{"id":1802,"date":"2009-03-10T13:54:42","date_gmt":"2009-03-10T13:54:42","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:14:58","modified_gmt":"2021-07-10T23:14:58","slug":"amazonia_muita_biodiversidade_e_pouco_conhecimento","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/florestal\/artigos\/amazonia_muita_biodiversidade_e_pouco_conhecimento.html","title":{"rendered":"Amaz\u00f4nia: muita biodiversidade e pouco conhecimento"},"content":{"rendered":"\n

Nos \u00faltimos anos, observa-se no panorama intelectual da Amaz\u00f4nia e no Brasil, como um todo, o uso cada vez mais crescente de termos como, desenvolvimento sustent\u00e1vel, biodiversidade, ecodesenvolvimento, etc., que, sob formas diversas, apontam para a preocupa\u00e7\u00e3o com o meio ambiente e, especialmente, para a rela\u00e7\u00e3o do homem com o meio ambiente.<\/p>\n\n\n\n

O Brasil, com uma extens\u00e3o territorial de cerca de 8.500.000 km\u00b2, tem aproximadamente 40% da sua \u00e1rea coberta por floresta nativa e possui a biodiversidade mais rica do mundo. Essa imensa riqueza natural constitui um verdadeiro patrim\u00f4nio cient\u00edfico, tecnol\u00f3gico, econ\u00f4mico e cultural, que precisa ser conhecido, preservado e explorado racional e criteriosamente.<\/p>\n\n\n\n

Paradoxalmente, essa biodiversidade valiosa e rica, maior reserva gen\u00e9tica do mundo, \u00e9 a menos conhecida e esse \u00e9 o desafio: conhec\u00ea-la e preserv\u00e1-la. Segundo estimativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient\u00edfico e Tecnol\u00f3gico – CNPq (Avalia\u00e7\u00e3o e Perspectivas, v. 6, Bot\u00e2nica, p. 113-161. 1987) seriam necess\u00e1rios 360 bot\u00e2nicos de alto n\u00edvel, trabalhando no mesmo ritmo e qualidade de Karl Von Martius, bot\u00e2nico alem\u00e3o do s\u00e9culo XIX, e seus colaboradores, durante 50 anos, para que esse patrim\u00f4nio fosse, pelo menos, conhecido taxonomicamente, abordando apenas os vegetais superiores.<\/p>\n\n\n\n

Os recursos naturais s\u00e3o de pouca utilidade se n\u00e3o forem racionalmente explorados. Essa \u00e9 uma condi\u00e7\u00e3o indispens\u00e1vel para promover sua conserva\u00e7\u00e3o, perpetuando as boas qualidades do meio ambiente para as gera\u00e7\u00f5es futuras. N\u00e3o se pode valorizar e preservar o que n\u00e3o se conhece.<\/p>\n\n\n\n

Uma revolu\u00e7\u00e3o de grande impacto que precisa ser feita pela ci\u00eancia \u00e9 dar maior aten\u00e7\u00e3o \u00e0s pequenas e desconhecidas plantas e animais que fazem o resto do mundo funcionar. S\u00e3o pequenas criaturas – micr\u00f3bios, vermes, fungos, besouros e aracn\u00eddeos – que revolvem a terra, processam restos de madeira e folhas, tiram nitrog\u00eanio do ar, reciclam nutrientes minerais, administram o ciclo da \u00e1gua, liberam di\u00f3xido de carbono, metano e outros gases nobres e servem de base para toda a vida no subsolo.<\/p>\n\n\n\n

Florestas, savanas e terras para plantio se sustentam em grandes, extensas e desconhecidas cadeias de criaturas que vivem no primeiro metro de terra sob a superf\u00edcie. O estudo de alguns desses organismos resultou em importantes antibi\u00f3ticos e na economia de bilh\u00f5es em fertilizantes e pesticidas para os fazendeiros.<\/p>\n\n\n\n

Essas criaturas podem gerar uma nova revolu\u00e7\u00e3o agr\u00edcola e render incont\u00e1veis riquezas \u00e0s ind\u00fastrias do futuro. S\u00e3o os organismos menos estudados do planeta. Provavelmente, h\u00e1 maior diversidade biol\u00f3gica em um punhado de terra de jardim, do que plantas e animais nas florestas tropicais. Uma tonelada de terra pode conter milh\u00f5es de esp\u00e9cies de bact\u00e9ria. S\u00f3 4 mil foram classificadas. As 72 mil esp\u00e9cies de fungos conhecidas at\u00e9 agora representam apenas 5% do poss\u00edvel total.<\/p>\n\n\n\n

Gra\u00e7as \u00e0s pesquisas realizadas pela Embrapa, desde o in\u00edcio da d\u00e9cada de 70, bact\u00e9rias respons\u00e1veis pela filtragem de nitrog\u00eanio, espalhadas nas planta\u00e7\u00f5es de soja brasileiras, substitu\u00edram fertilizantes artificiais e resultaram numa economia de US$ 1 bilh\u00e3o por ano para o Pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

A Embrapa Acre tem contribu\u00eddo para aumentar o conhecimento e o uso sustent\u00e1vel da biodiversidade amaz\u00f4nica com a gera\u00e7\u00e3o de importantes tecnologias cujo objetivo \u00e9 reduzir a press\u00e3o sobre os recursos florestais, destacando-se: t\u00e9cnicas de manejo de pastagens para a verticaliza\u00e7\u00e3o da pecu\u00e1ria, manejo florestal sustent\u00e1vel para produtos madeireiros e n\u00e3o-madeireiros, extra\u00e7\u00e3o de safrol da pimenta longa, bioprospec\u00e7\u00e3o de plantas para uso medicinal e com potencial para a fabrica\u00e7\u00e3o de defensivos naturais de uso agr\u00edcola, entre outras. Entretanto, apesar de relevantes, essas a\u00e7\u00f5es ainda s\u00e3o insuficientes diante do enorme desafio de “domar” a Amaz\u00f4nia. A Embrapa, as universidades e outras institui\u00e7\u00f5es de pesquisa poderiam fazer muito mais, se fossem alocados os recursos financeiros e humanos necess\u00e1rios para essa grande empreitada, seja por parte do governo ou da iniciativa privada, cujos investimentos em pesquisa ainda s\u00e3o incipientes.<\/p>\n\n\n\n

O economista e ativista ambiental Lester R. Brown recomenda que os brasileiros lutem pela preserva\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia “porque \u00e9 algo muito valioso para o Brasil, se o Pa\u00eds souber preserv\u00e1-la. Quando vejo as queimadas de florestas na Amaz\u00f4nia e a perda permanente e irrevers\u00edvel de material gen\u00e9tico que s\u00f3 existe naquela \u00e1rea, isso me faz lembrar do inc\u00eandio da biblioteca de Alexandria, mais de 2 mil anos atr\u00e1s. Era uma biblioteca extraordin\u00e1ria, como nenhuma outra no mundo, e foi queimada. O que o Brasil tem \u00e9 uma grande biblioteca biol\u00f3gica, com uma variedade de DNA que n\u00e3o existe em nenhum outro lugar no mundo, e est\u00e1 literalmente queimando isso, sem perceber quanto ela \u00e9 valiosa”.<\/p>\n\n\n\n

Portanto, \u00e9 necess\u00e1rio um firme posicionamento por parte das autoridades e da comunidade cient\u00edfica na solu\u00e7\u00e3o desses problemas, esfor\u00e7os para minimizar as defici\u00eancias e suprir as necessidades do sistema de ci\u00eancia e tecnologia relacionado ao conhecimento e uso da biodiversidade, tornando poss\u00edvel ao Brasil igualar-se aos centros mundiais mais avan\u00e7ados. S\u00f3 assim se far\u00e1 jus ao patrim\u00f4nio natural que se possui.<\/p>\n\n\n\n

Elias Melo de Miranda, M.Sc., pesquisador da Embrapa Acre (elias@cpafac.embrapa.br) <\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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