{"id":1775,"date":"2009-03-10T11:25:14","date_gmt":"2009-03-10T11:25:14","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:15:06","modified_gmt":"2021-07-10T23:15:06","slug":"esperanca_de_sobrevivencia","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/florestal\/artigos\/esperanca_de_sobrevivencia.html","title":{"rendered":"Esperan\u00e7a de sobreviv\u00eancia"},"content":{"rendered":"\n

Durante mais de dez anos, a bi\u00f3loga e taxonomista, L\u00facia Helena Soares e Silva esperou pela confirma\u00e7\u00e3o cient\u00edfica de que aquela \u00e1rvore enorme que viu pela primeira vez no Parque Estadual Mata dos Godoy, em Londrina (PR), era realmente uma esp\u00e9cie nova. A desconfian\u00e7a existia, mas era preciso obter o aval de um especialista na fam\u00edlia Leguminosae (a pesquisadora \u00e9 especialista na fam\u00edlia Myrtaceae), que foi localizado no Jardim Bot\u00e2nico do Rio de Janeiro. Felizmente, o tempo de espera n\u00e3o foi em v\u00e3o. L\u00facia havia descoberto realmente uma esp\u00e9cie rara ainda n\u00e3o classificada pela ci\u00eancia. Em Mar\u00e7o de 2004, ela foi apresentada oficialmente \u00e0 comunidade internacional mediante a publica\u00e7\u00e3o do seu trabalho no Botanical Journal da Linnean Society of London, um dos mais respeitados ve\u00edculos de divulga\u00e7\u00e3o cient\u00edfica do mundo.<\/p>\n\n\n\n

A nova esp\u00e9cie, batizada de Exostyles godoyensis Soares-Silva & Mansano, \u00e9 parente do feij\u00e3o e da ervilha, que pertencem \u00e0 fam\u00edlia das leguminosas. A \u00e1rvore ultrapassa os 20 metros de altura e s\u00f3 existe na regi\u00e3o em que foi encontrada, na linha do Tr\u00f3pico de Capric\u00f3rnio, em um dos raros fragmentos de floresta de Planalto que ainda restam no Pa\u00eds, no bioma Mata Atl\u00e2ntica. Por estar numa Unidade de Conserva\u00e7\u00e3o de 680 hectares, protegida por Lei estadual, a Exostyles tem mais chances de n\u00e3o ser extinta; mas \u00e9 preciso muito cuidado, porque dela se conhecem, na mesma regi\u00e3o, menos de dez exemplares adultos.<\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n
<\/div>\n\n\n\n

\u201c\u00c9 gratificante ter uma descoberta como essa reconhecida no mundo. Essa, em especial, reserva um gostinho de vit\u00f3ria por causa da raridade da esp\u00e9cie\u201d, comenta L\u00facia Helena Soares e Silva.<\/p>\n\n\n\n

Hoje, a amostra original da esp\u00e9cie (chamada hol\u00f3tipo) encontra-se apenas no Herb\u00e1rio do Departamento de Bot\u00e2nica da Universidade de Bras\u00edlia (UnB). \u201cAgora ela tem sua certid\u00e3o de nascimento de verdade e a UnB foi o \u2018cart\u00f3rio\u2019 que a registrou\u201d.<\/p>\n\n\n\n

Mas, o trabalho de \u201cgarimpagem\u201d da pesquisadora n\u00e3o p\u00e1ra por a\u00ed. Outra descoberta importante, na mesma regi\u00e3o, foi a da Eugenia myrciariifolia, que tamb\u00e9m acabou recebendo o sobrenome Soares-Silva & Sobral \u2013 assim como acontece com os beb\u00eas que ganham um nome e o sobrenome dos pais na certid\u00e3o de nascimento. Essa esp\u00e9cie, uma quase irm\u00e3 da cagaiteira (Eugenia dysenterica) do Cerrado, ambas da fam\u00edlia Myrtaceae, s\u00f3 \u00e9 encontrada no Paran\u00e1, regi\u00e3o de Sapopema, \u00e0 margem direita do Rio Lajeado. A descoberta ocorreu durante as pesquisas do doutorado de L\u00facia Helena, tamb\u00e9m desenvolvidas no Estado, em regi\u00e3o de Mata Atl\u00e2ntica. A primeira s\u00e9rie de descobertas comprovadas da professora come\u00e7ou h\u00e1 dois anos, com a publica\u00e7\u00e3o de uma nova forma de Myrcia rostrata Soares-Silva, tamb\u00e9m da fam\u00edlia das mirt\u00e1ceas encontrada em 1996, em mata ciliar do Rio Jacucaca, munic\u00edpio de Calif\u00f3rnia (PR). A mesma esp\u00e9cie apresenta outras duas formas, com caracter\u00edsticas bem diferentes da forma flexuosa, que tem nada menos que nove metros de altura.<\/p>\n\n\n\n

Al\u00e9m das plantas classificadas e j\u00e1 reconhecidas por especialistas internacionais, L\u00facia Helena pode estar prestes a incluir outros registros seus na hist\u00f3ria da bot\u00e2nica. Mais tr\u00eas esp\u00e9cies est\u00e3o em fase de estudos para constata\u00e7\u00e3o de que se trata de novas descobertas cient\u00edficas. Al\u00e9m da descri\u00e7\u00e3o f\u00edsica detalhada da esp\u00e9cie, a confirma\u00e7\u00e3o precisa passar pelo crivo de especialistas (entre eles, a pr\u00f3pria pesquisadora) e pela consulta a v\u00e1rios herb\u00e1rios do Brasil e do mundo.<\/p>\n\n\n\n

A import\u00e2ncia das descobertas da bi\u00f3loga L\u00facia Helena Soares e Silva n\u00e3o fica limitada aos desdobramentos acad\u00eamicos; representa um alerta \u00e0 urg\u00eancia da preserva\u00e7\u00e3o de esp\u00e9cies que est\u00e3o sendo destru\u00eddas antes mesmo de serem conhecidas.<\/p>\n\n\n\n

Todas as esp\u00e9cies que agora levam o sobrenome da professora pertencem \u00e0 Mata Atl\u00e2ntica, um dos biomas mais ricos em biodiversidade e um dos mais degradados, principalmente pela ocupa\u00e7\u00e3o humana. S\u00f3 para lembrar algo que todos conhecem, o bioma ocupava 1,3 milh\u00e3o de quil\u00f4metros quadrados \u2013 cerca de 15% do territ\u00f3rio nacional em 17 Estados \u2013 e atualmente existe menos de 7% da extens\u00e3o original, quase 99 mil quil\u00f4metros quadrados de \u00e1reas remanescentes fragmentadas, localizadas na por\u00e7\u00e3o Sul de Goi\u00e1s e Mato Grosso, interior da Regi\u00e3o Sul, Sudeste e Nordeste e da costa brasileira.<\/p>\n\n\n\n

K\u00e1tia Marsicano – Jornalista da Universidade de Bras\u00edlia
\nRevista Eco 21, Ano XIV, Edi\u00e7\u00e3o 96, Novembro 2004. (www.eco21.com.br)
\n<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Durante mais de dez anos, a bi\u00f3loga e taxonomista, L\u00facia Helena Soares e Silva esperou pela confirma\u00e7\u00e3o cient\u00edfica de que aquela \u00e1rvore enorme que viu pela primeira vez no Parque Estadual Mata dos Godoy, em Londrina (PR), era realmente uma esp\u00e9cie nova. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1479],"tags":[23,18],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1775"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1775"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1775\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":4658,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1775\/revisions\/4658"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1775"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1775"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1775"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}