{"id":1799,"date":"2009-03-10T13:47:19","date_gmt":"2009-03-10T13:47:19","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:14:58","modified_gmt":"2021-07-10T23:14:58","slug":"seringueira_opcoes_de_cultivo_e_geracao_de_renda_na_amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/florestal\/artigos\/seringueira_opcoes_de_cultivo_e_geracao_de_renda_na_amazonia.html","title":{"rendered":"Seringueira: op\u00e7\u00f5es de cultivo e gera\u00e7\u00e3o de renda na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"\n

A seringueira, planta nativa da Regi\u00e3o Amaz\u00f4nica da qual se extrai o l\u00e1tex para fabrica\u00e7\u00e3o de borracha natural, a partir da sa\u00edda de seu habitat passou a ser cultivada em grandes monocultivos, principalmente nos pa\u00edses asi\u00e1ticos. No Brasil, seu cultivo obteve grande sucesso nas Regi\u00f5es Sudeste, Centro-Oeste, na Bahia e mais recentemente no oeste do Paran\u00e1. A produ\u00e7\u00e3o brasileira atual \u00e9 de aproximadamente 105 mil toneladas, para um consumo em torno de 250 mil, tonando-se necess\u00e1rio importar 145 mil toneladas de borracha natural de outros pa\u00edses, o que contribui muito para o desequil\u00edbrio da balan\u00e7a comercial do agroneg\u00f3cio brasileiro.<\/p>\n\n\n\n

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Na Amaz\u00f4nia, a situa\u00e7\u00e3o do setor da borracha natural \u00e9 bastante cr\u00edtica. No Acre, por exemplo, antes de 1999, os pre\u00e7os estiveram em seus patamares mais baixos chegando-se a receber menos de R$ 0,50\/kg e uma produ\u00e7\u00e3o estadual em torno de 1,5 mil toneladas, que culminou com o fechamento de usinas, abandono de seringais e \u00eaxodo rural, promovendo incha\u00e7o na periferia de Rio Branco e empobrecimento dos povos da floresta. A ado\u00e7\u00e3o da pol\u00edtica de subs\u00eddios pelo governo estadual, por meio da Lei Chico Mendes, somada \u00e0 pol\u00edtica de pre\u00e7os do governo federal, gera atualmente um pre\u00e7o de R$ 1,67 por quilo de borracha tipo CVP (cernambi virgem prensado), constituindo o valor mais alto pago pelo produto no Pa\u00eds. No entanto, sabe-se que apenas esse tipo de incentivo n\u00e3o \u00e9 suficiente para aumentar a produ\u00e7\u00e3o e garantir sustentabilidade ao setor, entretanto, reconhece-se que o est\u00edmulo elevou a produ\u00e7\u00e3o para algo em torno de 5 mil toneladas\/ano, reativando usinas e seringais em todas as regi\u00f5es do Estado do Acre, envolvendo aproximadamente 7 mil fam\u00edlias de seringueiros no processo produtivo.<\/p>\n\n\n\n

Percebe-se, portanto, que a situa\u00e7\u00e3o do setor \u00e9 bastante complexa e exige medidas urgentes no sentido de que o governo federal crie programas de financiamento para implanta\u00e7\u00e3o e cultivo da seringueira em todo o Brasil. Na Amaz\u00f4nia o principal problema \u00e9 o mal-das-folhas, doen\u00e7a causada pelo fungo Microcyclus ulei. A Embrapa Amaz\u00f4nia Ocidental (Manaus, AM) e Embrapa Acre desenvolveram uma t\u00e9cnica de combina\u00e7\u00e3o de enxertias de copa\/painel que solucionou o problema, faltando agora programas de financiamento para plantios em grande escala. No Acre, essa produ\u00e7\u00e3o \u00e9 predominantemente de seringais nativos, apenas uma pequena parcela prov\u00e9m de seringais de cultivo remanescentes do extinto Probor coordenado pela tamb\u00e9m extinta Sudhevea.<\/p>\n\n\n\n

A partir da ratifica\u00e7\u00e3o definitiva do Protocolo de Kyoto, que reduz a emiss\u00e3o de gases poluentes na atmosfera, principalmente o CO2 o qual promove o aquecimento da terra, abre-se a perspectiva de obten\u00e7\u00e3o de uma renda extra da seringueira por meio da venda de cr\u00e9ditos de carbono, podendo-se portanto utilizar a \u00e1rvore para reflorestamento, recupera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas abandonadas ou degradadas e em sistemas agroflorestais, este \u00faltimo vi\u00e1vel do ponto de vista da amortiza\u00e7\u00e3o dos custos de implanta\u00e7\u00e3o e diversifica\u00e7\u00e3o de renda e de produtos.<\/p>\n\n\n\n

Enfim, diante do quadro local mostrado e de um panorama nacional bastante desfavor\u00e1vel, em que o Pa\u00eds importa cerca de 60% de toda a borracha natural que consome, urge que o governo federal tome medidas que permitam ao Brasil atingir a auto-sufici\u00eancia em produ\u00e7\u00e3o de borracha natural. Apresentamos como sugest\u00f5es principais o estabelecimento de pol\u00edticas de cr\u00e9dito e assist\u00eancia t\u00e9cnica espec\u00edfica para a cultura, cria\u00e7\u00e3o de um  programa nacional de pesquisa e desenvolvimento que contemple toda a cadeia produtiva da seringueira e da borracha natural, est\u00edmulo \u00e0 implanta\u00e7\u00e3o de novas \u00e1reas de plantio e, por \u00faltimo, utiliza\u00e7\u00e3o pelo setor madeireiro de \u00e1rvores oriundas de cultivos ao final do ciclo de produ\u00e7\u00e3o de l\u00e1tex. Essas medidas em m\u00e9dio e longo prazo proporcionariam ao Brasil condi\u00e7\u00f5es de voltar a ser pelo menos auto-suficiente em borracha natural, o que contribuiria para um maior equil\u00edbrio da balan\u00e7a comercial brasileira e o tornaria menos dependente dos pa\u00edses que dominam o mercado internacional de borracha, por meio da regulariza\u00e7\u00e3o de estoques e dos pre\u00e7os. Por fim, o nosso principal objetivo \u00e9 mostrar para a sociedade que muito tem que ser feito por um produto brasileiro, do qual fomos o maior produtor mundial e hoje somos um grande importador, tudo isso, devido \u00e0 falta de pol\u00edticas corretas de pesquisa, cr\u00e9dito rural, incentivos fiscais e de assist\u00eancia t\u00e9cnica \u00e0 cultura no Pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

Jos\u00e9 Tadeu de Souza Marinho – Eng. agr\u00f4n., Pesquisador da Embrapa Acre, tadeu@cpafac.embrapa.br<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"