{"id":1776,"date":"2009-03-10T11:50:12","date_gmt":"2009-03-10T11:50:12","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:15:05","modified_gmt":"2021-07-10T23:15:05","slug":"cooperacao_internacional_e_sustentabilidade_das_florestas_na_amazonia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/florestal\/artigos\/cooperacao_internacional_e_sustentabilidade_das_florestas_na_amazonia.html","title":{"rendered":"Coopera\u00e7\u00e3o internacional e sustentabilidade das florestas na Amaz\u00f4nia"},"content":{"rendered":"\n

Por sua privilegiada geografia, estruturas geol\u00f3gicas, diversidade cultural de suas popula\u00e7\u00f5es e detentora de inestim\u00e1vel patrim\u00f4nio de florestas (sociobiodiversidade), recantos ecotur\u00edsticos, jazidas minerais e mananciais de \u00e1gua doce: bens absolutamente vitais na aurora do s\u00e9culo XXI \u2013 commodities do futuro; a Amaz\u00f4nia – maior fronteira de recursos naturais do planeta \u2013 megabioma que desafia saberes tradicionais e o conhecimento cient\u00edfico, diante das potencialidades e servi\u00e7os que pode disponibilizar – biotecnologia, seq\u00fcestro de carbono, ciclos hidroqu\u00edmicos, dentre outros, tem uma import\u00e2ncia fundamental na gesta\u00e7\u00e3o de um novo modelo de civiliza\u00e7\u00e3o \u2013 com a utiliza\u00e7\u00e3o racional de sua biomassa, conciliando o desenvolvimento s\u00f3cio-econ\u00f4mico com a prote\u00e7\u00e3o do meio ambiente no plano local, nacional, regional e global. A Amaz\u00f4nia deixou de ser uma quest\u00e3o delimitada por vis\u00f5es simplistas; constituindo-se agora num complexo espa\u00e7o multidimensional, plasmado por for\u00e7as, movimentos e atores transnacionais, alcan\u00e7ando import\u00e2ncia na agenda da pol\u00edtica mundial.<\/p>\n\n\n\n

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A Amaz\u00f4nia e suas florestas, como s\u00edmbolo maior do ambientalismo ocidental, constituem um dos vetores principais da coopera\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica-cient\u00edfica no cen\u00e1rio da globaliza\u00e7\u00e3o ecol\u00f3gica. N\u00e3o por acaso, no imagin\u00e1rio ecol\u00f3gico internacional e dos centros mais urbanizados do pa\u00eds, a Amaz\u00f4nia existe unicamente pela simbologia da floresta. Certamente o recurso mais valioso da Amaz\u00f4nia s\u00e3o as suas florestas e a sustentabilidade delas requer uma outra perspectiva. A emerg\u00eancia de problemas ambientais como perda de biodiversidade e as mudan\u00e7as clim\u00e1ticas na d\u00e9cada de 1980, motivaram uma crescente preocupa\u00e7\u00e3o com as florestas tropicais, e a Amaz\u00f4nia Brasileira, pela dimens\u00e3o territorial e posi\u00e7\u00e3o diferenciada que ocupa no cen\u00e1rio geopol\u00edtico da Am\u00e9rica do Sul, tornou-se centro das aten\u00e7\u00f5es da Comunidade Internacional, notadamente pelos riscos eminentes que a destrui\u00e7\u00e3o da maior floresta do mundo poderia acarretar para o equil\u00edbrio ecol\u00f3gico global.<\/p>\n\n\n\n

A partir da d\u00e9cada de 1990, o Brasil projeta-se como ponto de refer\u00eancia da coopera\u00e7\u00e3o internacional pelas vantagens comparativas que emergem de sua rica biodiversidade e seus impactos sobre o meio ambiente planet\u00e1rio, e particularmente a Amaz\u00f4nia torna-se um vasto espa\u00e7o para investimentos e implementa\u00e7\u00e3o de programas, projetos e pesquisas voltados para a conserva\u00e7\u00e3o da natureza e experi\u00eancias sustent\u00e1veis. Esta regi\u00e3o tem sido alvo de esfor\u00e7o multilateral e de campaigners, envolvendo a participa\u00e7\u00e3o de v\u00e1rios pa\u00edses, institui\u00e7\u00f5es financeiras e segmentos da sociedade civil mundial, tendo em vista o desafio da gest\u00e3o coletiva das crises ecol\u00f3gicas globais.<\/p>\n\n\n\n

Vale considerar o Fundo para o Meio Ambiente Global \u2013 GEF (Global Environment Facility), o Experimento de Grande Escala Biosfera-Atmosfera \u2013 LBA (The Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amaz\u00f4nia), e o Programa Piloto para a Prote\u00e7\u00e3o das Florestas Tropicais do Brasil – PPG-7 (The Pilot Program to Conserve the Brazilian Rain Forest), dentre outros, al\u00e9m do envolvimento de Universidades e Centros de pesquisa com o prop\u00f3sito de alocar recursos humanos e tecnol\u00f3gicos para promover o desenvolvimento sustent\u00e1vel na regi\u00e3o. Acrescente-se tamb\u00e9m a mobiliza\u00e7\u00e3o de movimentos ativistas transnacionais, como o Greenpeace, WWF (World Wildlife Fund), Conservation International, FOE (Friends of the Earth), dentre um n\u00famero expressivo de ONGs e redes da sociedade civil \u2013 do local ao global. No plano regional, vale ressaltar outras iniciativas convergentes, como o Tratado de Coopera\u00e7\u00e3o Amaz\u00f4nica – TCA, assinado em 1978 (hoje revitalizado pela cria\u00e7\u00e3o da Organiza\u00e7\u00e3o do Tratado de Coopera\u00e7\u00e3o Amaz\u00f4nica), a Associa\u00e7\u00e3o das Universidades Amaz\u00f4nicas \u2013 UNAMAZ, fundada em 1987, e a implanta\u00e7\u00e3o do Sistema de Informa\u00e7\u00e3o da Amaz\u00f4nia \u2013 SIAMAZ, em 1992; que tem permitido a integra\u00e7\u00e3o, trocas de experi\u00eancias e avan\u00e7os institucionais consider\u00e1veis entre os pa\u00edses que formam a Pan-Amaz\u00f4nia.<\/p>\n\n\n\n

Com efeito, a implementa\u00e7\u00e3o de vias sustent\u00e1veis de desenvolvimento sustent\u00e1vel na Amaz\u00f4nia passa inevitavelmente pela coopera\u00e7\u00e3o internacional, principalmente em fun\u00e7\u00e3o dos benef\u00edcios proporcionados pelos ecossistemas regionais \u00e0 din\u00e2mica do desenvolvimento continental e global, notadamente atrav\u00e9s da sustentabilidade da maior floresta tropical do planeta. O PPG-7 e o LBA s\u00e3o exemplos emblem\u00e1ticos de como a interdepend\u00eancia e coopera\u00e7\u00e3o na \u00e1rea ambiental podem reverter, atrav\u00e9s da promo\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas p\u00fablicas, tecnologias e produ\u00e7\u00e3o de novos conhecimentos, em benef\u00edcio das comunidades regionais e da mitiga\u00e7\u00e3o das mudan\u00e7as clim\u00e1ticas e prote\u00e7\u00e3o de biodiversidade no plano da governan\u00e7a global.<\/p>\n\n\n\n

Pelo formato inovador de coopera\u00e7\u00e3o entre governos, sociedade civil e comunidade financeira internacional, o PPG-7 tem somado resultados positivos, atrav\u00e9s da demarca\u00e7\u00e3o de terras ind\u00edgenas, projetos de reservas extrativistas e implementa\u00e7\u00e3o de projetos demonstrativos comunit\u00e1rios. Por outro lado, o LBA constitui uma importante iniciativa de pesquisa comprometida com gera\u00e7\u00e3o de conhecimentos nos aspectos ecol\u00f3gicos, climatol\u00f3gicos, biogeoqu\u00edmicos e hidrol\u00f3gicos sobre a Amaz\u00f4nia. Na Terceira Confer\u00eancia Cient\u00edfica, realizada em julho deste ano, o Programa LBA contabilizou avan\u00e7os importantes: crescente forma\u00e7\u00e3o de recursos humanos na \u00e1rea cient\u00edfica para estudos e pesquisas, possibilidades de planejamento estrat\u00e9gico para a pesquisa agr\u00edcola, atrav\u00e9s do conhecimento dos mecanismos que governam o clima e a vegeta\u00e7\u00e3o e, fundamentalmente, a constata\u00e7\u00e3o de que a Amaz\u00f4nia contribui de modo significativo para limpar a atmosfera, prestando um servi\u00e7o ambiental extremamente importante para o planeta. Ainda assim, o n\u00edvel de recursos e investimentos aprovados pela coopera\u00e7\u00e3o internacional est\u00e1 muito aqu\u00e9m dos benef\u00edcios ecossist\u00eamicos da regi\u00e3o para a sa\u00fade da biosfera. No entanto, o fato de ter sido selecionada como \u00e1rea priorit\u00e1ria em termos de financiamento externo pelos pa\u00edses desenvolvidos, revela a import\u00e2ncia estrat\u00e9gica da regi\u00e3o na contribui\u00e7\u00e3o para a integridade do ecossistema planet\u00e1rio, e em decorr\u00eancia disso, a sua influ\u00eancia na agenda dos principais atores da governan\u00e7a do sistema internacional.<\/p>\n\n\n\n

Recentemente, a revista brit\u00e2nica The Economist afirmou que os pa\u00edses tropicais deveriam ser beneficiados economicamente por meio de algum tipo de desflorestamento. \u201cOs Estados Unidos e a Europa derrubaram a maioria de suas florestas nos \u00faltimos s\u00e9culos. Quem s\u00e3o eles para dizer \u00e0 Indon\u00e9sia, ao Brasil e ao Congo para fazer o contr\u00e1rio?\u201d, indaga o editorial. Est\u00e1 na hora dos pa\u00edses ricos e desenvolvidos pagarem a conta pela conserva\u00e7\u00e3o da floresta amaz\u00f4nica.<\/p>\n\n\n\n

Alberto Teixeira da Silva \u00e9 soci\u00f3logo, professor-adjunto do Departamento de Ci\u00eancia Pol\u00edtica da UFPA (alberts@amazon.com.br)<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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