{"id":1324,"date":"2009-02-05T13:45:19","date_gmt":"2009-02-05T13:45:19","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:43","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:43","slug":"a_ilha_das_aguias_gigantes","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/fauna\/artigos\/a_ilha_das_aguias_gigantes.html","title":{"rendered":"A ilha das \u00e1guias gigantes"},"content":{"rendered":"\n

No \u00faltimo cap\u00edtulo da trilogia O Senhor dos An\u00e9is, o resgate de Frodo Baggins e Samwise Gamgee, realizado por \u00e1guias gigantescas, n\u00e3o \u00e9 somente uma id\u00e9ia gerada pela imagina\u00e7\u00e3o contida nas lendas ou nos contos de fadas; essas portentosas aves habitaram realmente a Nova Zel\u00e2ndia. Hoje extintas, a sua exist\u00eancia foi documentada e explicada recentemente a partir da an\u00e1lise de um antigo DNA dessas \u00e1guias, encontrado por Michael Bunce, antrop\u00f3logo da Universidade McMaster do Canad\u00e1.<\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n

O estudo, publicado pela PloS Biology da pr\u00f3pria McMaster descreve minuciosamente a enorme \u00c1guia de Haast (Harpagornis moorei) que pesava entre 10 e 15 kg, portanto 40% mais pesada que a maior ave de presa existente hoje em dia: a Harpia ou \u00c1guia Real, com 4,5 kg de peso, 2 metros de envergadura e 90 cent\u00edmetros de altura, 11 a mais que a \u00c1guia Careca Americana e bem maior que as esp\u00e9cies encontradas na \u00c1frica e na Europa; esp\u00e9cie que se encontra entre as aves em extin\u00e7\u00e3o, sendo rara sua presen\u00e7a no M\u00e9xico, na Bol\u00edvia e na Argentina.<\/p>\n\n\n\n

No Brasil a Harpia Amaz\u00f4nica resiste bravamente, sendo a Floresta Amaz\u00f4nica, principalmente os estados do Amap\u00e1 e Roraima, na fronteira com a Guiana Francesa e a Venezuela, praticamente seu \u00faltimo h\u00e1bitat. As \u00e1guias s\u00e3o aves falconiformes da fam\u00edlia dos acipitr\u00eddeos, dotadas de bico e garras de consider\u00e1vel robustez, predominantemente predadoras, especialmente aquelas de grande porte.<\/p>\n\n\n\n

Michael Bunce extraiu o DNA de ossos f\u00f3sseis que datam uns 2.000 anos. O antrop\u00f3logo canadense, ao comentar sua descoberta, disse: \u201cQuando come\u00e7amos o projeto, nosso objetivo era provar que havia uma rela\u00e7\u00e3o entre a extinta \u00c1guia de Haast e a enorme \u00c1guia Australiana de Rabo Cuneiforme (Australian Wedge-tailed Eagle). Mas os resultados dos testes de DNA foram t\u00e3o radicais que, num primeiro momento, duvidamos de sua autenticidade\u201d. Tais resultados mostraram que a gigante da Nova Zel\u00e2ndia estava mesmo relacionada geneticamente a uma das menores \u00e1guias do mundo \u2013 a Pequena \u00c1guia da Austr\u00e1lia e Nova Guin\u00e9, que pesa menos de 900 gramas.<\/p>\n\n\n\n

Os testes de DNA do f\u00f3ssil desta esp\u00e9cie (por compara\u00e7\u00e3o com o DNA de 16 esp\u00e9cies de \u00e1guias atualmente existentes) permitiram provar que, numa surpreendentemente r\u00e1pida evolu\u00e7\u00e3o, esta esp\u00e9cie est\u00e1 estreitamente relacionada com uma outra atual, com um d\u00e9cimo da sua massa corporal (e que \u00e9, simultaneamente, uma das esp\u00e9cies analisadas de menor tamanho). Este fato ilustra a potencial rapidez e plasticidade morfol\u00f3gica de altera\u00e7\u00e3o de tamanho no mundo dos vertebrados, especialmente em ecossistemas cujo h\u00e1bitat se situa em ilhas ou arquip\u00e9lagos.<\/p>\n\n\n\n

\u201cMais surpreendente ainda foi a descoberta da estreita rela\u00e7\u00e3o gen\u00e9tica que havia entre as duas esp\u00e9cies. Estimamos que o ancestral de ambas tenha vivido h\u00e1 menos de um milh\u00e3o de anos. Isso significa que uma \u00e1guia deve ter chegado \u00e0 Nova Zel\u00e2ndia e que seu peso deve ter aumentado de 10 a 15 vezes nesse per\u00edodo, o que \u00e9 muito r\u00e1pido em termos de evolu\u00e7\u00e3o. Tal aumento de tamanho \u00e9 in\u00e9dito em aves e animais\u201d, acrescentou Bunce.<\/p>\n\n\n\n

Antes de ser povoada pelos seres humanos h\u00e1 700 anos, a ilha de Aoteroa, cujo nome original em l\u00edngua Maori significa \u201cPa\u00eds das Grandes Nuvens Brancas\u201d, atual Nova Zel\u00e2ndia, fora tr\u00eas esp\u00e9cies dos morcegos, o arquip\u00e9lago era habitado por cerca de 250 esp\u00e9cies de aves e n\u00e3o acolhia nenhum mam\u00edfero terrestre. Devido ao seu relativo isolamento, a Nova Zel\u00e2ndia desenvolveu um ecossistema \u00fanico.<\/p>\n\n\n\n

No topo da cadeia alimentar se encontrava a \u00c1guia de Haast, \u00fanico falconiforme a dominar, como grande predador, esse ecossistema majoritariamente insular.<\/p>\n\n\n\n

Os cientistas acreditam que esta \u00e1guia se extinguiu aproximadamente dois s\u00e9culos ap\u00f3s o povoamento da Ilha. As \u00e1guias ca\u00e7avam as moas gigantes (Dinornis giganteus) e kiwis (Apteryx australis), uma ave encontrada comumente na Oceania. A Nova Zel\u00e2ndia \u00e9 tamb\u00e9m a resid\u00eancia do tuatara, uma esp\u00e9cie antiga de r\u00e9ptil, e do weta um inseto que pode atingir mais de 8 cm de comprimento.<\/p>\n\n\n\n

O Moa Gigante era uma ave gigantesca \u2013 uma das maiores que j\u00e1 existiram \u2013 que viveu na Ilha j\u00e1 na mais recente etapa do Holoceno, at\u00e9 desaparecer h\u00e1 700 anos.<\/p>\n\n\n\n

Sua extin\u00e7\u00e3o coincide com a chegada do Homem \u00e0 Ilha; provas f\u00f3sseis que consistem em ossos quebrados por ferramentas humanas, carbonizados e com marcas de dentes humanos, demonstram serem os homens os respons\u00e1veis pela extin\u00e7\u00e3o de magn\u00edfica ave, a qual j\u00e1 n\u00e3o possu\u00eda mais alguns ossos das asas e nem jun\u00e7\u00f5es das asas com o corpo. Os Moas se alimentavam de folhas, viviam em pares ou em pequenos grupos familiares e n\u00e3o tinham predadores naturais, isto \u00e9, at\u00e9 a chegada do Homem. Existiam 11 esp\u00e9cies diferentes de Moas, a maior delas era o Dinornis maximus, que podia chegar a quase 4 metros de altura e pesar 400 kg.<\/p>\n\n\n\n

Muitos dos nichos ecol\u00f3gicos que normalmente teriam sido ocupados por mam\u00edferos, eram preenchidos por aves, incluindo o Kiwi (incapaz de voar) e o Moa. A Nova Zel\u00e2ndia \u00e9 tamb\u00e9m a resid\u00eancia do Tuatara, uma esp\u00e9cie antiga de r\u00e9ptil e do Weta, inseto nativo que pode atingir mais de 8 cm de comprimento, muito parecido com um grilo.<\/p>\n\n\n\n

Apesar de sua apar\u00eancia, os Tuataras n\u00e3o s\u00e3o lagartos. Eles s\u00e3o os \u00fanicos membros sobreviventes da ordem Rhynchocephalia. F\u00f3sseis de Rhyncholephalianos mostram r\u00e9pteis de pequeno e m\u00e9dio porte que eram muito comuns no mundo h\u00e1 cerca de 225\/120 milh\u00f5es de anos, muito antes de o primeiro dinossauro aparecer na Terra. Com o tempo, esses animais foram desaparecendo e h\u00e1 cerca de 60 milh\u00f5es de anos eles ficaram praticamente extintos, exceto por uma pequena popula\u00e7\u00e3o que vive na Nova Zel\u00e2ndia.<\/p>\n\n\n\n

Os primeiros exploradores europeus a chegar \u00e0 Nova Zel\u00e2ndia foram o holand\u00eas Abel Tasman, em 1642, e o ingl\u00eas James Cook, em 1769, cujas pesquisas conduziram a uma coloniza\u00e7\u00e3o total europ\u00e9ia a partir de 1790.<\/p>\n\n\n\n

A Nova Zel\u00e2ndia \u00e9 um arquip\u00e9lago composto por duas ilhas principais e numerosas pequenas ilhas, algumas das quais bastante long\u00ednquas. A Ilha Sul \u00e9 a maior massa de terra e est\u00e1 dividida ao longo do seu comprimento pelos Alpes do Sul, cujo maior pico \u00e9 o Monte Cook com 3.754 m. Na Ilha Sul h\u00e1 dezoito picos com mais de tr\u00eas mil metros de altitude. A Ilha Norte \u00e9 menos montanhosa do que a Sul, mas est\u00e1 marcada por um intenso vulcanismo. Na Ilha Norte, a montanha mais alta, Ruapehu (2.797 m) \u00e9 um cone vulc\u00e2nico ativo. A \u00e1rea total da Nova Zel\u00e2ndia, 270.500 km\u00b2 \u00e9 um pouco maior que a do Estado de S\u00e3o Paulo ou que as Ilhas Brit\u00e2nicas.<\/p>\n\n\n\n

Muito afastada das terras mais pr\u00f3ximas, a Nova Zel\u00e2ndia \u00e9, entre as massas de terra de dimens\u00f5es consider\u00e1veis do Planeta aquela que est\u00e1 mais isolada. Os seus vizinhos mais pr\u00f3ximos s\u00e3o a Austr\u00e1lia, para Noroeste, e a Nova Caled\u00f4nia, Fiji e Tonga, para Norte.<\/p>\n\n\n\n

Weta, o nome da empresa que realizou O Senhor dos An\u00e9is, foi uma homenagem ao inseto nativo. \u201cO Weta, que est\u00e1 por aqui desde a \u00e9poca dos dinossauros, \u00e9 capaz de sobreviver mesmo em situa\u00e7\u00f5es extremas, como o congelamento. Por essa capacidade de sobreviv\u00eancia, foi escolhido como s\u00edmbolo e nome da empresa de efeitos especiais como uma forma de trazer boa sorte: \u00c9 o gafanhoto mais feio que existe no Planeta, enquanto \u00e9 o mais belo inseto. \u00c9 a melhor criaturinha para nos inspirarmos\u201d, disse Richard Taylor, o premiado maquiador e figurinista de O Senhor dos An\u00e9is.<\/p>\n\n\n\n

Ren\u00e9 Capriles – Editor da ECO 21
\nRevista Eco 21, ano XV, N\u00ba 101 abril\/2005.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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