{"id":1147,"date":"2009-01-23T12:07:01","date_gmt":"2009-01-23T12:07:01","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:33:45","modified_gmt":"2021-07-10T23:33:45","slug":"planejando_a_crise_de_energia_eletrica","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/energia\/artigos_energia\/planejando_a_crise_de_energia_eletrica.html","title":{"rendered":"Planejando a Crise de Energia El\u00e9trica"},"content":{"rendered":"\n

A situa\u00e7\u00e3o cr\u00edtica de abastecimento de energia el\u00e9trica n\u00e3o \u00e9 conseq\u00fc\u00eancia apenas da falta de chuvas. Durante as \u00faltimas d\u00e9cadas o crescimento populacional, as necessidades de irriga\u00e7\u00e3o da agricultura e maiores usos industriais da \u00e1gua, aumentaram o consumo de \u00e1gua. Como este \u00e9 tamb\u00e9m o principal combust\u00edvel de nosso sistema el\u00e9trico e n\u00e3o houve um aumento proporcional da capacidade de armazenamento dos reservat\u00f3rios das hidrel\u00e9tricas, a vaz\u00e3o de nossos rios tem que atender a uma demanda cada vez maior de usos n\u00e3o energ\u00e9ticos. Esses fatos s\u00e3o mais evidentes em regi\u00f5es mais densamente povoadas, como o sudeste.<\/p>\n\n\n\n

\"q\"\/<\/figure>\n\n\n\n

<\/span><\/div>\n\n\n\n

A seca dos meses recentes apenas acentuou uma conhecida fragilidade do nosso sistema de abastecimento. Demonstra tamb\u00e9m uma aus\u00eancia de pol\u00edtica energ\u00e9tica e vis\u00e3o de longo prazo. O problema tem origem h\u00e1 mais tempo. H\u00e1 muitos anos os indicadores j\u00e1 apontavam para uma crise como a que enfrentamos hoje. Durante a d\u00e9cada de 80 o consumo de eletricidade cresceu uma vez e meia mais depressa que nosso produto interno bruto (PIB). Na d\u00e9cada seguinte o crescimento do consumo disparou na frente do PIB: foi quase duas vezes e meia mais r\u00e1pido. Nosso consumo de eletricidade vem tamb\u00e9m aumentando mais rapidamente que nossa capacidade de gera\u00e7\u00e3o nessas \u00faltimas d\u00e9cadas. A cada ano que passa estamos precisando de mais eletricidade para gerar R$ 1,00 em nossa economia.<\/p>\n\n\n\n

Poderia ser diferente no Brasil. Os pa\u00edses industrializados conseguiram promover seu crescimento econ\u00f4mico sem aumentar seu consumo de eletricidade. A China, que tem tamb\u00e9m graves problemas de abastecimento, planejou seu crescimento industrial em setores menos intensivos em energia e de maior valor agregado. Aqui mesmo no Brasil, nos idos de 70, a escassez de eletricidade na regi\u00e3o de Manaus (AM) ajudou a definir um perfil industrial para a Zona Franca orientada para setores eletro-eletr\u00f4nicos, menos intensivos em eletricidade e de maior valor agregado.<\/p>\n\n\n\n

No ano passado, que foi um ano recorde de crescimento do PIB (4,2%), a eletricidade cresceu ainda mais, 4,6%. Essa rela\u00e7\u00e3o pode ser revertida, ou pelo menos estabilizada, mas leva tempo e determina\u00e7\u00e3o na orienta\u00e7\u00e3o de uma pol\u00edtica p\u00fablica orientada para efici\u00eancia energ\u00e9tica.<\/p>\n\n\n\n

Nos \u00faltimos anos, por diversas vezes, atingimos n\u00edveis cr\u00edticos de confiabilidade de fornecimento de energia el\u00e9trica. Tradicionalmente mantemos uma margem de reserva de 10% de excesso de capacidade instalada em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 demanda esperada. No entanto, nosso sistema tem funcionado durante algumas horas do ano com pouca folga, algo em torno de 2-3%, para atender eventuais aumentos instant\u00e2neos de consumo. Nesses per\u00edodos os riscos de apag\u00f5es ou blackouts s\u00e3o grandes. Essa estreita e perigosa margem de reserva sempre foi de conhecimento dos respons\u00e1veis pela opera\u00e7\u00e3o do sistema e s\u00e3o indicadores indiscut\u00edveis de que algo n\u00e3o vai bem.<\/p>\n\n\n\n

E para completar o quadro, temos ainda importantes aspectos relacionados com as mudan\u00e7as institucionais do setor el\u00e9trico. A partir de meados da d\u00e9cada passada iniciamos reformas que introduziram a privatiza\u00e7\u00e3o e novas regras para criar competi\u00e7\u00e3o no mercado de eletricidade. A argumenta\u00e7\u00e3o era de que esta seria uma maneira de atrair investimentos em uma \u00e1rea onde o setor p\u00fablico n\u00e3o conseguia mais captar recursos.<\/p>\n\n\n\n

Parte da estrat\u00e9gia das reformas foi a instala\u00e7\u00e3o do Conselho Nacional de Pol\u00edtica Energ\u00e9tica, com a fun\u00e7\u00e3o de assessorar o presidente da Rep\u00fablica em mat\u00e9ria relacionada com os destinos da infra-estrutura energ\u00e9tica do Pa\u00eds. Criado no papel em 1997, somente em 2000 reuniu-se pela primeira vez e nada de significativo tem produzido desde ent\u00e3o. De 97 para c\u00e1, criaram-se ag\u00eancias de regula\u00e7\u00e3o que funcionam sem uma orienta\u00e7\u00e3o de longo prazo.<\/p>\n\n\n\n

Criaram-se regras para investimentos compuls\u00f3rios em programas de efici\u00eancia energ\u00e9tica e pesquisa e desenvolvimento, mas sem metas e com modest\u00edssimos instrumentos de avalia\u00e7\u00e3o. E principalmente, ainda muita indefini\u00e7\u00e3o. A verdade \u00e9 que nossas reformas ainda est\u00e3o no meio do caminho. O capital privado, que n\u00e3o \u00e9 santo nem bobo, s\u00f3 vai realizar os esperados investimentos para aumentar a oferta de eletricidade quando perceber regras claras e est\u00e1veis.<\/p>\n\n\n\n

Planejamento energ\u00e9tico exige vis\u00e3o, exige transpar\u00eancia, estrat\u00e9gia e, obviamente, compet\u00eancia t\u00e9cnica. Somente agora surgem projetos interessantes de co-gera\u00e7\u00e3o. O enorme potencial de biomassa para gera\u00e7\u00e3o de eletricidade e as oportunidades de seu desenvolvimento tecnol\u00f3gico, campo onde j\u00e1 fomos l\u00edderes, permanecem dormentes h\u00e1 d\u00e9cadas. Ainda n\u00e3o ousamos inova\u00e7\u00f5es regulat\u00f3rias, procurando incentivar as concession\u00e1rias para promoverem conserva\u00e7\u00e3o e n\u00e3o serem estimuladas a vender cada vez mais eletricidade para seus consumidores.  S\u00e3o necess\u00e1rias novas formula\u00e7\u00f5es de tarifas para consumidores de modo a melhorar a opera\u00e7\u00e3o do sistema a curto, m\u00e9dio e longo prazo<\/p>\n\n\n\n

Gilberto De Martino Jannuzzi \u00e9 Professor FEM-Unicamp. Este artigo foi publicado na newsletter n\u00fam. 20 de maio de 2001.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"