n

Se considerarmos somente o pre\u00e7o do mercado mundial para o arroz, ent\u00e3o os rizicultores do Sul do Brasil est\u00e3o em crise. Realmente, a um pre\u00e7o de meros 200 d\u00f3lares por tonelada, n\u00e3o h\u00e1 possibilidade de sobreviv\u00eancia para os trabalhadores. Mas se considerarmos o ecossistema em que o arroz \u00e9 um componente central, ent\u00e3o surge um amplo leque de oportunidades: a \u00e1gua \u00e9 muit\u00edssimo adequada para o cultivo das algas, a palha de arroz \u00e9 ideal para cogumelos que se criam na palha (Volvariella volvacae), as espigas de arroz s\u00e3o uma rica fonte de sil\u00edcio com o qual pode-se fazer janelas n\u00e3o-transparentes, os dejetos da fazenda, inclusive os cogumelos, s\u00e3o alimentos para animais, o esterco dos animais gera biog\u00e1s, os l\u00edquidos digestivos proporcionam alimenta\u00e7\u00e3o adicional para as algas e a \u00e1gua residual \u00e9 excelente alimenta\u00e7\u00e3o para os peixes… n\u00e3o h\u00e1 simplesmente fim na generosa gera\u00e7\u00e3o de alimentos fornecidos pela natureza. N\u00e3o h\u00e1 qualquer raz\u00e3o para se ter fome no Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Qual \u00e9 o elo que falta? O bambu!<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Com efeito, as algas n\u00e3o cresciam porque a terra plana recebia muitos ventos, portanto h\u00e1 que se construir uma prote\u00e7\u00e3o. Quando as tendas tradicionais n\u00e3o podiam resistir ao fustigar constante dos ventos, o plantio de bambu mostrou ser uma solu\u00e7\u00e3o ideal. Quando nos damos conta do poder da natureza, da l\u00f3gica dos sistemas, dos arcos din\u00e2micos de retroalimenta\u00e7\u00e3o que nos d\u00e1 o nosso entendimento de como a natureza integra e separa sem a gera\u00e7\u00e3o de dejetos, ent\u00e3o podemos imaginar as maneiras e os meios para responder \u00e0s necessidades das pessoas em co-evolu\u00e7\u00e3o com a natureza. Esta estrat\u00e9gia proporciona \u00e1gua e alimentos, garante a gera\u00e7\u00e3o de capital social e tamb\u00e9m consolida a no\u00e7\u00e3o de comunidade que d\u00e1 for\u00e7a \u00e0s pessoas. O atual sistema econ\u00f4mico pode ser o melhor que tenhamos imaginado, mas h\u00e1 certamente muito espa\u00e7o para melhorias.<\/p>\n\n\n\n

Zero Emissions Research and Initiatives – ZERI, \u00e9 uma rede internacional de acad\u00eamicos, empres\u00e1rios, governos e educadores que trabalha com quest\u00f5es ligadas \u00e0 \u00e1gua, alimentos, sa\u00fade, abrigo, energia, educa\u00e7\u00e3o e empregos, a defini\u00e7\u00e3o cl\u00e1ssica de desenvolvimento sustent\u00e1vel \u00e9 \u201cinsustent\u00e1vel\u201d. Segundo ele, dizer que a sustentabilidade se resume a garantir a satisfa\u00e7\u00e3o das gera\u00e7\u00f5es atuais e tamb\u00e9m das futuras \u00e9 insuficiente. \u201cPrecisamos atender \u00e0s necessidades de todas as esp\u00e9cies que sobrevivem pela co-evolu\u00e7\u00e3o, n\u00e3o s\u00f3 do Homem\u201d, comentou Pauli.<\/p>\n\n\n\n

Gunter Pauli – Economista e empres\u00e1rio, presidente da Zero Emissions Research and Initiatives – ZERI
\nFonte: Revista Eco 21, Ano XIII, Edi\u00e7\u00e3o 82, Setembro 2003. (www.eco21.com.br)
\n<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"