{"id":1788,"date":"2009-03-10T13:22:20","date_gmt":"2009-03-10T13:22:20","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:15:02","modified_gmt":"2021-07-10T23:15:02","slug":"2030_o_ano_final_do_cerrado","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/florestal\/artigos\/2030_o_ano_final_do_cerrado.html","title":{"rendered":"2030: o ano final do Cerrado"},"content":{"rendered":"\n

Estudos da ONG ambientalista Conserva\u00e7\u00e3o Internacional Brasil (CI-Brasil) indicam que o Cerrado dever\u00e1 desaparecer at\u00e9 2030. Dos 204 milh\u00f5es de ha originais, 57% j\u00e1 foram completamente destru\u00eddos e a metade das \u00e1reas remanescentes est\u00e3o bastante alteradas, podendo n\u00e3o mais servir \u00e0 conserva\u00e7\u00e3o da biodiversidade. A taxa anual de desmatamento no bioma \u00e9 alarmante, chegando a 1,5%, ou 3 milh\u00f5es de ha\/ano. As principais press\u00f5es sobre o Cerrado s\u00e3o a expans\u00e3o da fronteira agr\u00edcola, as queimadas e o crescimento n\u00e3o planejado das \u00e1reas urbanas. A degrada\u00e7\u00e3o \u00e9 maior em Mato Grosso do Sul, Goi\u00e1s e Mato Grosso, no Tri\u00e2ngulo Mineiro e no Oeste da Bahia.<\/p>\n\n\n\n

O estudo, feito a partir de imagens sat\u00e9lites, \u00e9 resultado da parceria da CI-Brasil com a ONG Or\u00e9ades, que tem sede em Mineiros (GO). \u201cO Cerrado perde 2,6 campos de futebol por minuto de sua cobertura vegetal. Essa taxa de desmatamento \u00e9 dez vezes maior que a da Mata Atl\u00e2ntica, que \u00e9 de um campo a cada 4 minutos,\u201d explica Ricardo Machado, diretor da CI-Brasil para o Cerrado e um dos autores do estudo. \u201cMuitos l\u00edderes e tomadores de decis\u00e3o defendem, equivocadamente, o desmatamento do Cerrado s\u00f3 porque n\u00e3o \u00e9 coberto por densas florestas tropicais, como a Mata Atl\u00e2ntica ou a Amaz\u00f4nia. Essa posi\u00e7\u00e3o ignora o fato de o bioma abrigar a mais rica savana do mundo, com grande biodiversidade, e recursos h\u00eddricos valiosos para o Brasil. Nas suas chapadas est\u00e3o as nascentes dos principais rios das bacias Amaz\u00f4nica, do Prata e do S\u00e3o Francisco.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Entre os problemas provocados pelo desmatamento no Cerrado est\u00e3o a degrada\u00e7\u00e3o de rios importantes como o S\u00e3o Francisco e o Tocantins, e a destrui\u00e7\u00e3o de h\u00e1bitat que compromete a sobreviv\u00eancia de milhares de esp\u00e9cies, muitas delas end\u00eamicas, ou seja, que s\u00f3 ocorrem ali e em nenhum outro lugar do Planeta, como o papagaio-galego (Amazona xanthops) e a raposa-do-campo (Dusicyon vetulus). Junto com a biodiversidade est\u00e3o desaparecendo ainda as possibilidades de uso sustent\u00e1vel de muitos recursos, como plantas medicinais e esp\u00e9cies frut\u00edferas que s\u00e3o abundantes no Cerrado.<\/p>\n\n\n\n

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Segundo a Embrapa Recursos Gen\u00e9ticos e Biotecnologia, j\u00e1 foram catalogadas mais de 330 esp\u00e9cies de uso na medicina popular no Cerrado. A Arnica (Lychnophora ericoides), o Barbatim\u00e3o (Stryphnodendron adstringens), a Sucupira (Bowdichia sp.), o Mentrasto (Ageratum conyzoide) e o Velame (Macrosiphonia velame) s\u00e3o alguns exemplos.<\/p>\n\n\n\n

\u201cAl\u00e9m de calcular a velocidade do desmatamento, o estudo da CI-Brasil tamb\u00e9m mapeou os principais remanescentes desse bioma, analisando a situa\u00e7\u00e3o de sua cobertura vegetal\u201d, explica M\u00e1rio Barroso, gerente do programa do Cerrado da Conserva\u00e7\u00e3o Internacional Brasil e co-autor do estudo. \u201cEsses dados ser\u00e3o incorporados \u00e0 nossa estrat\u00e9gia de conserva\u00e7\u00e3o para o bioma, que est\u00e1 baseada na implementa\u00e7\u00e3o de corredores de biodiversidade.\u201d<\/p>\n\n\n\n

Os corredores de biodiversidade evitam o isolamento das \u00e1reas protegidas, garantindo o tr\u00e2nsito de esp\u00e9cies por um mosaico de unidades ambientalmente sustent\u00e1veis – parques, reservas p\u00fablicas ou privadas, terras ind\u00edgenas, al\u00e9m de propriedades rurais que desenvolvem atividades produtivas resguardando \u00e1reas naturais. Hoje, a CI-Brasil est\u00e1 implementando seis corredores de biodiversidade em regi\u00f5es do Cerrado: Emas-Taquari, Araguaia, Paran\u00e3, Jalap\u00e3o, Uru\u00e7u\u00ed-Mirador e Espinha\u00e7o. O IBAMA, a SEMARH – Secretaria de Meio Ambiente e Recursos H\u00eddricos do Estado de Goi\u00e1s, a Universidade de Bras\u00edlia e ONGs locais est\u00e3o entre os parceiros da CI-Brasil nesses corredores.<\/p>\n\n\n\n

Dados subsidiam a\u00e7\u00f5es de conserva\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Os dados do desmatamento no Cerrado come\u00e7am a ser apresentados pela CI-Brasil e seus parceiros a tomadores de decis\u00e3o dos mais diversos n\u00edveis. Em reuni\u00e3o do Conselho Nacional de Biodiversidade – CONABIO, no in\u00edcio de Julho, o estudo foi apresentado ao Secret\u00e1rio de Biodiversidade e Florestas, Jo\u00e3o Paulo Capobianco. Depois da apresenta\u00e7\u00e3o, o Secret\u00e1rio declarou que o Minist\u00e9rio do Meio Ambiente criar\u00e1 um grupo espec\u00edfico para discuss\u00e3o de medidas emergenciais para o Cerrado, como foi feito para a Amaz\u00f4nia e a Mata Atl\u00e2ntica.<\/p>\n\n\n\n

No Estado de Goi\u00e1s, que possui muitos remanescentes nativos valiosos de Cerrado, a apresenta\u00e7\u00e3o do estado de conserva\u00e7\u00e3o do Vale no Paran\u00e3 ao Conselho Estadual do Meio Ambiente resultou na cria\u00e7\u00e3o de C\u00e2mara T\u00e9cnica tempor\u00e1ria que discutir\u00e1 e propor\u00e1 a\u00e7\u00f5es de controle sobre o desmatamento na \u00e1rea. O Vale do Paran\u00e3, localizado na divisa dos Estados de Goi\u00e1s e Tocantins, \u00e9 considerado um centro de endemismo de aves, tem a maior concentra\u00e7\u00e3o no Cerrado de um tipo de forma\u00e7\u00e3o vegetal conhecido como floresta seca, e \u00e9 remanescente de um corredor natural que ligava a Caatinga ao Chaco paraguaio h\u00e1 cerca de 20 mil anos. O trabalho da CI-Brasil na \u00e1rea \u00e9 feito em parceria com a Embrapa Recursos Gen\u00e9ticos, a Universidade de Bras\u00edlia e as organiza\u00e7\u00f5es n\u00e3o-governamentais Pequi e Funatura.<\/p>\n\n\n\n

No Corredor de Biodiversidade Emas-Taquari, que compreende \u00e1reas no Sudoeste de Goi\u00e1s, Sudeste de Mato Grosso e Centro-Norte de Mato Grosso do Sul, os dados de desmatamento est\u00e3o sendo compartilhados com as prefeituras municipais de 17 munic\u00edpios. Com o Projeto Munic\u00edpios do Corredor de Biodiversidade, a CI-Brasil em parceria com as ONGs Or\u00e9ades e Oikos est\u00e1 fortalecendo \u00f3rg\u00e3os de meio ambiente municipais e estudais em cada cidade.<\/p>\n\n\n\n

T\u00e9cnicos e gestores foram capacitados para o levantamento local de dados, confec\u00e7\u00e3o de mapas e aplica\u00e7\u00e3o da legisla\u00e7\u00e3o ambiental. O projeto inclui ainda a cria\u00e7\u00e3o de n\u00facleos de educa\u00e7\u00e3o ambiental e o envolvimento de outros atores locais, como lideran\u00e7as comunit\u00e1rias e promotores p\u00fablicos.<\/p>\n\n\n\n

\u201cPara frear a destrui\u00e7\u00e3o do Cerrado, os investimentos do Governo Federal na pr\u00f3xima safra agr\u00edcola devem incluir a\u00e7\u00f5es de conserva\u00e7\u00e3o, especialmente na prote\u00e7\u00e3o de mananciais h\u00eddricos, na recupera\u00e7\u00e3o de \u00e1reas degradadas e na manuten\u00e7\u00e3o de unidades de conserva\u00e7\u00e3o\u201d, defende Machado. \u201cSe o Governo, as empresas e a sociedade civil se mobilizarem para a cria\u00e7\u00e3o de um fundo para a conserva\u00e7\u00e3o do Cerrado associado aos investimentos destinados \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de gr\u00e3os, a\u00ed sim estaremos implementando, de forma justa e efetiva, a transversalidade da pol\u00edtica ambiental no Brasil\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Revista Eco 21, Ano XIV, Edi\u00e7\u00e3o 92, Julho 2004. (www.eco21.com.br) –
\nAndrea Margit Jornalista
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