{"id":1790,"date":"2009-03-10T13:26:41","date_gmt":"2009-03-10T13:26:41","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:15:02","modified_gmt":"2021-07-10T23:15:02","slug":"homenagem_quase_postuma_ao_velho_pinheiro-do-parana","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/florestal\/artigos\/homenagem_quase_postuma_ao_velho_pinheiro-do-parana.html","title":{"rendered":"Homenagem quase p\u00f3stuma ao velho pinheiro-do-paran\u00e1"},"content":{"rendered":"\n

O Paran\u00e1 derrubou 80% de sua cobertura vegetal. O que resta hoje \u00e9 20% do que havia cem anos atr\u00e1s. N\u00e3o h\u00e1 mais nem 1% de nossa floresta de arauc\u00e1ria em p\u00e9. Em outras palavras, aniquilamos 99% daquelas a quem, hipocritamente, chamamos \u00e1rvore-s\u00edmbolo.<\/p>\n\n\n\n

A retirada da cobertura vegetal de uma localidade aquece e torna pobre o solo, aumenta a polui\u00e7\u00e3o e o assoreamento dos rios, reduz a biodiversidade, altera a velocidade dos ventos, aumenta a temperatura do ar e modifica, irreversivelmente, o microclima local.<\/p>\n\n\n\n

Na parte de cima do solo, a altera\u00e7\u00e3o agride primeiramente os insetos, muitos deles, polinizadores. Sem mecanismos de adapta\u00e7\u00e3o r\u00e1pida, eles se transferem para locais onde o clima seja menos hostil. Sua fuga tem conseq\u00fc\u00eancias danosas para a poliniza\u00e7\u00e3o. Sem ela, muitas plantas que ali vivem h\u00e1 milh\u00f5es de anos, deixam de existir.<\/p>\n\n\n\n

Os animais que se alimentam destes insetos, ou dessas plantas, morrem ou v\u00e3o embora com eles. Tamb\u00e9m se poderia dizer que, sem \u00e1rvores, as aves partem. Sem estas predadoras naturais, as pragas aumentam. O crescimento das pragas traz o agrot\u00f3xico. O solo pobre tamb\u00e9m traz a necessidade do fertilizante. E, com eles, a qu\u00edmica dos laborat\u00f3rios chega ao campo. Depois, \u00e0 nossa mesa.<\/p>\n\n\n\n

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O calor e a crescente evapora\u00e7\u00e3o do solo desnudo, tamb\u00e9m matam bact\u00e9rias produtoras de compostos essenciais \u00e0 fertilidade da terra. Como elas, morrem fungos que vivem em associa\u00e7\u00f5es ben\u00e9ficas com algumas plantas, nemat\u00f3ides, minhocas e outras formas de vida que comp\u00f5em uma fauna pouco festejada, mas fundamental para a riqueza do subsolo.<\/p>\n\n\n\n

O resultado n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 uma paisagem desoladora. O resultado \u00e9 proporcional a um cataclisma local. Ali, o equil\u00edbrio jamais ser\u00e1 o mesmo.<\/p>\n\n\n\n

Mas, por que se desmata tanto?<\/strong><\/p>\n\n\n\n

O Norte e o Noroeste do Paran\u00e1 desmataram para plantar caf\u00e9. O caf\u00e9 acabou. Hoje, o Norte tira o que resta para o plantio da cana. O Noroeste, para colocar o gado e, nos \u00faltimos dois anos, para a soja. Tamb\u00e9m para ceder \u00e0 soja e ao trigo, caem as \u00e1rvores dos Campos Gerais. O Centro-Sul desmata para dar lugar \u00e0 madeira, que j\u00e1 \u00e9 o segundo item em exporta\u00e7\u00f5es do Estado. O Oeste e o sudoeste desmataram para a agricultura. A Floresta Atl\u00e2ntica, rasgada pela especula\u00e7\u00e3o imobili\u00e1ria, pelos palmiteiros e madeireiros, cambaleante, ainda resiste. No Sul, tamb\u00e9m \u00faltima regi\u00e3o significativa, os setores madeireiro e do agroneg\u00f3cio bradam literalmente por seus direitos de poderem desmatar.<\/p>\n\n\n\n

O capital avan\u00e7a sobre o mundo natural. A madeira \u00e9 mat\u00e9ria prima e a terra \u00e9 meio de produ\u00e7\u00e3o. A natureza, assim, \u00e9 apenas mercadoria. Onde entra a agricultura, sai a floresta. Tamb\u00e9m pagamos um alto pre\u00e7o por sermos o Estado campe\u00e3o na produ\u00e7\u00e3o de gr\u00e3os.<\/p>\n\n\n\n

No pr\u00f3ximo Dia da \u00c1rvore por pouco n\u00e3o teremos que fazer uma homenagem p\u00f3stuma ao pinheiro-do-paran\u00e1. Ent\u00e3o, \u00e9 preciso dizer o que \u00e9 necess\u00e1rio fazer para reverter esse quadro quase desolador.<\/p>\n\n\n\n

Primeiro, \u00e9 necess\u00e1rio admitir que, dentre os in\u00fameros problemas ambientais que temos, a falta de cobertura vegetal (por suas graves implica\u00e7\u00f5es) de longe \u00e9 nossa principal quest\u00e3o ambiental. Ou seja, a prioridade \u00e9 essa.<\/p>\n\n\n\n

Segundo, alterar este quadro \u00e9 tarefa do Governo e da sociedade. Nem um, nem outro, sozinhos, chegam a lugar algum.<\/p>\n\n\n\n

S\u00f3 para se dar um exemplo, o Governo estadual e mais de 40 entidades e institui\u00e7\u00f5es da sociedade, iniciaram um gigantesco programa de recomposi\u00e7\u00e3o de Matas Ciliares.<\/p>\n\n\n\n

Em pouco tempo se pretende arborizar, com esp\u00e9cies nativas, mais de 100.000 km de rios paranaenses. \u00c9 o programa de recomposi\u00e7\u00e3o florestal mais ambicioso que se tem not\u00edcia e dever\u00e1 cobrir cerca de 1 milh\u00e3o de hectares. S\u00f3 o Governo estadual estar\u00e1 investindo mais de 50 milh\u00f5es de Reais, al\u00e9m de seus t\u00e9cnicos, ve\u00edculos, m\u00e1quinas, combust\u00edveis e outros necess\u00e1rios refor\u00e7os.<\/p>\n\n\n\n

Terceiro, \u00e9 preciso combinar pressa e paci\u00eancia. \u00c9 urgente come\u00e7ar, mas \u00e9 emergencial entender que a recomposi\u00e7\u00e3o florestal \u00e9 tarefa de d\u00e9cadas. N\u00e3o pelo ato mec\u00e2nico de se plantar e sim pela necess\u00e1ria ades\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o \u00e0 tarefa de preservar. Ter de volta a cobertura vegetal que um dia possu\u00edmos ou se faz porque a popula\u00e7\u00e3o assim o deseja ou n\u00e3o se faz.<\/p>\n\n\n\n

Assim no pr\u00f3ximo Dia da \u00c1rvore teremos uma bela oportunidade para se celebrar isso. Dessa forma, a nossa bela arauc\u00e1ria, nos seus mais de 200 milh\u00f5es de anos de exist\u00eancia, reconhecer\u00e1 que, no fundo, finalmente estamos come\u00e7ando a ter ju\u00edzo.<\/p>\n\n\n\n

Revista Eco 21, Ano XIV, Edi\u00e7\u00e3o 92, Julho 2004. (www.eco21.com.br) – Luiz Eduardo Cheida<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"