{"id":116,"date":"2009-02-10T14:24:32","date_gmt":"2009-02-10T14:24:32","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:28","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:28","slug":"sede_zero_-_um_desafio_hidrico_para_o_3_milenio","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agua\/artigos_agua_doce\/sede_zero_-_um_desafio_hidrico_para_o_3_milenio.html","title":{"rendered":"Sede Zero – Um Desafio H\u00eddrico para o 3.\u00b0 Mil\u00eanio"},"content":{"rendered":"\n
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Num contexto em que se est\u00e1 divulgando com tanta intensidade o programa fome zero como meta governamental priorit\u00e1ria de erradica\u00e7\u00e3o da fome no Brasil, \u00e9 mister alertar-se a popula\u00e7\u00e3o para o fato da grande import\u00e2ncia da \u00e1gua na agricultura como base da produ\u00e7\u00e3o alimentar, e que a pr\u00f3pria natureza sinaliza para a inevit\u00e1vel e crescente escassez, a passos largos, deste insumo essencial \u00e0 manuten\u00e7\u00e3o da vida na Terra. Este fato aponta para a necessidade da divulga\u00e7\u00e3o de um outro programa, sede zero, para despertar na popula\u00e7\u00e3o a urg\u00eancia da necessidade de ado\u00e7\u00e3o de medidas que resultem no uso racional da \u00e1gua pot\u00e1vel.<\/p>\n\n\n\n

A compreens\u00e3o da vida, desde uma simples c\u00e9lula at\u00e9 um complexo ecossistema, se constituir\u00e1 num universo anal\u00edtico para o entendimento da din\u00e2mica ambiental sob a \u00f3tica da preserva\u00e7\u00e3o dos recursos naturais com \u00eanfase nos recursos h\u00eddricos. A natureza das ocorr\u00eancias f\u00edsicas, qu\u00edmicas e biol\u00f3gicas existentes aqu\u00e9m de uma c\u00e9lula e al\u00e9m da biosfera, fica \u00e0 parte do que se apresenta na Figura 1. A quest\u00e3o fundamental \u00e9 a disponibilidade de \u00e1gua em termos de qualidade e em quantidade, tendo em vista o seu suprimento no mundo, no sentido de favorecer a estabilidade ecol\u00f3gica requerida para o desenvolvimento sustent\u00e1vel de um programa de sede zero para as popula\u00e7\u00f5es e comunidades nos diversos ecossistemas.<\/p>\n\n\n\n

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Figura 1. Aspecto conceitual dos seres vivos na complexidade ambiental, desde uma simples c\u00e9lula at\u00e9 a biosfera dentro de um ecossistema Fonte: Rodrigues (2000)<\/p>\n\n\n\n

As necessidades humanas podem ser agrupadas numa ordem l\u00f3gica de prioriza\u00e7\u00e3o no sentido do seu atendimento quanto aos aspectos fisiol\u00f3gicos, de seguran\u00e7a, sociais, de auto-estima e de auto-realiza\u00e7\u00e3o. A partir de uma exposi\u00e7\u00e3o e classifica\u00e7\u00e3o did\u00e1tica, algumas s\u00e3o b\u00e1sicas ou essenciais al\u00e9m de determinantes para a sobreviv\u00eancia e perpetua\u00e7\u00e3o da esp\u00e9cie. Outras tamb\u00e9m s\u00e3o importantes; no entanto, dependem dos referenciais de valores do indiv\u00edduo e da comunidade onde ele habita, do poder aquisitivo, dos usos e costumes e dos aspectos culturais, os quais podem ser padronizados em diferentes n\u00edveis de ado\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Em geral, essas necessidades podem ser ordenadas na seguinte seq\u00fc\u00eancia, segundo os estudiosos: comer, beber, sexo etc (fisiol\u00f3gicas); trabalho, habita\u00e7\u00e3o, menos risco etc (seguran\u00e7a); fam\u00edlia, igreja, amigos, clubes etc (sociais); auto-respeito, autonomia, status, aprova\u00e7\u00e3o etc (auto-estima) e, por fim, a auto-realiza\u00e7\u00e3o. A pir\u00e2mide social configurada por arranjos de blocos sobrepostos das necessidades humanas (Figura 2) facilita o entendimento da complexidade das comunidades nos ecossistemas.<\/p>\n\n\n\n

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Figura 2. Arranjo social das necessidades humanas de acordo cm os padr\u00f5es pessoais e sociais.<\/p>\n\n\n\n

O destaque da necessidade de beber listada como prioridade das fun\u00e7\u00f5es fisiol\u00f3gicas ou essenciais da esp\u00e9cie humana e, por extens\u00e3o, de todos os seres vivos, evidentemente inclui a demanda por \u00e1gua como elemento b\u00e1sico desde uma c\u00e9lula at\u00e9 a biosfera.<\/p>\n\n\n\n

Desta forma, entende-se que a tem\u00e1tica sede zero merece aten\u00e7\u00e3o especial no mundo e no nosso Pa\u00eds, principalmente em regi\u00f5es em que a irregularidade espa\u00e7o-temporal da distribui\u00e7\u00e3o das precipita\u00e7\u00f5es pluviom\u00e9tricas \u00e9 uma realidade natural diante de s\u00e9ries hist\u00f3ricas dos dados clim\u00e1ticos.<\/p>\n\n\n\n

Entre as cat\u00e1strofes que atingem e oprimem um ecossistema, a escassez ou a falta de \u00e1gua pot\u00e1vel \u00e9 a que mais penaliza as popula\u00e7\u00f5es humanas. A fauna e a flora das regi\u00f5es \u00e1ridas e semi-\u00e1ridas sofrem com os d\u00e9ficits h\u00eddricos, com a distribui\u00e7\u00e3o irregular da pluviosidade e com a m\u00e1 qualidade dos mananciais em decorr\u00eancia da polui\u00e7\u00e3o nos diferentes n\u00edveis de contamina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

A competitividade pelo uso dos recursos h\u00eddricos est\u00e1 caracterizada por tr\u00eas grandes demandas: uso urbano ou dom\u00e9stico, uso industrial e uso agr\u00edcola, estimado e ilustrado na Figura 3.<\/p>\n\n\n\n

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Figura 3. Distribui\u00e7\u00e3o do consumo de \u00e1gua no mundo, segundo as estat\u00edsticas divulgadas<\/p>\n\n\n\n

No Gr\u00e1fico 1 apresenta-se a evolu\u00e7\u00e3o temporal do consumo anual de \u00e1gua no mundo, desde 1900 at\u00e9 o ano 2000. A parcela de perdas nos reservat\u00f3rios \u00e9 crescente desde o in\u00edcio das obras hidr\u00e1ulicas das grandes barragens nos cursos de \u00e1gua antes de 1960 e, com a expans\u00e3o dos espelhos de \u00e1gua, tem ocorrido incrementa\u00e7\u00e3o significativa nos volumes evaporados. No ano 2000, por exemplo, o volume de perdas nos reservat\u00f3rios, visualizado na escala do eixo vertical, em km3, foi aproximadamente 2\/3 do consumo de \u00e1gua no setor urbano no mundo.<\/p>\n\n\n\n

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Gr\u00e1fico 1. Valores dos volumes de \u00e1gua evaporada e consumida no mundo desde de 1900 at\u00e9 o ano 2000 nos diferentes setores<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 interessante mencionar que, quando as estat\u00edsticas apontam e quantificam o consumo de \u00e1gua de 70% destinados \u00e0 agricultura irrigada (Figura 3), nesse total est\u00e3o inclu\u00eddos os volumes de \u00e1gua armazenados para a gera\u00e7\u00e3o de energia el\u00e9trica, que nem sempre s\u00e3o utilizados nos per\u00edmetros irrigados, e as perdas por evapora\u00e7\u00e3o nas superf\u00edcies livres dos grandes reservat\u00f3rios e, ainda, a vaz\u00e3o ecol\u00f3gica para manuten\u00e7\u00e3o da fauna e da flora \u00e0 jusante das represas para permitir certo gradiente hidr\u00e1ulico no fluxo de \u00e1gua na calha viva dos rios, evitando o avan\u00e7o das \u00e1guas marinhas nos \u00faltimos trechos dos cursos. Estima-se que a somat\u00f3ria da \u00e1gua evaporada ao longo do Rio S\u00e3o Francisco e nos lagos artificiais da sua bacia hidrogr\u00e1fica seja de 310 m3 por segundo.<\/p>\n\n\n\n

Conscientes de que a agricultura irrigada \u00e9, de fato, respons\u00e1vel pelo maior percentual de consumo das reservas h\u00eddricas, os \u00f3rg\u00e3os p\u00fablicos, empresas privadas e a pequena agricultura familiar que lidam com o agroneg\u00f3cio, devem evitar os desperd\u00edcios, que comprovadamente s\u00e3o elevados em quase todos os m\u00e9todos e sistemas de irriga\u00e7\u00e3o. No Brasil, segundo as pesquisas de avalia\u00e7\u00e3o e parametriza\u00e7\u00e3o dos sistemas de irriga\u00e7\u00e3o em opera\u00e7\u00e3o, a efici\u00eancia global do uso de \u00e1gua est\u00e1 em torno de 30%, implicando num desperd\u00edcio global de 70% dos volumes de \u00e1gua derivados dos reservat\u00f3rios, ou seja, de cada volume de 1.000 L que sai de um manancial, 700 L n\u00e3o s\u00e3o utilizados pelas culturas.<\/p>\n\n\n\n

A resolu\u00e7\u00e3o espec\u00edfica de suprir a car\u00eancia de alimentos em uma ecorregi\u00e3o fisiogr\u00e1fica, como prop\u00f5e o programa fome zero, tem solu\u00e7\u00e3o mais simples que a dessedenta\u00e7\u00e3o das popula\u00e7\u00f5es, pois a provis\u00e3o alimentar pode ser poss\u00edvel por meio de importa\u00e7\u00e3o e transporte dos g\u00eaneros de primeira necessidade e de outros produtos de consumo complementar. J\u00e1 o transporte de \u00e1gua a longas dist\u00e2ncias apresenta custos financeiros elevados em raz\u00e3o das obras hidr\u00e1ulicas, podendo gerar, tamb\u00e9m, conflitos sociais devido \u00e0 disputa pelos recursos h\u00eddricos nos seus diferentes setores de uso. Como exemplo, menciona-se a transposi\u00e7\u00e3o de bacias hidrogr\u00e1ficas entre regi\u00f5es, mesmo pr\u00f3ximas que, al\u00e9m de gerar pol\u00eamicas, inevitavelmente causa transtornos ecol\u00f3gicos, \u00e0s vezes, irrevers\u00edveis \u00e0 natureza.<\/p>\n\n\n\n

A degrada\u00e7\u00e3o dos mananciais devido \u00e0s a\u00e7\u00f5es antr\u00f3picas s\u00f3 pode ser minimizada por meio de processos de educa\u00e7\u00e3o h\u00eddrica das popula\u00e7\u00f5es usu\u00e1rias de \u00e1gua nos diferentes setores. Assim, pode-se implementar um programa de sede zero com perspectiva de sustentabilidade dos recursos h\u00eddricos.<\/p>\n\n\n\n

As provid\u00eancias \u00fateis para evitar a cat\u00e1strofe da sede requerem a\u00e7\u00f5es consecutivas na seguinte ordem: diagn\u00f3stico ambiental, tomada de dados para pesquisa, an\u00e1lise e interpreta\u00e7\u00e3o de dados, resultados gerados e, por fim, tomada de decis\u00e3o. O monitoramento dos ecossistemas deve ser seguido de forma sistem\u00e1tica at\u00e9 que novos paradigmas apontem outro desafio.<\/p>\n\n\n\n

No memorial das civiliza\u00e7\u00f5es, a tomada de decis\u00e3o sempre se constituiu na condi\u00e7\u00e3o \u201csine qua non\u201d e no fator decisivo para a resolu\u00e7\u00e3o de problemas coletivos. Esta regra deve ser v\u00e1lida para as gera\u00e7\u00f5es do terceiro mil\u00eanio que est\u00e3o nas margens dos rios secos e no entorno dos mananciais em extin\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Temos que entender, tamb\u00e9m, que das muitas tentativas humanas de se criar um m\u00e9todo pedag\u00f3gico perfeito na busca de solu\u00e7\u00f5es hol\u00edsticas, o resultado tem sido uma frustra\u00e7\u00e3o nas empreitadas da hist\u00f3ria dos povos e na\u00e7\u00f5es. No entanto, n\u00e3o h\u00e1 como recuar nos empreendimentos voltados para a preserva\u00e7\u00e3o dos recursos h\u00eddricos pois, do contr\u00e1rio, ocorrer\u00e1 a devastadora calamidade da sede em v\u00e1rias partes do mundo.<\/p>\n\n\n\n

Conclus\u00e3o<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Apesar de tanta \u00e1gua na Terra, pode-se constatar que a soma da enorme massa dos grandes, m\u00e9dios e pequenos corpos h\u00eddricos, torna-se em miragem quando diferenciados e quantificados na forma reduzida de seus volumes existentes com base de c\u00e1lculo global representado por 10.000 litros como o todo.<\/p>\n\n\n\n

Ter-se-ia, ent\u00e3o, como resultado, o quadro abaixo:<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Distribui\u00e7\u00e3o<\/strong><\/td>Volume<\/strong><\/td>Percentual<\/strong><\/td><\/tr>
\u00e1gua salgada<\/td> 9.747 litros <\/td>97,47%<\/td><\/tr>
p\u00f3los e geleiras<\/td>174 litros<\/td>1,74%<\/td><\/tr>
\u00e1gua subterr\u00e2nea<\/td>76 litros<\/td>0,76%<\/td><\/tr>
\u00e1gua da superf\u00edcie<\/td>3 litros<\/td>0,03%<\/td><\/tr><\/tbody><\/table><\/figure>\n\n\n\n

Aurelir Nobre Barreto – Engenheiro agr\u00f4nomo M. Sc. Irriga\u00e7\u00e3o e Drenagem, pesquisador da Embrapa Algod\u00e3o<\/em>\n<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Apesar de tanta \u00e1gua na Terra, pode-se constatar que a soma da enorme massa dos grandes, m\u00e9dios e pequenos corpos h\u00eddricos, torna-se em miragem quando diferenciados e quantificados na forma reduzida de seus volumes existentes com base de c\u00e1lculo global representado por 10.000 litros como o todo. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":117,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1384],"tags":[21,13,970,971],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/116"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=116"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/116\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5264,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/116\/revisions\/5264"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/117"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=116"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=116"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=116"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}