{"id":1813,"date":"2009-03-11T10:20:50","date_gmt":"2009-03-11T10:20:50","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:14:51","modified_gmt":"2021-07-10T23:14:51","slug":"pataua_a_oliveira_da_amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/florestal\/artigos\/pataua_a_oliveira_da_amazonia.html","title":{"rendered":"Patau\u00e1: a \u201coliveira\u201d da Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"\n

No contexto atual em que o mundo est\u00e1 voltado para a conserva\u00e7\u00e3o das florestas e o consumidor cada vez mais se preocupa com a origem e as implica\u00e7\u00f5es sociais que est\u00e3o por detr\u00e1s dos produtos de origem florestal, surge um desafio para t\u00e9cnicos e cientistas da regi\u00e3o: a necessidade de produzir conhecimento e aproveitar a biodiversidade das florestas acreanas para gerar renda, mantendo a floresta em p\u00e9. Entre os produtos florestais potenciais, as palmeiras se destacam por serem usadas na alimenta\u00e7\u00e3o, como fitoter\u00e1picos, em artesanatos e at\u00e9 mesmo na constru\u00e7\u00e3o de casas. O patau\u00e1 ou pato\u00e1 \u00e9 uma palmeira muito conhecida dos moradores da floresta e de nome ciet\u00edfico: Oenocarpus bataua Mart . Assim como o a\u00e7a\u00ed, dos frutos se extrai uma bebida conhecida popularmente por \u201cvinho de patau\u00e1\u201d.<\/p>\n\n\n\n

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Durante alguns meses do ano, o vinho de patau\u00e1 pode ser encontrado no com\u00e9rcio informal de sucos em v\u00e1rios pontos da cidade de Rio Branco, juntamente com a\u00e7a\u00ed e buriti. Apesar do uso local, o potencial do patau\u00e1 como gerador de renda e desenvolvimento n\u00e3o est\u00e1 no \u201cvinho\u201d e sim no excelente \u00f3leo que \u00e9 extra\u00eddo a partir do suco. O \u00f3leo possui semelhan\u00e7as com o azeite de oliva e pode ser usado tanto para tempero de saladas como para frituras. A grande vantagem com rela\u00e7\u00e3o a outros \u00f3leos, como o de soja, est\u00e1 no fato de que o \u00f3leo de patau\u00e1 \u00e9 rico em amino\u00e1cidos e gorduras insaturadas (combate o colesterol \u2013 LDL) e, sendo extra\u00eddo aqui no Acre ou em outras partes da Amaz\u00f4nia, pode representar baixos custos de produ\u00e7\u00e3o. No Peru, al\u00e9m do uso alimentar, o \u00f3leo de patau\u00e1 tem sido utilizado como t\u00f4nico capilar e na medicina popular para combater a asma e doen\u00e7as respirat\u00f3rias.<\/p>\n\n\n\n

No Acre \u00e9 tamb\u00e9m usado para a lubrifica\u00e7\u00e3o de espingardas, como condicionador para cabelos, no tratamento de asma e pequenos ferimentos. No in\u00edcio do s\u00e9culo passado, o Brasil exportou toneladas de \u00f3leo de patau\u00e1. Por\u00e9m, a coleta dos frutos era feita derrubando-se as palmeiras, o que causou a destrui\u00e7\u00e3o de grandes patauazais nos arredores de Bel\u00e9m-PA. Apesar do potencial dessa palmeira como produtora de \u00f3leo, pouco se sabe sobre seu potencial produtivo com base em uma explora\u00e7\u00e3o sustent\u00e1vel do ponto de vista ecol\u00f3gico e econ\u00f4mico.<\/p>\n\n\n\n

Um estudo pontual foi feito no Seringal Palmari, em Xapuri, na Resex Chico Mendes, para avaliar o potencial de produ\u00e7\u00e3o e as condi\u00e7\u00f5es em que a esp\u00e9cie ocorre naturalmente, principalmente no que diz respeito ao n\u00famero de indiv\u00edduos produtivos por hectare e \u00e0 regenera\u00e7\u00e3o, importante para manter a popula\u00e7\u00e3o. Neste estudo verificou-se que o patau\u00e1 apresenta boas condi\u00e7\u00f5es de regenera\u00e7\u00e3o e por isso pode ser manejado.<\/p>\n\n\n\n

Por\u00e9m, medidas precisam ser tomadas durante o manejo no sentido de monitorar os impactos, por meio de m\u00e9todos simples e eficientes que ainda precisam ser desenvolvidos. O n\u00famero m\u00e9dio de palmeiras produtivas nas florestas de baixio, que s\u00e3o as \u00e1reas mais \u00famidas com solos encharcados, foi em torno de 40 palmeiras\/ha, e nas florestas de terra firme, \u00e1reas com solos bem drenados, foi encontrada quase metade disso, sugerindo que a coleta pode ser feita nos dois ambientes, baixio e terra firme. A produ\u00e7\u00e3o m\u00e9dia de frutos por cacho foi de 19 kg, extraindo-se de cada cacho cerca de 210 ml de \u00f3leo.<\/p>\n\n\n\n

Assim, considerando a coleta de dois cachos por palmeira\/ano e deixando-se 20% dos frutos sem coletar para assegurar a manuten\u00e7\u00e3o da fauna e regenera\u00e7\u00e3o, a produtividade de \u00f3leo em 1 ha pode ser estimada em 5 e 13 litros para terra firme e baixio, respectivamente. Nessa estimativa de produ\u00e7\u00e3o foi usado o sistema tradicional para a extra\u00e7\u00e3o do \u00f3leo, no qual ocorre um desperd\u00edcio de at\u00e9 80%, significando que esse rendimento pode ser melhorado. Destaca-se ainda a simplicidade do processo de beneficiamento do \u00f3leo o qual dispensa opera\u00e7\u00f5es industriais, sendo necess\u00e1ria apenas uma filtragem para que se encontre em condi\u00e7\u00f5es de consumo. Desta forma, o patau\u00e1 e outras palmeiras mais estudadas como a\u00e7a\u00ed, buriti, murumuru e tucum\u00e3 podem formar um grupo potencial da floresta nativa, atuando como fonte de renda para as comunidades locais e contribuindo com a proposta de desenvolvimento sustent\u00e1vel para as florestas acreanas.<\/p>\n\n\n\n

Daisy A.P.Gomes-Silva \u2013 Bolsista CNPq\/Embrapa Acre. daisy@dris.com.br
\nL\u00facia Helena O. Wadt \u2013 Pesquisadora Embrapa Acre. lucia@cpafac.embrapa.br<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"