{"id":1987,"date":"2009-03-12T15:52:07","date_gmt":"2009-03-12T15:52:07","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:14:40","modified_gmt":"2021-07-10T23:14:40","slug":"os_3_fatores_da_sustentabilidade","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/gestao\/artigos\/os_3_fatores_da_sustentabilidade.html","title":{"rendered":"Os 3 fatores da sustentabilidade"},"content":{"rendered":"\n

No recente semin\u00e1rio Amazontech 2004 foram abordadas, simultaneamente, quest\u00f5es de meio ambiente, capacita\u00e7\u00e3o humana, inclus\u00e3o social, inclus\u00e3o racial, infra-estrutura, log\u00edstica e tecnologia. Esta abordagem se deve ao fato de todos esses fatores, juntos, contribu\u00edrem para o crescimento sustent\u00e1vel e eq\u00fcitativo e para a melhoria do bem-estar da popula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Este \u00e9 um momento prop\u00edcio para abordar essas quest\u00f5es no Brasil. Temos previs\u00f5es de crescimento econ\u00f4mico em torno de 4% este ano. Quando um pa\u00eds come\u00e7a a crescer depois de anos de fraco desempenho, a quest\u00e3o central \u00e9 se esse crescimento ser\u00e1 sustent\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

Tr\u00eas fatores interligados determinar\u00e3o a sustentabilidade do novo ciclo de crescimento no qual o Brasil embarca. O primeiro \u00e9 competitividade; o segundo \u00e9 inclus\u00e3o social; e o terceiro \u00e9 sustentabilidade ambiental.<\/p>\n\n\n\n

Do lado da competitividade, o Brasil tem um dos povos mais empreendedores do mundo, mas tamb\u00e9m duas vezes o n\u00famero de procedimentos e demoras burocr\u00e1ticas que outros pa\u00edses da Am\u00e9rica Latina. Para sustentar o crescimento econ\u00f4mico, \u00e9 necess\u00e1rio implementar reformas do clima de neg\u00f3cios.<\/p>\n\n\n\n

Do lado social, para sustentar crescimento acima de 4% ao ano, \u00e9 preciso incluir os mais carentes no processo de reformas, visto que \u00e9 uma grande parte da popula\u00e7\u00e3o brasileira.<\/p>\n\n\n\n

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Do lado ambiental, a sustentabilidade do crescimento exige o manejo sustent\u00e1vel dos recursos naturais, dado que esses recursos contribuem expressivamente para renda dos pobres. Os v\u00ednculos entre crescimento econ\u00f4mico, inclus\u00e3o social e sustentabilidade ambiental s\u00e3o especialmente importantes para a regi\u00e3o Amaz\u00f4nica. Dez milh\u00f5es de pessoas vivem na regi\u00e3o, 18% dos quais s\u00e3o extremamente pobres, com indicadores sociais abaixo da m\u00e9dia brasileira. Melhor qualidade de vida para todas essas pessoas deve ser a maior prioridade, com melhor atendimento m\u00e9dico, acesso universal \u00e0 educa\u00e7\u00e3o, \u00e1gua, saneamento e infra-estrutura b\u00e1sica.<\/p>\n\n\n\n

A melhoria do bem estar da popula\u00e7\u00e3o na regi\u00e3o amaz\u00f4nica pode ser abordada em termos de seis \u00e1reas de a\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A primeira \u00e9 gera\u00e7\u00e3o de poupan\u00e7a e acesso ao cr\u00e9dito. Um estudo recente do SEBRAE aponta que quase metade das micro e pequenas empresas do Brasil encerram suas atividades antes de completar dois anos de exist\u00eancia, e que o fator principal disso \u00e9 a falta de capital. Maior acesso ao capital e ao conhecimento \u00e9 essencial na regi\u00e3o para incentivar atividades mais sustent\u00e1veis e que beneficiem os pequenos produtores.<\/p>\n\n\n\n

Na China, por exemplo, a raz\u00e3o do forte crescimento econ\u00f4mico foi a implementa\u00e7\u00e3o de reformas que deram aos pequenos produtores rurais a capacidade de aumentar sua produ\u00e7\u00e3o. Esses produtores tiveram acesso a lotes pr\u00f3prios, a capacita\u00e7\u00e3o e a equipamentos agr\u00edcolas. Com esses insumos, o meio rural chin\u00eas conseguiu produzir e poupar o suficiente para financiar outras atividades, como a industrializa\u00e7\u00e3o. Nos \u00faltimos 20 anos, a China conseguiu se transformar numa das maiores pot\u00eancias industriais do mundo, al\u00e9m de ter reduzido, em mais de metade, sua taxa de pobreza.<\/p>\n\n\n\n

A segunda \u00e1rea, portanto, \u00e9 diversifica\u00e7\u00e3o. Sem ela, existe risco de depend\u00eancia da economia e da popula\u00e7\u00e3o num n\u00famero limitado de atividades, cuja rentabilidade est\u00e1 ligada \u00e0s varia\u00e7\u00f5es de pre\u00e7os internacionais. Essa depend\u00eancia j\u00e1 prejudicou as economias de algod\u00e3o do sul dos Estados Unidos e do Nordeste brasileiro no S\u00e9culo 19 e de borracha na Amaz\u00f4nia no S\u00e9culo 20.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 por isso que o foco dado, na Amazontech 2004, ao desenvolvimento de novas tecnologias e \u00e0 busca de novas \u00e1reas de atividade econ\u00f4mica, como ao turismo, \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de doces e artesanatos e ao cultivo de frutas, flores e plantas medicinais \u00e9 de tanta import\u00e2ncia.<\/p>\n\n\n\n

Essas atividades garantem maior diversifica\u00e7\u00e3o na base econ\u00f4mica da regi\u00e3o e n\u00e3o degradam o meio ambiente. Elas s\u00e3o mais intensivas no uso da m\u00e3o de obra, tendo mais impacto sobre o aumento eq\u00fcitativo da renda da popula\u00e7\u00e3o e contribuindo mais para a redu\u00e7\u00e3o da pobreza.<\/p>\n\n\n\n

A terceira \u00e1rea \u00e9 a sustentabilidade das pr\u00e1ticas agropecu\u00e1rias. O incentivo \u00e0 busca de atividades que n\u00e3o ameacem o meio ambiente \u00e9 de especial import\u00e2ncia, visto que mais de 16% da Amaz\u00f4nia brasileira e 57% do Cerrado j\u00e1 foram desmatados nos \u00faltimos 50 anos, e que a tend\u00eancia \u00e9 de r\u00e1pida acelera\u00e7\u00e3o. Em 2003 foi registrada a segunda maior taxa hist\u00f3rica de desmatamento na Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

A grande parte dessa degrada\u00e7\u00e3o ambiental \u00e9 desnecess\u00e1ria e mesmo nociva para o crescimento e a igualdade. Desde 1990, o Brasil conseguiu aumentar em 125% a produ\u00e7\u00e3o de gr\u00e3os, com um aumento de apenas 24% na \u00e1rea plantada.<\/p>\n\n\n\n

Embora a \u00e1rea total sob plantio tenha aumentado 24%, a \u00e1rea degradada no processo foi muito maior por causa da baixa intensidade do cultivo e do mau uso da terra. O resultado \u00e9 a exist\u00eancia de mais de 16 milh\u00f5es de hectares de pastagens e \u00e1reas degradadas que est\u00e3o efetivamente abandonadas, apenas na regi\u00e3o amaz\u00f4nica. Com a recupera\u00e7\u00e3o dessas \u00e1reas, o Brasil poderia consolidar a fronteira e aumentar expressivamente sua produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola sem amea\u00e7ar ainda mais a floresta amaz\u00f4nica. \u00c9 tamb\u00e9m preciso ter certos insumos. Tanto a cria\u00e7\u00e3o de gado quanto a produ\u00e7\u00e3o agr\u00edcola de alto valor agregado requerem cr\u00e9dito para investirem em equipamentos, manejo da terra, irriga\u00e7\u00e3o e tecnologia para cultivo de alta qualidade. E necess\u00e1rio tamb\u00e9m a capacita\u00e7\u00e3o dos produtores e pecuaristas para que tenham o conhecimento para implementar boas pr\u00e1ticas agropecu\u00e1rias.<\/p>\n\n\n\n

A quarta \u00e1rea \u00e9 a prote\u00e7\u00e3o ambiental. Uma melhor prote\u00e7\u00e3o contribui diretamente para o bem-estar da popula\u00e7\u00e3o. Na China, por exemplo, anos de desmatamento contribu\u00edram para a eros\u00e3o do solo e a sedimenta\u00e7\u00e3o dos rios, provocando, em 1998, uma das mais calamitosas enchentes jamais registradas. Na Amaz\u00f4nia, o desmatamento acelerado pode provocar altera\u00e7\u00f5es na taxa de umidade, transformando grandes \u00e1reas de florestas em savanas. Al\u00e9m disso, pode reduzir o ciclo de chuva nas regi\u00f5es Sul e Sudeste, prejudicando suas economias.<\/p>\n\n\n\n

O descuido com a quest\u00e3o ambiental pode ser especialmente nocivo para os pobres, visto que a maior parte de sua renda deriva do uso de solo, florestas e \u00e1gua. O uso sustent\u00e1vel dos recursos naturais transforma-se, ent\u00e3o, numa quest\u00e3o tanto ambiental quanto social e econ\u00f4mica.<\/p>\n\n\n\n

A quinta \u00e1rea \u00e9 a necessidade de promover r\u00e1pidos avan\u00e7os sociais. Os 40% mais ricos do Brasil det\u00eam 82% da renda enquanto os 40% mais pobres ficam com apenas 8%. A exclus\u00e3o de quase metade da popula\u00e7\u00e3o torna dif\u00edcil, se n\u00e3o imposs\u00edvel, um per\u00edodo prolongado de crescimento a 4% ao ano ou mais.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 poss\u00edvel, no entanto, reverter esse quadro de desigualdade. O Brasil gasta mais de 240 bilh\u00f5es de reais nos diversos programas sociais existentes, incluindo a Previd\u00eancia, sem atingir diretamente os pobres. O Programa Bolsa Fam\u00edlia j\u00e1 promete melhoras no direcionamento de recursos para os que mais precisam deles, mas ainda h\u00e1 muito a ser feito.<\/p>\n\n\n\n

Finalmente, \u00e9 imprescind\u00edvel implementar reformas microecon\u00f4micas que garantam crescimento para a classe m\u00e9dia e para os mais pobres. Reformas como a trabalhista, a Lei de Fal\u00eancia e as Parcerias P\u00fablico Privadas iniciadas, mas ainda n\u00e3o implementadas, podem facilitar a contrata\u00e7\u00e3o de m\u00e3o-de-obra, diminuir os custos de empr\u00e9stimos e aumentar e melhorar a infra-estrutura. Tais medidas removeriam gargalos e serviriam de alicerce para o crescimento sustent\u00e1vel, que beneficiaria todos.<\/p>\n\n\n\n

Vinod Thomas
\nVice-Presidente e Diretor para o Brasil do Banco Mundial
\nFonte: Eco 21 – Ano XIV – n\u00ba 94 – Setembro – 2004
\nwww.eco21.com.br<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"