{"id":1339,"date":"2009-02-05T15:27:11","date_gmt":"2009-02-05T15:27:11","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:40","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:40","slug":"germano_o_advogado_do_sapo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/fauna\/artigos\/germano_o_advogado_do_sapo.html","title":{"rendered":"Germano, O Advogado do Sapo"},"content":{"rendered":"\n

Pergunte-se ao Dicion\u00e1rio do Folclore Brasileiro o que \u00e9 sapo. Logo na primeira linha, o verbete de Lu\u00eds da C\u00e2mara Cascudo dir\u00e1 que “\u00e9 um elemento indispens\u00e1vel nas bruxarias”. Fa\u00e7a-se a mesma pergunta ao f\u00edsico Germano Woehl J\u00fanior. Ele responder\u00e1 que \u00e9 o bicho mais difamado da fauna brasileira. “Considerado feio e associado a doen\u00e7as e feiti\u00e7arias”, ele \u00e9 o elo mais fraco da cadeia que nos liga \u00e0 natureza. <\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n

<\/span><\/div>\n\n\n\n

Convencido de que \u00e9 com os sapos, as r\u00e3s e as pererecas que aprendemos a n\u00e3o gostar do que nos resta de florestas, ele gastou todos os fins de semana, f\u00e9rias e licen\u00e7as dos \u00faltimos cinco anos a levar crian\u00e7as para ver de perto os anf\u00edbios nos cinco hectares de mata atl\u00e2ntica que comprou para preservar em Guaramirim, Santa Catarina. Oito mil alunos das escolas vizinhas j\u00e1 passaram pela reserva particular, que desde o come\u00e7o do ano atende pelo nome de Instituto R\u00e3 Bugio para Conserva\u00e7\u00e3o da Biodiversidade, uma ONG ambientalista. <\/p>\n\n\n\n

Resultado: j\u00e1 foi visitado por lavradores da regi\u00e3o, pedindo ajuda para negociar com os filhos uma forma de aproveitar os banhados em suas terras sem acabar com as lagoas onde se reproduzem os girinos. Em sua p\u00e1gina na internet, ocupa lugar de honra o Bufo ictericus de 22,5 cent\u00edmetros “encontrado por Paulo Beta, 15 anos, em Massaranduba. O sapo se chama Paulinho e vive desde 2001 “como animal de estima\u00e7\u00e3o”. E Germano coleciona fotografias de crian\u00e7as com r\u00e3s no colo. <\/p>\n\n\n\n

Ele \u00e9 persistente. Filho de pequenos agricultores, aos 11 anos, trabalhando na terra, resolveu que seria cientista. Hoje pesquisa fibras \u00f3ticas no Centro T\u00e9cnico Aeroespacial do Minist\u00e9rio da Aeron\u00e1utica, o CTA. Criado no planalto de Santa Catarina, conheceu a floresta tropical na viagem em que viu pela primeira vez o mar, aos 12 anos. “Fiquei fascinado”, diz ele. “Mas, cada vez que ia rever a mata, encontrava destrui\u00e7\u00e3o por todo lado e pensava que tinha que fazer alguma coisa”. <\/p>\n\n\n\n

Comprou por 17 mil reais um naco da serra de Dona Francisca, onde n\u00e3o existem unidades de conserva\u00e7\u00e3o oficiais. E come\u00e7ou a ficar impressionado com a quantidade de anf\u00edbios que encontrava na propriedade, onde desde ent\u00e3o catalogou 41 esp\u00e9cies, “algumas muito raras e pelo menos duas desconhecidas”. Convenceu-se de que “tinha, sem querer, comprado um tesouro. Levava as fotografias para mostrar aos especialistas e eles queriam saber onde eu tinha encontrado aquilo. E meu terreno \u00e9  pequeno”.  <\/p>\n\n\n\n

Em 1998, montou uma exposi\u00e7\u00e3o das primeiras fotografias em S\u00e3o Jos\u00e9 dos Campos, onde fica o CTA. “Cinco mil pessoas foram ver os bichos e a maioria sa\u00eda dizendo que eles eram bonitos”, ele conta. Assim, descobriu a f\u00f3rmula. Sua cole\u00e7\u00e3o come\u00e7ou a viajar por Santa Catarina, agora com 70 fotografias. Percorreu 120 cidades. Foi vista por 500 mil pessoas. Naquele ano, gastou nisso tudo o que sobrava do sal\u00e1rio. Como pesquisador, ele ganha cerca de 4 mil reais no servi\u00e7o p\u00fablico.  <\/p>\n\n\n\n

Ultimamente, tem patroc\u00ednio. A Funda\u00e7\u00e3o O Botic\u00e1rio ajudou-o a montar as exposi\u00e7\u00f5es itinerantes. A WEG, uma f\u00e1brica de motores el\u00e9tricos com sede na regi\u00e3o, bancou uma cartilha para a identifica\u00e7\u00e3o dos bichos. Os 30 mil exemplares foram doados a alunos da rde p\u00fablica. A Brasil Telecom usou seus sapos no ano passado para ilustrar 1800 cart\u00f5es telef\u00f4nicos. E a Avina deu-lhe recentemente o empurr\u00e3o para transformar numa ONG o trabalho que ele e a mulher, Elza Nishimura Wohel, sempre fizeram informalmente nos fins-de-semana. <\/p>\n\n\n\n

O casal \u00e9 a equipe do R\u00e3-Bugio. H\u00e1 anos nenhum dos dois vai ao cinema. Suas horas vagas s\u00e3o para guiar visitantes. Vivem de l\u00e1 para c\u00e1 entre Guaramirim e S\u00e3o Jos\u00e9 dos Campos. S\u00e3o 680 quil\u00f4metros de estrada duas vezes por m\u00eas e, por economia, fazem a viagem de \u00f4nibus. Os sapos s\u00f3 lhes d\u00e3o despesa, mas n\u00e3o adianta perguntar por que n\u00e3o cobram o ingresso na reserva. “E algu\u00e9m iria pagar para ver sapo?” – responde Germano, como se a id\u00e9ia nunca lhe tivesse passado pela cabe\u00e7a.<\/p>\n\n\n\n

Marcos S\u00e1 Corr\u00eaa
Foi diretor da revista \u00c9poca, editor especial da Veja e editor geral do Jornal do Brasil. Tem quatro livros publicados e dois document\u00e1rios, pela V\u00eddeo Filmes, em parceria com Jo\u00e3o Moreira Sales. Atualmente, \u00e9 diretor do No.com.br <\/p>\n\n\n\n

Entrevista da AOL<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Pergunte-se ao Dicion\u00e1rio do Folclore Brasileiro o que \u00e9 sapo. Logo na primeira linha, o verbete de Lu\u00eds da C\u00e2mara Cascudo dir\u00e1 que “\u00e9 um elemento indispens\u00e1vel nas bruxarias”. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":1340,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1463],"tags":[23,125,913],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1339"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1339"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1339\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5310,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1339\/revisions\/5310"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/1340"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1339"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1339"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1339"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}