{"id":1816,"date":"2009-03-10T17:29:53","date_gmt":"2009-03-10T17:29:53","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:14:54","modified_gmt":"2021-07-10T23:14:54","slug":"amazonia_desafio_de_uso_sustentavel_para_o_seculo_xxi","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/florestal\/artigos\/amazonia_desafio_de_uso_sustentavel_para_o_seculo_xxi.html","title":{"rendered":"Amaz\u00f4nia: desafio de uso sustent\u00e1vel para o s\u00e9culo XXI"},"content":{"rendered":"\n

Durante muito tempo, a Floresta Amaz\u00f4nica foi considerada um obst\u00e1culo: havia uma concep\u00e7\u00e3o de que o desenvolvimento dependia de derrubar matas. Nos \u00faltimos anos, esta vis\u00e3o mudou. Temas como derrubadas, queimadas, impacto da explora\u00e7\u00e3o madeireira, uso sustent\u00e1vel dos recursos florestais, conserva\u00e7\u00e3o ambiental e biodiversidade passaram a ser quest\u00f5es fundamentais na atua\u00e7\u00e3o do homem sobre este ecossistema. Apesar disso, e do interesse mundial sobre as florestas tropicais, ainda n\u00e3o conseguimos garantir, integralmente, sua preserva\u00e7\u00e3o e uso racional. Um dos equ\u00edvocos mais comuns tem sido a transposi\u00e7\u00e3o de modelos de desenvolvimento de outras regi\u00f5es, o que tem causado resultados catastr\u00f3ficos para o ambiente e, principalmente, para os habitantes. O desmatamento desordenado de grandes \u00e1reas, eliminando as reais op\u00e7\u00f5es de renda e melhoria de qualidade de vida destas popula\u00e7\u00f5es, \u00e9 conden\u00e1vel sob todos os aspectos. Sem um correto diagn\u00f3stico ambiental e socioecon\u00f4mico da regi\u00e3o, continuaremos privilegiando modelos que, al\u00e9m de baixo potencial de emprego, estimulam o \u00eaxodo rural e desconsideram as riquezas ambientais e econ\u00f4micas da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 preciso perceber que as caracter\u00edsticas econ\u00f4micas e sociais de grande parte da Amaz\u00f4nia est\u00e3o associadas com os recursos florestais. A popula\u00e7\u00e3o rural reside, em sua maioria, nas \u00e1reas desmatadas e nela formou sua cultura. Por isso, qualquer programa que pretenda desenvolver de fato a regi\u00e3o, sem causar impactos ambientais danosos, deve considerar os recursos florestais como refer\u00eancia.<\/p>\n\n\n\n

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Nas duas \u00faltimas d\u00e9cadas, a Embrapa se empenhou em desenvolver conceitos e estudos de manejo florestal para pequenos produtores e para empresas na regi\u00e3o Amaz\u00f4nica. Nos projetos de coloniza\u00e7\u00e3o, por exemplo, os 50% da \u00e1rea de reserva legal, at\u00e9 o momento, t\u00eam sido encarados como obst\u00e1culo ao desenvolvimento. S\u00f3 no Acre, onde vivem quase 20 mil fam\u00edlias em assentamentos, essas \u00e1reas de reservas representam mais de 780 mil hectares de floresta tropical.<\/p>\n\n\n\n

Pesquisas neste Estado t\u00eam mostrado que em 40 hectares, manejados adequadamente, cada fam\u00edlia pode obter renda l\u00edquida de at\u00e9 R$ 860,00 por ano, trabalhando no m\u00e1ximo tr\u00eas meses com extra\u00e7\u00e3o e beneficiamento de madeira. Isto significa renda m\u00e9dia de R$ 21,00 ao dia, duas vezes mais que o valor pago normalmente no mercado de m\u00e3o-de-obra rural.<\/p>\n\n\n\n

No munic\u00edpio de Acrel\u00e2ndia (AC), um programa de treinamento, monitorado pela Embrapa, tem capacitado os produtores em invent\u00e1rios florestais, uso adequado de motosserra e corte seletivo de esp\u00e9cies, planejamento a derrubada e o arraste com tra\u00e7\u00e3o animal. Al\u00e9m de produzir o m\u00ednimo de impacto ambiental, a f\u00f3rmula tem garantido a seguran\u00e7a das pessoas que lidam com uma atividade de alto risco.<\/p>\n\n\n\n

O melhor de tudo \u00e9 que o modelo n\u00e3o atrapalha a rotina das demais atividades ligadas \u00e0 agricultura e pecu\u00e1ria e agrega valor a um recurso natural que passa a ser utilizado de forma sustent\u00e1vel. Para se ter uma id\u00e9ia, na explora\u00e7\u00e3o tradicional de madeira, uma tora bruta \u00e9 comercializada por apenas R$ 30,00, sem contar os danos ambientais que comprometem a exist\u00eancia futura do meio ambiente. O mesmo produto explorado e manejado racionalmente obt\u00e9m pre\u00e7o m\u00e9dio de R$ 200,00.<\/p>\n\n\n\n

O manejo \u00e9 uma solu\u00e7\u00e3o que pode ser levada tamb\u00e9m a m\u00e9dias e grandes empresas. O problema principal, neste caso, tem sido a falta de planejamento. Abatendo \u00e1rvores de maneira desorganizada e n\u00e3o prevendo uso otimizado pode haver um desperd\u00edcio de cerca de 65% de cada tora.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m disso, a degrada\u00e7\u00e3o do meio compromete o futuro da atividade e o uso econ\u00f4mico de outros produtos da floresta como \u00f3leos, resinas, plantas medicinais, l\u00e1tex, frutas e recursos animais. Na Amaz\u00f4nia existem empresas certificadas, que det\u00e9m o chamado “Selo Verde”, concedido a empresas que realizam manejo sustent\u00e1vel adequado de produtos madeireiros.<\/p>\n\n\n\n

A base do conhecimento necess\u00e1rio para o manejo de florestas tropicais est\u00e1 no estudo de sua din\u00e2mica. Somente por meio do conhecimento da din\u00e2mica de crescimento e regenera\u00e7\u00e3o natural da floresta ser\u00e1 poss\u00edvel a previs\u00e3o de ciclos e taxas de corte adequados, assim como tratamentos silviculturais necess\u00e1rios \u00e0 produ\u00e7\u00e3o sustent\u00e1vel. No Acre, o manejo de 10 metros c\u00fabicos de madeira por hectare, num ciclo de 10 anos de explora\u00e7\u00e3o, permite a regenera\u00e7\u00e3o da mata, tornando o recurso natural uma fonte inesgot\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m de buscar alternativas que contribuam para solucionar os problemas da sociedade, por meio do planejamento e do uso sustent\u00e1vel dos recursos naturais, \u00e9 essencial a intera\u00e7\u00e3o entre as diferentes esferas dos poderes executivo e legislativo municipal, estadual e federal, a fim de promover as mudan\u00e7as nas pol\u00edticas atuais, bem como a proposi\u00e7\u00e3o de novas pol\u00edticas que viabilizem a efetiva incorpora\u00e7\u00e3o destas tecnologias aos processos produtivos. Assim \u00e9 que recentemente o Governo Federal reduziu de 17 para 3 as exig\u00eancias de documentos para a aprova\u00e7\u00e3o de planos de manejo florestal de baixo impacto para as pequenas propriedades, e o Banco da Amaz\u00f4nia incorporou este procedimento nas op\u00e7\u00f5es de financiamento para os pequenos produtores da Amaz\u00f4nia, financi\u00e1veis com recursos do Fundo Constitucional do Norte.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 fun\u00e7\u00e3o das institui\u00e7\u00f5es de pesquisa viabilizar condi\u00e7\u00f5es que atendam \u00e0s expectativas da sociedade e, em particular, do homem da Amaz\u00f4nia, que vive numa regi\u00e3o que se mostra como desafio na busca de sustentabilidade para o uso de seus recursos no s\u00e9culo XXI. Entretanto, sem est\u00edmulo, organiza\u00e7\u00e3o e planejamento, h\u00e1 pouca ou quase nenhuma chance de sucesso. A floresta \u00e9 um bem de todos e us\u00e1-la de forma sustent\u00e1vel \u00e9 garantir que gera\u00e7\u00f5es futuras possam desfrutar tamb\u00e9m dos benef\u00edcios hoje dispon\u00edveis.<\/p>\n\n\n\n

Alberto Duque Portugal
\nDiretor-Presidente da Embrapa<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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