{"id":115,"date":"2009-02-10T13:52:42","date_gmt":"2009-02-10T13:52:42","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:28","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:28","slug":"variacoes_da_quantidade_e_da_qualidade_dos_recursos_hidricos","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agua\/artigos_agua_doce\/variacoes_da_quantidade_e_da_qualidade_dos_recursos_hidricos.html","title":{"rendered":"Varia\u00e7\u00f5es da Quantidade e da Qualidade dos Recursos H\u00eddricos"},"content":{"rendered":"\n
Tanto a quantidade como a qualidade das \u00e1guas sofrem altera\u00e7\u00f5es em decorr\u00eancias de causas naturais ou antr\u00f3picas. Entre as causas naturais que alteram o clima e, conseq\u00fcentemente, a disponibilidade de \u00e1gua, destacam-se as flutua\u00e7\u00f5es sazonais com per\u00edodo de um ano e outras com ciclos de m\u00e9dio e longo prazo, tais como o “El Ni\u00f1o” e os per\u00edodos glaciais, al\u00e9m de outras varia\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas naturais. Outras causas sem um ciclo determinado podem ser classificadas como “cat\u00e1strofes”.<\/p>\n\n\n\n
Entre as a\u00e7\u00f5es humanas que podem alterar o balan\u00e7o h\u00eddrico, destacam-se em escala local e regional o desmatamento, a mudan\u00e7a do uso do solo, os projetos de irriga\u00e7\u00e3o e a constru\u00e7\u00e3o de barragens. Na escala planet\u00e1ria, destaca-se a mudan\u00e7a clim\u00e1tica global decorrente da altera\u00e7\u00e3o das caracter\u00edsticas qu\u00edmicas da atmosfera com gases que promovem o “efeito estufa”.<\/p>\n\n\n\n
Causas naturais:<\/strong> a quantidade e a qualidade dos recursos h\u00eddricos, que escoam pelo canal principal de uma bacia hidrogr\u00e1fica em condi\u00e7\u00f5es naturais, dependem do clima e das caracter\u00edsticas f\u00edsicas e biol\u00f3gicas dos ecossistemas que a comp\u00f5em. A intera\u00e7\u00e3o cont\u00ednua e constante entre a litosfera, a biosfera e a atmosfera, acabam definindo um equil\u00edbrio din\u00e2mico para o ciclo da \u00e1gua, o qual define em \u00faltima an\u00e1lise, as caracter\u00edsticas e as vaz\u00f5es das \u00e1guas. Este equil\u00edbrio depende basicamente:<\/p>\n\n\n\n Qualquer modifica\u00e7\u00e3o nos componentes do clima ou da paisagem alterar\u00e1 a quantidade, a qualidade e o tempo de resist\u00eancia da \u00e1gua nos ecossistemas e, por sua vez, o fluxo da \u00e1gua e suas caracter\u00edsticas no canal principal do rio.<\/p>\n\n\n\n Alguns exemplos brasileiros nos quais os recursos h\u00eddricos ainda s\u00e3o controlados pelas condi\u00e7\u00f5es naturais.<\/p>\n\n\n\n Bacia Amaz\u00f4nica:<\/strong> um exemplo t\u00edpico s\u00e3o as \u00e1guas dos rios Solim\u00f5es e Negro, formadores do Amazonas. O rio Solim\u00f5es, proveniente da regi\u00e3o Andina, possui \u00e1gua com pH aproximadamente 7, sendo rico em nutrientes, apresentando uma colora\u00e7\u00e3o amarelada em decorr\u00eancia dos sedimentos que transporta. O rio Negro, proveniente de \u00e1reas cobertas por vegeta\u00e7\u00e3o, por\u00e9m com solos predominantemente arenosos, possui pH 4,5, \u00e9 pobre em nutrientes e apresenta cor escura devido, \u00e0s subst\u00e2ncias h\u00famicas que transporta, as quais s\u00e3o produzidas pela decomposi\u00e7\u00e3o incompleta da biomassa nos solos arenosos.<\/p>\n\n\n\n Do ponto de vista quantitativo dos recursos da Amaz\u00f4nia, pode-se afirmar que a quantidade das chuvas e a sua distribui\u00e7\u00e3o est\u00e3o intimamente ligadas \u00e0 cobertura vegetal formada na maior parte da regi\u00e3o por ecossistemas florestais. Pensava-se que as florestas fossem simples conseq\u00fc\u00eancias das condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas. \u00c0 medida em que a floresta foi se desenvolvendo, as condi\u00e7\u00f5es iniciais foram se alterando havendo um controle da radia\u00e7\u00e3o solar, do tempo de resid\u00eancia da \u00e1gua e do balan\u00e7o h\u00eddrico atrav\u00e9s da evapotranspira\u00e7\u00e3o da floresta. Desta forma, o equil\u00edbrio din\u00e2mico da \u00e1gua que hoje existe na regi\u00e3o \u00e9 aquele definido pela intera\u00e7\u00e3o da biosfera com a atmosfera. A Bacia Amaz\u00f4nica, hoje, com 6.112.000 km2, recebe uma precipita\u00e7\u00e3o m\u00e9dia da ordem de 2.460 mm\/ano. A vaz\u00e3o do rio Amazonas na foz \u00e9 calculada em 209.000 m3\/s e a evapotranspira\u00e7\u00e3o equivale \u00e0 1.382 mm\/ano, ou seja, 56% da \u00e1gua da chuva volta \u00e0 atmosfera pela a\u00e7\u00e3o das florestas. As estimativas existentes indicam que mais de 50% das precipita\u00e7\u00f5es s\u00e3o provenientes dessa recircula\u00e7\u00e3o do vapor d’\u00e1gua. O desmatamento poder\u00e1 assim produzir mudan\u00e7as no regime de precipita\u00e7\u00f5es com diminui\u00e7\u00e3o dos recursos h\u00eddricos de superf\u00edcie e aumentar a temperatura da regi\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n Regi\u00e3o semi-\u00e1rida do nordeste brasileiro:<\/strong> a regi\u00e3o semi-\u00e1rida do nordeste brasileiro com uma \u00e1rea de 1.000.000 km2, recebe em m\u00e9dia 700 mm\/ano de chuva, o equivalente \u00e0 precipita\u00e7\u00e3o m\u00e9dia da Europa Central. Por que \u00e9, ent\u00e3o, que no nordeste brasileiro, a situa\u00e7\u00e3o chega a ficar cr\u00edtica com a falta de recursos h\u00eddricos? \u00c9 um caso t\u00edpico, no qual a quantidade e a qualidade dos recursos h\u00eddricos ficam definidas pelas condi\u00e7\u00f5es do clima, da geologia e da geomorfologia. As precipita\u00e7\u00f5es na regi\u00e3o caem num per\u00edodo curto e 90% se perdem por evapotranspira\u00e7\u00e3o. Os 10% restantes formam os rios que correm em curtos per\u00edodos e uma pequena fra\u00e7\u00e3o se infiltra reabastecendo os reservat\u00f3rios subterr\u00e2neos. A quantidade e a qualidade das \u00e1guas subterr\u00e2neas depende da forma\u00e7\u00e3o geol\u00f3gica. Nas forma\u00e7\u00f5es cristalinas que cobrem 52% de nordeste semi-\u00e1rido, as \u00e1guas s\u00e3o relativamente novas com o tempo de resid\u00eancia de 30 a 300 anos, com m\u00e1ximo de at\u00e9 2.000 anos. A salinidade varia de 350 a 25.000 ppm de s\u00f3lidos totais dissolvidos. Os sais predominantes s\u00e3o cloretos de s\u00f3dio e magn\u00e9sio.<\/p>\n\n\n\n Os estudos desenvolvidos na regi\u00e3o procurando determinar a causa desta salinidade, evidenciaram que grande parte \u00e9 proveniente de uma concentra\u00e7\u00e3o progressiva dos sais que formam os n\u00facleos de condensa\u00e7\u00e3o das \u00e1guas de chuva e aeros\u00f3is. Os n\u00facleos de condensa\u00e7\u00e3o e os aeros\u00f3is s\u00e3o formados na atmosfera sobre os oceanos e arrastados para o interior do continente pelos ventos e posteriormente d\u00e3o forma\u00e7\u00e3o \u00e0s nuvens que geram as precipita\u00e7\u00f5es. A grande perda de \u00e1gua por evapotranspira\u00e7\u00e3o faz ent\u00e3o com que haja uma concentra\u00e7\u00e3o dos sais, os quais s\u00e3o lixiviados para os dep\u00f3sitos subterr\u00e2neos. O equil\u00edbrio din\u00e2mico atual existente, que leva \u00e0s concentra\u00e7\u00f5es m\u00e9dias acima indicadas, reflete o balan\u00e7o de sais trazidos \u00e0 regi\u00e3o atrav\u00e9s das \u00e1guas superficiais (rios que correm para o oceano) e pela descarga subterr\u00e2nea. Este equil\u00edbrio poder\u00e1 ser alterado caso sejam bloqueadas todas as sa\u00eddas de \u00e1gua atrav\u00e9s de barragens consecutivas sem sangramento dos a\u00e7udes e tamb\u00e9m sejam bloqueados os fluxos subsuperficiais. Esta mesma situa\u00e7\u00e3o cr\u00edtica \u00e9 atingida nas \u00e1reas irrigadas quando n\u00e3o existe um sistema de drenagem adequado. A saliniza\u00e7\u00e3o dos solos nos projetos de irriga\u00e7\u00e3o do nordeste semi-\u00e1rido \u00e9 um fen\u00f4meno freq\u00fcente e bem conhecido.<\/p>\n\n\n\n Regi\u00e3o do pantanal: outro exemplo no qual as condi\u00e7\u00f5es naturais controlam a disponiblidade de \u00e1gua e especialmente a vaz\u00e3o dos rios \u00e9 o da bacia do rio Paraguai. Os estudos do balan\u00e7o h\u00eddrico indicam que apenas 8% do total de precipita\u00e7\u00e3o passa pela parte inferior do canal principal do rio Paraguai, perto de Porto Murtinho. Como resultado deste balan\u00e7o h\u00eddrico, conclui-se que aproximadamente 92% da precipita\u00e7\u00e3o acima do local de medida s\u00e3o perdidos atrav\u00e9s de evapora\u00e7\u00e3o de \u00e1gua nas superf\u00edcies abertas, evapora\u00e7\u00e3o do solo, evapora\u00e7\u00e3o direta da \u00e1gua retida pela vegeta\u00e7\u00e3o e pela transpira\u00e7\u00e3o das plantas. Estes valores indicam que o atual equil\u00edbrio din\u00e2mico do balan\u00e7o h\u00eddrico depende da geomorfologia e da vegeta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n As intera\u00e7\u00f5es entre o rio e as zonas sujeitas \u00e0 inunda\u00e7\u00e3o s\u00e3o complexas. O Pantanal recebe \u00e1gua do rio Paraguai e, ao mesmo tempo, o rio recebe \u00e1gua dessas zonas sujeitas a inunda\u00e7\u00e3o, dependendo do ritmo e da posi\u00e7\u00e3o da precipita\u00e7\u00e3o local. Os n\u00edveis de \u00e1gua no rio Paraguai, e nos outros grandes afluentes, controlam os n\u00edveis de \u00e1gua nas zonas sujeitas \u00e0 inunda\u00e7\u00e3o, mesmo nas \u00e1reas situadas longe do canal principal. N\u00e3o h\u00e1 informa\u00e7\u00e3o confi\u00e1vel sobre a situa\u00e7\u00e3o do len\u00e7ol de \u00e1gua, mas \u00e9 razo\u00e1vel supor que os n\u00edveis dos len\u00e7\u00f3is de \u00e1gua tamb\u00e9m sejam controlados pelo n\u00edvel do rio. As \u00e1reas inundadas do Pantanal tamb\u00e9m servem como um sistema de transporte para a \u00e1gua que vai do Norte ao Sul.<\/p>\n\n\n\n Varia\u00e7\u00f5es sazonais:<\/strong> as varia\u00e7\u00f5es sazonais das precipita\u00e7\u00f5es se destacam entre as causas controladoras da oferta de \u00e1gua a curto prazo. No Brasil, tendo em vista as dimens\u00f5es continentais da varia\u00e7\u00e3o de latitude indo de aproximadamente 5\u00b0 N \u00e0 35\u00b0 S, s\u00e3o encontrados climas variados e, conseq\u00fcentemente, regimes de precipita\u00e7\u00e3o distintos com grande variabilidade. Assim, enquanto na Amaz\u00f4nia existem regi\u00f5es com precipita\u00e7\u00f5es acima de 3.000 mm\/ano, no Nordeste Brasileiro s\u00e3o encontradas \u00e1reas com precipita\u00e7\u00f5es abaixo de 300 mm\/ano. O per\u00edodo de chuva tamb\u00e9m apresenta grande variabilidade, sendo que enquanto em algumas regi\u00f5es, especialmente a central do pa\u00eds, predominam as chuvas de ver\u00e3o (outubro-mar\u00e7o), em outras predominam chuvas no per\u00edodo correspondente ao inverno no hemisf\u00e9rio sul, ou seja, com m\u00e1xima ao entorno do m\u00eas de julho.<\/p>\n\n\n\n A bacia do rio Amazonas apresenta uma situa\u00e7\u00e3o curiosa, com uma \u00e1rea de aproximadamente 6 milh\u00f5es de km2 e recebendo uma precipita\u00e7\u00e3o m\u00e9dia da ordem de 2.460 mm\/ano, faz com que o rio Amazonas apresente na sua foz a formid\u00e1vel vaz\u00e3o m\u00e9dia de 209.000 m\/s. Por\u00e9m, como parte dos afluentes s\u00e3o provenientes do hemisf\u00e9rio sul e parte do hemisf\u00e9rio norte, o regime do rio apresenta varia\u00e7\u00f5es caracter\u00edsticas. O canal principal formador do Amazonas, o Apurimac-Ucayale e seu principal afluente, o Mara\u00f1on, s\u00e3o provenientes da regi\u00e3o Andina, e os afluentes da margem direita localizam-se no hemisf\u00e9rio sul, recebendo as precipita\u00e7\u00f5es maiores no per\u00edodo do ver\u00e3o (outubro-mar\u00e7o). Por outro lado, os afluentes da margem esquerda com suas cabeceiras no hemisf\u00e9rio norte, recebem as precipita\u00e7\u00f5es m\u00e1ximas no per\u00edodo de maio-julho.<\/p>\n\n\n\n