{"id":1818,"date":"2009-03-10T16:01:41","date_gmt":"2009-03-10T16:01:41","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:14:55","modified_gmt":"2021-07-10T23:14:55","slug":"queimada_uma_pratica_controlada_no_pantanal","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/florestal\/artigos\/queimada_uma_pratica_controlada_no_pantanal.html","title":{"rendered":"Queimada: uma pr\u00e1tica controlada no Pantanal"},"content":{"rendered":"\n

A utiliza\u00e7\u00e3o do fogo como elemento de manejo das \u00e1reas de savanas e campos naturais, embora muito contestada no meio cient\u00edfico por entidades ambientalistas e a sociedade em geral, constitui uma realidade e pr\u00e1tica bastante comum em muitas regi\u00f5es tropicais e subtropicais, especialmente naquelas caracterizadas por esta\u00e7\u00e3o seca pronunciada.<\/p>\n\n\n\n

No Brasil, o fogo est\u00e1 presente na atividade agropecu\u00e1ria, destacando-se sua utiliza\u00e7\u00e3o na regi\u00e3o dos Cerrados e na Amaz\u00f4nia, com o objetivo de promover a renova\u00e7\u00e3o ou recupera\u00e7\u00e3o das pastagens. A utiliza\u00e7\u00e3o desta pr\u00e1tica como alternativa de manejo das savanas justifica-se pelo controle de plantas invasoras e maior oferta de forragem fresca e palat\u00e1vel para o gado, obtida atrav\u00e9s da emiss\u00e3o de brota\u00e7\u00f5es, proporcionada pela remo\u00e7\u00e3o da macega.<\/p>\n\n\n\n

Na maioria das \u00e1reas de savanas e especialmente nos cerrados brasileiros, ao final da esta\u00e7\u00e3o seca, se queimam indiscriminadamente \u00e1reas de vegeta\u00e7\u00e3o herb\u00e1cea, arbustiva e arb\u00f3rea. No Pantanal, a queimada tamb\u00e9m \u00e9 empregada anualmente, entretanto, ao contr\u00e1rio da maioria das \u00e1reas de savanas, sua utiliza\u00e7\u00e3o se faz de forma controlada. Devido \u00e0s caracter\u00edsticas peculiares da regi\u00e3o – por apresentar alternadamente extensas \u00e1reas de campos (limpos ou sujos) sujeitas a inunda\u00e7\u00f5es peri\u00f3dicas – cerrados, cerrad\u00f5es e matas, o pantaneiro tem feito uso desta pr\u00e1tica de forma parcimoniosa.<\/p>\n\n\n\n

Conforme relatos de outros pesquisadores, a utiliza\u00e7\u00e3o do fogo no Pantanal se faz de forma seletiva e localizada procurando eliminar ou conter a expans\u00e3o de esp\u00e9cies indesej\u00e1veis e promovendo a rebrota das forrageiras de baixa aceitabilidade, sendo comumente queimadas as \u00e1reas de \u201ccaronal\u201d (predomin\u00e2ncia de Elyonurus muticus), de \u201ccapim-fura-bucho\u201d (Paspalum carinatum e Paspalum stellatum), de \u201ccapim-rabo-de-burro\u201d e rabo-de-lobo (Andropogon bicornis e Andropogon hypogynus) e cerrados ralos.<\/p>\n\n\n\n

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Destacam, ainda, que a rebrota promovida pelo fogo parece essencial ao aproveitamento das forrageiras de baixa aceitabilidade, embora, talvez, 90% da fitomassa a\u00e9rea seja perdida pela queima.<\/p>\n\n\n\n

Ainda que o emprego da queimada no Pantanal se fa\u00e7a de forma controlada, sua utiliza\u00e7\u00e3o merece cautela. Resultados de estudos recentes desenvolvidos em \u00e1reas de savana gram\u00edneo-lenhosa, na sub-regi\u00e3o da Nhecol\u00e2ndia, Pantanal Sul Mato-Grossense, t\u00eam demonstrado que a queima anual do caronal promove uma redu\u00e7\u00e3o na biomassa a\u00e9rea, acumulada nos onze meses subseq\u00fcentes \u00e0 queima, de aproximadamente 36% quando comparada \u00e0 \u00e1rea sem queima. Com sua reincid\u00eancia no ano seguinte, a redu\u00e7\u00e3o \u00e9 de cerca de 50%. A fitomassa morta decresce expressivamente, com valores m\u00e1ximos, representando n\u00e3o mais que 10% da \u00e1rea sem queima.<\/p>\n\n\n\n

Com a queima, tem se reduzido a freq\u00fc\u00eancia das esp\u00e9cies de gram\u00edneas na \u00e1rea de caronal e aumentado o n\u00famero de esp\u00e9cies de dicotiled\u00f4neas e de ciper\u00e1ceas, quando comparados \u00e0 \u00e1rea sem queima. A cobertura do solo, em \u00e1reas queimadas, se reduz expressivamente e tem levado cerca de quatro a seis meses para igualar-se \u00e0 \u00e1rea sem queima.<\/p>\n\n\n\n

Em 2001, ao se confirmar a previs\u00e3o de poucas chuvas, numa esta\u00e7\u00e3o seca mais prolongada, conseq\u00fcentemente, intensificou-se a incid\u00eancia de queimadas em todo o Pa\u00eds. Todavia, enquanto esta pr\u00e1tica n\u00e3o for substitu\u00edda por alternativas de manejo mais racionais, os engenheiros florestais e os cientistas recomendam para sua utiliza\u00e7\u00e3o o cumprimento das exig\u00eancias legais do IBAMA e uma aten\u00e7\u00e3o especial para aspectos como umidade do solo, hora ideal de queima, limpeza de aceiros, dire\u00e7\u00e3o do vento, tamanho das \u00e1reas, e, principalmente, n\u00e3o queimar a mesma \u00e1rea anualmente.<\/p>\n\n\n\n

A reincid\u00eancia sistem\u00e1tica da queima por v\u00e1rios anos, na mesma \u00e1rea, provoca uma degrada\u00e7\u00e3o f\u00edsico-qu\u00edmica e biol\u00f3gica do solo, acarretando redu\u00e7\u00e3o da biomassa a\u00e9rea.<\/p>\n\n\n\n

Evaldo Lu\u00eds Cardoso e Sandra Mara Ara\u00fajo Crispim
\nRevista Eco 21, Ano XII, No 71, Outubro de 2002 (www.eco21.com.br).<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"