{"id":1341,"date":"2009-02-05T16:26:33","date_gmt":"2009-02-05T16:26:33","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:40","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:40","slug":"invasoes_biologicas_uma_ameaca_a_biodiversidade","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/fauna\/artigos\/invasoes_biologicas_uma_ameaca_a_biodiversidade.html","title":{"rendered":"Invas\u00f5es biol\u00f3gicas, uma amea\u00e7a \u00e0 biodiversidade"},"content":{"rendered":"\n

As invas\u00f5es biol\u00f3gicas ainda n\u00e3o constam dos curr\u00edculos escolares do Brasil, embora j\u00e1 constituam a segunda grande causa de perda de biodiversidade em todo o mundo. Nos Estados Unidos, a \u00e1rea tomada pelas esp\u00e9cies ex\u00f3ticas invasoras aumenta em cerca de 2 mil hectares por dia (cada hectare equivale a uma quadra urbana de 100m x 100m). As invas\u00f5es e seus custos aumentam em progress\u00e3o geom\u00e9trica ao longo do tempo. Por exemplo, uma \u00e1rvore invasora isolada que produza em 5 anos 100 novas plantas ter\u00e1 como descend\u00eancia, em outros 5 anos, 100 x 100 novas plantas, ou seja, 10.000 plantas; e assim sucessivamente.<\/p>\n\n\n\n

As esp\u00e9cies s\u00e3o chamadas de ex\u00f3ticas quando introduzidas em ecossistemas do qual n\u00e3o fazem parte. Podem ser de plantas, de animais ou de microorganismos. Muitas dessas esp\u00e9cies n\u00e3o conseguem se adaptar e desaparecem. Outras se adaptam, se reproduzem e invadem o ambiente, expulsando esp\u00e9cies nativas e alterando seu funcionamento. Nesses casos, s\u00e3o denominadas esp\u00e9cies ex\u00f3ticas invasoras. Muitas esp\u00e9cies invasoras passam desapercebidas, apesar de estarem estabelecidas em nosso meio. A dificuldade \u00e9 que em muitos casos \u00e9 necess\u00e1rio um certo conhecimento bot\u00e2nico para identific\u00e1-las, o que se torna mais f\u00e1cil quando destoam da paisagem natural.<\/p>\n\n\n\n

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Um exemplo brasileiro com impactos negativos tanto no meio quanto na capacidade de produ\u00e7\u00e3o \u00e9 a invas\u00e3o de capim-annoni (Eragrostis plana) no Rio Grande do Sul. Origin\u00e1ria da \u00c1frica do Sul, a esp\u00e9cie foi introduzida em mistura com sementes de outra forrageira e ent\u00e3o selecionada e comercializada por um fazendeiro chamado Annoni. Anos depois, percebeu-se que o gado n\u00e3o se alimentava da planta, extremamente fibrosa, mas j\u00e1 era tarde demais para conter a invas\u00e3o. Em 1989, quando o Minist\u00e9rio da Agricultura proibiu o com\u00e9rcio da esp\u00e9cie, j\u00e1 havia 30 mil hectares de campos naturais invadidos e dominados. Atualmente, a unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu\u00e1ria (Embrapa) de Pelotas-RS estima que j\u00e1 est\u00e3o ocupados mais de 500.000 hectares no estado, com elevados preju\u00edzos para a produ\u00e7\u00e3o pecu\u00e1ria. O capim annoni j\u00e1 est\u00e1 em Santa Catarina e no Paran\u00e1, onde \u00e9 comum ao longo de rodovias e de estradas rurais. Sem a\u00e7\u00f5es de controle, o aumento da invas\u00e3o \u00e9 apenas uma quest\u00e3o de tempo.<\/p>\n\n\n\n

Essa \u00e9 outra caracter\u00edstica das invas\u00f5es biol\u00f3gicas: ao contr\u00e1rio de grande parte dos impactos ambientais, que s\u00e3o lentamente absorvidos pelo meio, as invas\u00f5es se agravam com o tempo e, na maior parte dos casos, o processo s\u00f3 \u00e9 revers\u00edvel com interfer\u00eancia humana. Nos Estados Unidos, estima-se em 137 bilh\u00f5es de d\u00f3lares anuais as despesas do pa\u00eds com o controle dessas esp\u00e9cies nas \u00e1reas da agricultura, da sa\u00fade e do ambiente.<\/p>\n\n\n\n

Outros exemplos de esp\u00e9cies em processo invasor no Brasil s\u00e3o cinamomo, do Paquist\u00e3o; uva-do-jap\u00e3o, da China e Jap\u00e3o; cedrinho, de Portugal; ac\u00e1cia-negra, da Austr\u00e1lia; n\u00easpera, do Jap\u00e3o; tojo, da Europa; eucalipto, da Austr\u00e1lia; braqui\u00e1ria e capim-gordura, da \u00c1frica; maria-sem-vergonha, da \u00c1sia; l\u00edrio-do-brejo, da \u00c1sia; pinus, da Am\u00e9rica do Norte; amarelinho, do M\u00e9xico; e leucena, da \u00c1frica, entre muitas outras. Entre os animais, destacam-se o javali, que vem causando preju\u00edzos ao cultivo de arroz no Rio Grande do Sul; peixes ex\u00f3ticos como a carpa, a til\u00e1pia e o bagre africano, que escapam ao cultivo e depredam as popula\u00e7\u00f5es de peixes nativos; o lagarto Tupinambis, em Fernando de Noronha, que se alimenta dos ovos de aves nativas; b\u00fafalos, cachorros e gatos asselvajados. Na \u00e1rea da sa\u00fade, tamb\u00e9m n\u00e3o faltam exemplos de invas\u00f5es biol\u00f3gicas: a febre aftosa, o v\u00edrus eb\u00f3la, o v\u00edrus da Aids, a dengue, transmitida por um inseto de origem eg\u00edpcia, e a pr\u00f3pria peste negra que assolou a Europa na Idade M\u00e9dia.<\/p>\n\n\n\n

Todos os exemplos acima ilustram um mesmo problema, que tem conseq\u00fc\u00eancias sociais, ambientais e econ\u00f4micas. \u00c9 tarefa de cada um ajudar, n\u00e3o cultivando nem transportando esp\u00e9cies consagradas como invasoras. O setor produtivo tem o papel de implantar medidas de preven\u00e7\u00e3o e controle e de buscar alternativas de esp\u00e9cies n\u00e3o invasoras para produ\u00e7\u00e3o, preferencialmente nativas.<\/p>\n\n\n\n

As esp\u00e9cies dos g\u00eaneros Pinus e Eucalyptus s\u00e3o a base da produ\u00e7\u00e3o florestal em todo o mundo e apresentam elevada import\u00e2ncia econ\u00f4mica. O plantio comercial n\u00e3o constitui um problema em si, mas ainda carece de manejo adequado para controle da dispers\u00e3o de sementes e mudas. A dispers\u00e3o de plantas a partir dos n\u00facleos de reflorestamento \u00e9 que constitui hoje um problema, n\u00e3o apenas nos campos do Sul do Brasil, mas tamb\u00e9m na Argentina, \u00c1frica do Sul, Nova Zel\u00e2ndia, Austr\u00e1lia e certamente em outros pa\u00edses para os quais ainda n\u00e3o h\u00e1 registros oficiais. Esses n\u00facleos de dispers\u00e3o n\u00e3o est\u00e3o, por\u00e9m, limitados a plantios comerciais. Existem in\u00fameros pequenos plantios de \u00e1rvores ao longo de estradas ou para fins ornamentais em fazendas que contribuem em muito para o processo de invas\u00e3o. Por isso, o engajamento da sociedade na conten\u00e7\u00e3o das invas\u00f5es biol\u00f3gicas \u00e9 crucial, para que n\u00e3o se cultivem esp\u00e9cies invasoras e para eliminar as que se encontram estabelecidas.<\/p>\n\n\n\n

A melhor garantia de sucesso para conter uma invas\u00e3o \u00e9 a sua detec\u00e7\u00e3o precoce e a ado\u00e7\u00e3o imediata de medidas de controle. Para tanto, \u00e9 preciso investir em conhecimento cient\u00edfico e no esclarecimento do p\u00fablico, pois a tomada de responsabilidade de cada indiv\u00edduo, propriet\u00e1rio rural, empres\u00e1rio ou amante de plantas ornamentais, \u00e9 a chave para a solu\u00e7\u00e3o do problema.<\/p>\n\n\n\n

Reda\u00e7\u00e3o Ambiente Brasil<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"