{"id":1795,"date":"2009-03-10T13:36:21","date_gmt":"2009-03-10T13:36:21","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:14:58","modified_gmt":"2021-07-10T23:14:58","slug":"efeito_da_floresta_vazia_denuncia_extincoes","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/florestal\/artigos\/efeito_da_floresta_vazia_denuncia_extincoes.html","title":{"rendered":"Efeito da “floresta vazia” denuncia extin\u00e7\u00f5es"},"content":{"rendered":"\n

Bel\u00e9m, 29 de mar\u00e7o de 2004 – Pesquisas experimentais ao redor de todo o mundo mostram que a fragmenta\u00e7\u00e3o de florestas leva \u00e0 perda de centenas de esp\u00e9cies de plantas e animais. No artigo “Fragmenta\u00e7\u00e3o, Sinergismos e Empobrecimento das Florestas Neotropicais”, os autores analisam simultaneamente as m\u00faltiplas causas e as intera\u00e7\u00f5es que s\u00e3o desencadeadas pelo processo de fragmenta\u00e7\u00e3o das florestas das Am\u00e9ricas do Sul e Central.<\/p>\n\n\n\n

O estudo destaca que se os efeitos da fragmenta\u00e7\u00e3o n\u00e3o forem atenuados rapidamente, as florestas tropicais v\u00e3o perder uma parte significativa da diversidade de suas \u00e1rvores mais preciosas, desencadeando um processo de extin\u00e7\u00e3o em massa poucas vezes visto na hist\u00f3ria da Terra. O artigo acaba de ser publicado na revista holandesa Biodiversity and Conservation e \u00e9 assinado por Marcelo Tabarelli, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Jos\u00e9 Maria Cardoso da Silva e Claude Gascon, ambos da ONG Conserva\u00e7\u00e3o Internacional (CI).<\/p>\n\n\n\n

“A fragmenta\u00e7\u00e3o das florestas n\u00e3o ocorre naturalmente. Ela est\u00e1 sempre associada a amea\u00e7as induzidas pelo homem, como explora\u00e7\u00e3o de madeira, queimadas e a ca\u00e7a de vertebrados, que s\u00e3o dispersores de sementes. Isso ocorre porque os recursos da floresta s\u00e3o, pelo menos durante um certo per\u00edodo, a principal fonte de renda das popula\u00e7\u00f5es locais”, explica Jos\u00e9 Maria Cardoso da Silva, vice-presidente de Ci\u00eancia da CI-Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Tanto no caso da Amaz\u00f4nia como da Mata Atl\u00e2ntica, os principais impactos adv\u00eam do que os ambientalistas convencionam chamar de efeito de borda. Isso significa dizer que, depois do desmatamento, os remanescentes ficam isolados, e sua vizinhan\u00e7a passa a ser n\u00e3o mais a pr\u00f3pria floresta, cont\u00ednua, mas \u00e1reas abertas, como planta\u00e7\u00f5es, pastos, estradas. Os dois tipos de ambientes se influenciam mutuamente e as esp\u00e9cies da floresta respondem de v\u00e1rias maneiras a esse fen\u00f4meno. Algumas n\u00e3o suportam a baixa umidade, enquanto outras acabam por se beneficiar, como algumas esp\u00e9cies de cip\u00f3s e parasitas. Com isso, muitas esp\u00e9cies de \u00e1rvores de grande valor comercial, como a castanha-do-brasil e o mogno, podem ser extintas.<\/p>\n\n\n\n

Os pesquisadores explicam o ciclo da extin\u00e7\u00e3o de um fragmento de floresta sendo o seguinte esquema l\u00f3gico. Tanto nas novas quanto nas antigas fronteiras da coloniza\u00e7\u00e3o humana nas regi\u00f5es neotropicais – como a Amaz\u00f4nia e a Mata Atl\u00e2ntica – os fragmentos de florestas est\u00e3o sempre associados \u00e0s crescentes necessidades comerciais e de subsist\u00eancia das popula\u00e7\u00f5es (madeira, carv\u00e3o, minerais, fibras, sementes etc.). Nessas regi\u00f5es, a fragmenta\u00e7\u00e3o do h\u00e1bitat amplia o acesso aos recursos da floresta e facilita a ca\u00e7a, a extra\u00e7\u00e3o industrial de madeira e a expans\u00e3o da agricultura. As opera\u00e7\u00f5es de extra\u00e7\u00e3o de madeira em grande escala aumentam ainda mais a fragmenta\u00e7\u00e3o da floresta, abrindo estradas e trilhas. Al\u00e9m disso, a derrubada reduz a cobertura de folhagens e produz grandes quantidades de detrito org\u00e2nico. Esse material combust\u00edvel, combinado ao lixo e \u00e0 biomassa morta produzidos pela pr\u00f3pria fragmenta\u00e7\u00e3o, deixa essas regi\u00f5es ainda mais suscept\u00edveis \u00e0 indu\u00e7\u00e3o de queimadas.<\/p>\n\n\n\n

Associados a cada uma dessas amea\u00e7as, est\u00e3o os processos ecol\u00f3gicos que t\u00eam o potencial de reduzir o tamanho das popula\u00e7\u00f5es de in\u00fameras esp\u00e9cies de \u00e1rvores. O efeito de borda e a fragmenta\u00e7\u00e3o aumentam a mortalidade de \u00e1rvores jovens pela competi\u00e7\u00e3o com cip\u00f3s, esp\u00e9cies parasitas e esp\u00e9cies adaptadas a solos pobres, ao mesmo tempo que a pr\u00f3pria derrubada causa um preju\u00edzo f\u00edsico. As \u00e1rvores adultas tamb\u00e9m ficam mais vulner\u00e1veis \u00e0 borda e freq\u00fcentemente caem com a eleva\u00e7\u00e3o de suas ra\u00edzes para a superf\u00edcie. Al\u00e9m disso, a elimina\u00e7\u00e3o de vertebrados dispersores de sementes compromete a germina\u00e7\u00e3o. Muitas esp\u00e9cies de \u00e1rvores neotropicais est\u00e3o atualmente amea\u00e7adas por uma combina\u00e7\u00e3o dessas causas. “O Centro de Endemismo Pernambuco – a regi\u00e3o de Mata Atl\u00e2ntica entre o Rio Grande do Norte e Alagoas – \u00e9 um exemplo. N\u00f3s estimamos que pelo menos 34% das esp\u00e9cies de \u00e1rvores da regi\u00e3o est\u00e3o amea\u00e7adas por causa da combina\u00e7\u00e3o desses fatores, explica Tabarelli”.<\/p>\n\n\n\n

O estudo sugere algumas predi\u00e7\u00f5es inquietantes. A grande maioria dos fragmentos florestais da Amaz\u00f4nia ou Mata Atl\u00e2ntica j\u00e1 passaram ou est\u00e3o passando por um r\u00e1pido processo de perda de esp\u00e9cies. Na Amaz\u00f4nia, se o processo de coloniza\u00e7\u00e3o e explora\u00e7\u00e3o dos recursos naturais da regi\u00e3o continuar como est\u00e1, com taxas de desflorestamento entre 15.000 e 20.000 km2 por ano, pode-se prever, no curto prazo, uma degrada\u00e7\u00e3o bastante severa de grande parte do bioma, limitando as oportunidades de um desenvolvimento social justo e eq\u00fcitativo baseado no uso sustent\u00e1vel das florestas.<\/p>\n\n\n\n

O estudo tamb\u00e9m revela que a porcentagem de esp\u00e9cies perdidas \u00e9 uma conseq\u00fc\u00eancia da intensidade e severidade das amea\u00e7as que foram impostas aos fragmentos. As \u00e1rvores mais amea\u00e7adas de extin\u00e7\u00e3o t\u00eam grande valor comercial, s\u00e3o muito sens\u00edveis aos efeitos de borda e sua reprodu\u00e7\u00e3o depende da dispers\u00e3o de sementes promovida pelos grandes vertebrados, que em geral s\u00e3o os primeiros a desaparecer de um sistema perturbado pela a\u00e7\u00e3o humana.<\/p>\n\n\n\n

“Em \u00e1reas de Mata Atl\u00e2ntica, como no Sul da Bahia onde os fragmentos de floresta s\u00e3o muito pequenos e amea\u00e7ados, podemos sentir a assustadora sensa\u00e7\u00e3o da floresta vazia. Voc\u00ea pode observar o verde da mata, mas j\u00e1 n\u00e3o ouve mais a vocaliza\u00e7\u00e3o dos primatas, ou o movimento dos animais, nem o cantar dos p\u00e1ssaros da regi\u00e3o. Da\u00ed voc\u00ea pode concluir que esse \u00e9 um fragmento fadado \u00e0 extin\u00e7\u00e3o,” comenta Gascon, que trabalhou por mais de 10 anos como pesquisador no Brasil.<\/p>\n\n\n\n

Os autores do artigo concluem afirmando que uma parcela significativa da biodiversidade brasileira poder\u00e1 ser perdida rapidamente, com grandes preju\u00edzos para a sociedade como um todo, caso nenhuma a\u00e7\u00e3o concreta para a implementa\u00e7\u00e3o de estrat\u00e9gias de manejo florestal for estabelecida. Por isso, eles defendem a cria\u00e7\u00e3o de extensos corredores de biodiversidade integrando conserva\u00e7\u00e3o e desenvolvimento econ\u00f4mico.<\/p>\n\n\n\n

www.conservation.org.br<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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