{"id":1113,"date":"2009-01-23T11:03:41","date_gmt":"2009-01-23T11:03:41","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:33:51","modified_gmt":"2021-07-10T23:33:51","slug":"biodiesel_no_tanque","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/energia\/artigos_energia\/biodiesel_no_tanque.html","title":{"rendered":"Biodiesel no tanque"},"content":{"rendered":"\n

Biodiesel de etanol desenvolvido no pa\u00eds poder\u00e1 abastecer comercialmente \u00f4nibus e caminh\u00f5es a partir de 2005.<\/p>\n\n\n\n

Se tudo correr bem, dentro de dois anos os ve\u00edculos brasileiros movidos \u00e0 \u00f3leo diesel caminh\u00f5es, \u00f4nibus, tratores e locomotivas – estar\u00e3o rodando com um percentual de biodiesel no tanque. Esse novo combust\u00edvel \u00e9 produzido atrav\u00e9s da rea\u00e7\u00e3o qu\u00edmica de \u00f3leos vegetais com um \u00e1lcool (metanol ou etanol), sempre na presen\u00e7a de uma subst\u00e2ncia qu\u00edmica chamada catalisador que \u00e9 fundamental para promover a transforma\u00e7\u00e3o qu\u00edmica. Os \u00f3leos vegetais empregados podem ser extra\u00eddos da soja, do girassol, do amendoim, de outras sementes oleaginosas, ou ainda de frutos como o Caryocar brasiliense (pequi), a Acrocomia aculeata (maca\u00faba) ou Elaeis guineensis (dend\u00ea).<\/p>\n\n\n\n

O processo de produ\u00e7\u00e3o a base de \u00f3leos vegetais e \u00e1lcool met\u00edlico, sob aquecimento, \u00e9 de dom\u00ednio p\u00fablico. Nos \u00faltimos 5 a 10 anos, esse tipo de biodiesel passou a ser comercializado em larga escala na Uni\u00e3o Europ\u00e9ia, onde o \u00f3leo de colza (canola) \u00e9 empregado como mat\u00e9ria prima. Nos Estados Unidos as mat\u00e9rias primas principais s\u00e3o o \u00f3leo de soja e o metanol, que \u00e9 um derivado do g\u00e1s natural ou do petr\u00f3leo. No Brasil alguns grupos de pesquisa e pequenos produtores, utilizam o metanol como no processo europeu e americano, por\u00e9m com \u00f3leos de soja, baba\u00e7u e outros \u00f3leos virgens, al\u00e9m dos \u00f3leos de fritura. O uso do metanol, um \u00e1lcool t\u00f3xico, venenoso e de origem f\u00f3ssil (derivado do petr\u00f3leo) \u00e9 uma das grandes desvantagens desse processo.<\/p>\n\n\n\n

Uma alternativa interessante seria a utiliza\u00e7\u00e3o do \u00e1lcool et\u00edlico (etanol) obtido da cana-de-a\u00e7\u00facar, que \u00e9 100% renov\u00e1vel e garante maior seguran\u00e7a na manipula\u00e7\u00e3o devido a sua menor toxicidade. Al\u00e9m disso, no Brasil existe uma maior disponibilidade do \u00e1lcool de cana (maior produtor mundial de etanol), enquanto parte (50% aproximadamente) do metanol consumido no pa\u00eds para outras finalidades \u00e9 importado. Por\u00e9m, at\u00e9 o presente, esse \u00e1lcool n\u00e3o podia ser empregado com efici\u00eancia como substituto do metanol, devido \u00e0 baixa taxa de convers\u00e3o dos \u00f3leos vegetais em biodiesel e tamb\u00e9m \u00e0 dificuldade de separa\u00e7\u00e3o das fases constitu\u00eddas de biodiesel e do subproduto chamado glicerina. Pesquisas realizadas nos laborat\u00f3rios da Universidade de S\u00e3o Paulo (USP) em Ribeir\u00e3o Preto, por uma equipe coordenada pelo professor Miguel J. Dabdoub, permitiram o desenvolvimento de um novo processo e tecnologia capazes de superar essas limita\u00e7\u00f5es. Esses pesquisadores tamb\u00e9m conseguiram reduzir o tempo reacional que anteriormente era de seis horas para apenas 30 minutos.<\/p>\n\n\n\n

As vantagens n\u00e3o param por a\u00ed, pois esse desenvolvimento tornou o processo tecnicamente vi\u00e1vel reduzindo o consumo energ\u00e9tico e consequentemente os custos operacionais, particularmente porque a transforma\u00e7\u00e3o ocorre a frio (temperatura ambiente). Algumas dessas vantagens s\u00e3o aplic\u00e1veis tamb\u00e9m para o uso do metanol o que dever\u00e1 favorecer processos anteriormente estabelecidos. Al\u00e9m do grupo de pesquisa do LADETEL- USP\/RP, existem outras iniciativas espalhadas por todo o pa\u00eds que estudam e desenvolvem alternativas para substituir o diesel derivado de petr\u00f3leo. S\u00e3o profissionais que est\u00e3o focados na obten\u00e7\u00e3o de ganhos ambientais – com a diminui\u00e7\u00e3o das emiss\u00f5es de poluentes – e econ\u00f4micos proporcionados pelo uso do novo combust\u00edvel.<\/p>\n\n\n\n

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Hoje, a frota nacional consome cerca de 37 bilh\u00f5es de litros de \u00f3leo diesel por ano. Em 2005, esse volume subir\u00e1 para 40 bilh\u00f5es de litros, conforme proje\u00e7\u00e3o da Ag\u00eancia Nacional do Petr\u00f3leo (ANP). A meta do Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnol\u00f3gico de Biodiesel (Probiodiesel), do Minist\u00e9rio da Ci\u00eancia e Tecnologia (MCT) e mais recentemente do Grupo de Trabalho Interministerial coordenado pela Casa Civil da Presid\u00eancia da Rep\u00fablica \u00e9 montar um amplo plano de produ\u00e7\u00e3o de biodiesel, com o incentivo ao plantio de diversas oleaginosas. Esse combust\u00edvel servir\u00e1 como complemento ao \u00f3leo diesel comum e, futuramente, poder\u00e1 ser usado de forma integral nos motores diesel se houver oferta suficiente. A id\u00e9ia inicial \u00e9 acrescentar 5% de biodiesel ao \u00f3leo diesel comum – f\u00f3rmula conhecida como B5, em uma iniciativa similar a que ocorre com a gasolina, que recebe adi\u00e7\u00e3o de cerca de 25% de etanol anidro. Com essa medida, estima-se que o Brasil reduza em 33%, de um total de 6 bilh\u00f5es de litros, suas importa\u00e7\u00f5es de diesel, gerando uma economia anual de US$ 350 milh\u00f5es, al\u00e9m de um grande n\u00famero de empregos diretos e indiretos. Refor\u00e7ando a import\u00e2ncia dos benef\u00edcios que o biodiesel pode trazer para o pa\u00eds, v\u00e1rias comiss\u00f5es do Congresso Nacional tem discutido o assunto, particularmente na C\u00e2mara dos Deputados onde atualmente tramitam dois projetos de Lei para a implanta\u00e7\u00e3o do biodiesel. Um do Deputado Mendes Thame do PSBD-SP e o outro do Deputado Rubens Otoni do PT-GO.<\/p>\n\n\n\n

Mesmo que o pa\u00eds alcance a auto-sufici\u00eancia em petr\u00f3leo nos pr\u00f3ximos anos, ser\u00e1 preciso continuar importando diesel. O problema \u00e9 que o \u00f3leo extra\u00eddo das profundezas mar\u00edtimas da costa brasileira tem qualidade inadequada para a produ\u00e7\u00e3o do combust\u00edvel diesel. Na maior parte das jazidas, principalmente, a da Bacia de Campos, o petr\u00f3leo \u00e9 do tipo pesado, caracterizado por ainda n\u00e3o ter completado seu ciclo de matura\u00e7\u00e3o e por sofrer um processo de biodegrada\u00e7\u00e3o natural. Ainda deve ser considerado que a capacidade das refinarias brasileiras n\u00e3o acompanha o incremento do consumo de petrodiesel. Al\u00e9m de diminuir a depend\u00eancia da importa\u00e7\u00e3o, o biodiesel a base de etanol (\u00e1lcool de cana) \u00e9 de grande import\u00e2ncia estrat\u00e9gica e poder\u00e1 facilitar a incorpora\u00e7\u00e3o desse tipo de combust\u00edvel na matriz energ\u00e9tica do pa\u00eds. Os resultados das pesquisas realizadas, demonstram indiscutivelmente que o biodiesel \u00e9 mais eficiente do que o \u00f3leo vegetal in natura porque n\u00e3o causa corros\u00e3o no motor, n\u00e3o carboniza os bicos injetores de combust\u00edvel e melhora a partida do ve\u00edculo a frio por ser menos denso e fluir melhor nas mangueiras e dutos. Segundo Dabdoub – Doutor em qu\u00edmica e coordenador do Laborat\u00f3rio de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (LADETEL) da USP – o processo de produ\u00e7\u00e3o de biodiesel j\u00e1 \u00e9 conhecido h\u00e1 alguns anos, mas era economicamente invi\u00e1vel devido \u00e0s limita\u00e7\u00f5es de ordem t\u00e9cnica, como a baixa taxa de convers\u00e3o da mistura \u00f3leo e etanol em biodiesel. “A s\u00edntese empregando o metanol com \u00f3leos vegetais resulta num aproveitamento da ordem de 98%, enquanto com o etanol chegava a, no m\u00e1ximo, 80%”, explica Dabdoub. Outro problema a ser solucionado era a separa\u00e7\u00e3o da glicerina, um subproduto da rea\u00e7\u00e3o. “O nosso grande desafio foi desenvolver uma metodologia que superasse esses dois obst\u00e1culos. Conseguimos o \u00eaxito no in\u00edcio deste ano com a finaliza\u00e7\u00e3o de um processo que permite uma transforma\u00e7\u00e3o acima de 98% e possibilita a separa\u00e7\u00e3o espont\u00e2nea da glicerina, al\u00e9m de diminuir o tempo da rea\u00e7\u00e3o significativamente”, diz o pesquisador.<\/p>\n\n\n\n

O sucesso do trabalho deveu-se \u00e0 descoberta de catalisadores eficientes, subst\u00e2ncias que aceleram a rea\u00e7\u00e3o qu\u00edmica. No biodiesel de metanol, o catalisador empregado \u00e9 o hidr\u00f3xido de s\u00f3dio ou de pot\u00e1ssio, tamb\u00e9m conhecido como soda ou potassa c\u00e1ustica. Para sintetizar o biodiesel de etanol, al\u00e9m do catalisador tradicional o pesquisador adicionou uma outra subst\u00e2ncia catalisadora, cujo nome \u00e9 mantido em segredo porque o processo de obten\u00e7\u00e3o da patente n\u00e3o est\u00e1 conclu\u00eddo. “Podemos dizer que esse catalisador \u00e9 um hidr\u00f3xido met\u00e1lico misto, chamado vulgarmente de argila”, afirma Dabdoub. Segundo ele, o processo de transforma\u00e7\u00e3o de \u00f3leos vegetais e \u00e1lcool em biodiesel, conhecido como transesterifica\u00e7\u00e3o, \u00e9 relativamente simples. O \u00f3leo vegetal \u00e9 misturado ao \u00e1lcool et\u00edlico e aos catalisadores em um reator e sofre agita\u00e7\u00e3o por meia hora. Para cada 1.000 litros de \u00f3leo s\u00e3o utilizados 200 litros de etanol e de 0,8% a 1% dos agentes catalisadores. Em seguida, a mistura vai para um decantador onde ocorre a separa\u00e7\u00e3o da glicerina, subst\u00e2ncia de alto valor agregado, usada por ind\u00fastrias farmac\u00eauticas, de cosm\u00e9ticos e de explosivos. A separa\u00e7\u00e3o pode ser mais r\u00e1pida e eficiente se o processo de centrifuga\u00e7\u00e3o for utilizado. Uma tonelada de glicerina chega a custar US$ 1,3 mil.<\/p>\n\n\n\n

Uma grande vantagem do biodiesel desenvolvido pelo LADETEL \u00e9 o processo de produ\u00e7\u00e3o, bem mais r\u00e1pido do que o de fabrica\u00e7\u00e3o do biodiesel met\u00edlico. “Conseguimos fazer a rea\u00e7\u00e3o em 30 minutos, enquanto o processo tradicional leva seis horas. Com isso, somos doze vezes mais produtivos”, diz Dabdoub. Essa s\u00edntese vai ficar ainda mais \u00e1gil. O pesquisador conseguiu fazer a rea\u00e7\u00e3o \u00f3leo vegetal-etanol usando irradia\u00e7\u00e3o eletromagn\u00e9tica. “\u00c9 um processo muito promissor que substitui o segundo catalisador pela irradia\u00e7\u00e3o na faixa do ultra-som. A rea\u00e7\u00e3o pode ser feita de forma cont\u00ednua em cerca de 10 minutos”, diz Dabdoub. O pesquisador acredita que quando esse novo processo, ainda em escala laboratorial, estiver conclu\u00eddo poder\u00e1 tamb\u00e9m ser empregado na fabrica\u00e7\u00e3o de biodiesel na Europa e nos Estados Unidos.<\/p>\n\n\n\n

Por outro lado, em conjunto com o grupo de pesquisa do Doutor Pietro Ciancaglini, Professor associado de Bioqu\u00edmica da USP de Ribeir\u00e3o Preto, o LADETEL estuda o emprego de enzimas para realizar a produ\u00e7\u00e3o de biodiesel et\u00edlico. Grandes avan\u00e7os nesta \u00e1rea est\u00e3o sendo feitos e o emprego da biotecnologia contribui com in\u00fameras vantagens. A transforma\u00e7\u00e3o total, eficiente e limpa de \u00f3leos vegetais em biodiesel et\u00edlico tem sido conseguida com algumas enzimas. Por\u00e9m, a grande desvantagem do tempo prolongado necess\u00e1rio (at\u00e9 24h) ainda precisa ser superada.<\/p>\n\n\n\n

Vantagens ambientais <\/strong>– Apesar da efici\u00eancia do processo de convers\u00e3o e do aproveitamento da glicerina, o biodiesel brasileiro ainda \u00e9 mais caro do que o diesel comum. Mas a diferen\u00e7a, diz Dabdoub, pode ser facilmente anulada se o governo desonerar o produto de impostos na fase inicial do programa, antes de atingir a produ\u00e7\u00e3o em grande escala. O pesquisador acrescenta que o novo combust\u00edvel n\u00e3o acarreta nenhum problema de ordem t\u00e9cnica aos ve\u00edculos e que n\u00e3o s\u00e3o necess\u00e1rias modifica\u00e7\u00f5es no motor para que ele funcione normalmente. Outra alternativa \u00e9 o uso do biodiesel et\u00edlico como combust\u00edvel sem a presen\u00e7a do diesel de petr\u00f3leo. Ele traz in\u00fameras vantagens, a come\u00e7ar pelo fato de ser um combust\u00edvel totalmente nacional e 100% renov\u00e1vel. H\u00e1 tamb\u00e9m ganhos ambientais, como a redu\u00e7\u00e3o da emiss\u00e3o de gases poluentes que causam efeito estufa, fen\u00f4meno associado ao aquecimento da temperatura da Terra. O uso do biodiesel na sua forma pura diminui a emiss\u00e3o de di\u00f3xido de carbono em 46% e de fuma\u00e7a preta em 68%. Se for usada a mistura B5, a redu\u00e7\u00e3o de fuma\u00e7a preta chega a 13%. Segundo Dabdoub o biodiesel puro \u00e9 isento de enxofre. Por outro lado, “O \u00f3leo diesel cont\u00e9m enxofre gerador de chuva \u00e1cida e benzo-a-pireno potencialmente cancer\u00edgeno. A vantagem do biodiesel et\u00edlico nacional \u00e9 que ele proporciona uma combust\u00e3o muito mais limpa”, A ado\u00e7\u00e3o desse combust\u00edvel tamb\u00e9m trar\u00e1 benef\u00edcios econ\u00f4micos.<\/p>\n\n\n\n

O Brasil ficar\u00e1 menos dependente do petr\u00f3leo e haver\u00e1 um fortalecimento do agroneg\u00f3cio, com gera\u00e7\u00e3o de empregos e cria\u00e7\u00e3o de um importante mercado de consumo para \u00f3leos vegetais. Dabdoub afirma que uma vantagem do novo combust\u00edvel \u00e9 o fato dele poder ser feito \u00e0 partir do \u00f3leo de diversas plantas. S\u00e3o oleaginosas com uma variedade de produtividades e adaptadas a diferentes regi\u00f5es do pa\u00eds. Assim, a soja produz 400 litros(l) de \u00f3leo por hectare (ha), o girassol, 800 l\/ha, mamona, 1.200 l\/ha, baba\u00e7u, 1.600 l\/ha, dend\u00ea, 5.950 l\/ha, pequi, 3.100 l\/ha, milho, 160 l\/ha, algod\u00e3o 280 l\/ha e maca\u00faba 4000 l\/ha. “Segundo a Embrapa, o amendoim forrageiro dos cultivares BR-1 e BRS-151 L-7 \u00e9 resistente ao stress h\u00eddrico e adequado para plantio no semi-\u00e1rido, rende 1.700 Kg do gr\u00e3o por hectare e 750 litros de \u00f3leo, sem irriga\u00e7\u00e3o, e 4.800 Kg\/ha correspondendo a quase 2.100 litros de \u00f3leo\/ha, no plantio irrigado”, informa o professor.<\/p>\n\n\n\n

“At\u00e9 o presente temos usado onze variedades de \u00f3leos vegetais nos nossos experimentos, como a soja, amendoim, girassol, algod\u00e3o, milho, canola, mamona, pequi, maca\u00faba, baba\u00e7u e dend\u00ea, al\u00e9m dos \u00f3leos de fritura j\u00e1 usados. Por\u00e9m, para abastecer as necessidades dos nossos parceiros de pesquisa em escalas maiores, utilizamos o \u00f3leo de soja porque \u00e9 o mais abundante e o Brasil \u00e9 o segundo maior produtor mundial de \u00f3leo de soja, com uma produ\u00e7\u00e3o anual de 54 milh\u00f5es de toneladas”. Mas, no futuro o plantio de outras oleaginosas dever\u00e1 ser incentivado e os seus \u00f3leos ser\u00e3o empregados na produ\u00e7\u00e3o de biodiesel, elevando a demanda por essas plantas e promovendo o desenvolvimento em v\u00e1rias regi\u00f5es do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

“No Vale do Ribeira e no Pontal do Paranapanema a maca\u00faba poderia ser empregada, enquanto no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, por exemplo, o biodiesel poderia ser produzido a partir do pequi. Para as regi\u00f5es Norte e Nordeste, isso poder\u00e1 ser feito com \u00f3leo de baba\u00e7u, amendoim e dend\u00ea.” Hoje existe a grande discuss\u00e3o at\u00e9 a n\u00edvel de governo federal sobre a produ\u00e7\u00e3o de biodiesel com \u00f3leo de mamona. Principalmente para a regi\u00e3o do \u00e1rido e semi-\u00e1rido nordestino. Isso \u00e9 poss\u00edvel pois conforme declara Dabdoub “a rea\u00e7\u00e3o de transesterifica\u00e7\u00e3o acontece muito bem inclusive com o \u00f3leo de mamona, assim sendo, a produ\u00e7\u00e3o do biodiesel n\u00e3o \u00e9 problema. Por\u00e9m, devemos ter pesquisas conclusivas dos efeitos causados pelo uso prolongado do biodiesel de mamona nos motores, uma vez que a presen\u00e7a de um grupamento hidrox\u00edlico na cadeia lateral dos \u00e1cidos graxos – \u00e1cido ricinoleico – torna as caracter\u00edsticas f\u00edsico-qu\u00edmicas do biodiesel de mamona bastante diferentes daquelas observadas para os \u00e9steres met\u00edlicos ou et\u00edlicos derivados de qualquer outro \u00f3leo vegetal, o que pode ser uma s\u00e9ria restri\u00e7\u00e3o t\u00e9cnica que somente os resultados pr\u00e1ticos e concretos das pesquisas poder\u00e3o eliminar”.<\/p>\n\n\n\n

Testes de desempenho<\/strong> – Para provar a efic\u00e1cia do biodiesel de etanol ou tamb\u00e9m chamado de “biodiesel de cana”, Dabdoub fechou acordo com empresas da iniciativa privada, entidades e institui\u00e7\u00f5es de pesquisa para a realiza\u00e7\u00e3o de testes de desempenho, consumo e pot\u00eancia. A Universidade Estadual Paulista (Unesp), Campus de Jaboticabal, ficou respons\u00e1vel por verificar a efici\u00eancia do produto em tratores agr\u00edcolas. Os ensaios ficaram a cargo do engenheiro agr\u00edcola Afonso Lopes, professor do Departamento de Mecaniza\u00e7\u00e3o Agr\u00edcola da Unesp, que contou com apoio financeiro da FAPESP. O pesquisador testou o combust\u00edvel em um trator Valtra, modelo BM100, com cem cavalos de pot\u00eancia, equipado com um sistema de medi\u00e7\u00e3o de combust\u00edvel desenvolvido na Unesp. O ve\u00edculo foi avaliado em condi\u00e7\u00e3o de campo sob cinco tipos de mistura biodiesel-\u00f3leo: B100 (apenas biodiesel), B25 (25% de biodiesel e 75% de \u00f3leo), B50 (metade biodiesel e metade \u00f3leo), B75 (75% de biodiesel e 25% de \u00f3leo) e apenas \u00f3leo diesel. “O funcionamento do trator foi normal com todas as misturas.<\/p>\n\n\n\n

Constatamos uma redu\u00e7\u00e3o de consumo de combust\u00edvel quando se usou uma mistura na propor\u00e7\u00e3o de at\u00e9 50% de biodiesel devido \u00e0 maior lubricidade desse combust\u00edvel. Acima disso, o consumo aumentou”, afirma Lopes. Segundo o pesquisador, isso aconteceu porque o biodiesel tem menor poder calor\u00edfico – de 3% a 4% – e por isso consome mais quando a mistura \u00e9 superior a 50%. A pr\u00f3xima etapa do estudo ser\u00e1 avaliar o n\u00edvel de emiss\u00e3o de poluentes gerado pelo biodiesel.<\/p>\n\n\n\n

O produto tamb\u00e9m foi testado em carros, locomotivas, motores e geradores el\u00e9tricos. Nesse \u00faltimo caso, a parceria foi estabelecida com a empresa Branco, do Paran\u00e1, em abril deste ano. “Os resultados t\u00eam sido altamente satisfat\u00f3rios”. Observamos uma redu\u00e7\u00e3o na emiss\u00e3o de poluentes e agora estamos realizando testes de durabilidade empregando o biodiesel puro (B100) “, informa o pesquisador.<\/p>\n\n\n\n

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Os ensaios com locomotivas est\u00e3o sendo executados pela Am\u00e9rica Latina Log\u00edstica (ALL), concession\u00e1ria ferrovi\u00e1ria com atua\u00e7\u00e3o no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paran\u00e1, S\u00e3o Paulo e Argentina. No primeiro momento, foram realizados com sucesso testes laboratoriais para medir consumo, pot\u00eancia e emiss\u00f5es. A segunda fase envolver\u00e1 o uso do combust\u00edvel na forma de B25 em locomotivas que rodar\u00e3o nos trechos Ourinhos-Apucarana e Curitiba-Apucarana durante um ano. “Em fun\u00e7\u00e3o dos resultados, a ALL avaliar\u00e1 a possibilidade de usar biodiesel em toda a frota”, afirma Dabdoub.<\/p>\n\n\n\n

O biodiesel, por fim, tamb\u00e9m est\u00e1 sendo testado nas misturas B20, B30 e B100 em ve\u00edculos de passeio, como no caso dos autom\u00f3veis das montadoras francesas Peugeot e Citro\u00ebn. Esses carros est\u00e3o equipados com motores de \u00faltima gera\u00e7\u00e3o que permitem a inje\u00e7\u00e3o direta do combust\u00edvel sob alta press\u00e3o (HDI – High Direct Injection Fuel) comumente chamados de “Common feed Rail”. Para se ter uma id\u00e9ia da tecnologia avan\u00e7ada que est\u00e1 sendo utilizada, basta dizer que somente uma montadora de caminh\u00f5es no pa\u00eds emprega comercialmente esse tipo de motores, que por si s\u00f3 permitem a redu\u00e7\u00e3o do consumo e das emiss\u00f5es de poluentes. Os estudos da USP neste campo espec\u00edfico, concentram-se na an\u00e1lise de consumo de combust\u00edvel, durabilidade e emiss\u00e3o de poluentes (mon\u00f3xido e di\u00f3xido de carbono, di\u00f3xido de enxofre, hidrocarbonetos n\u00e3o queimados, gases de nitrog\u00eanio e material particulado). Os testes de durabilidade est\u00e3o sendo realizados, rodando no m\u00ednimo 80.000 Km, com a an\u00e1lise da varia\u00e7\u00e3o das emiss\u00f5es de gases poluentes a cada 20.000 Km.<\/p>\n\n\n\n

“Tamb\u00e9m fazemos testes com os motores cedidos por essas montadoras, em colabora\u00e7\u00e3o com os Professores Ant\u00f4nio Moreira e Josmar Pagliuso da Escola de Engenharia Mec\u00e2nica da USP de S\u00e3o Carlos que conta com uma das mais modernas instrumenta\u00e7\u00f5es laboratoriais do pa\u00eds, para an\u00e1lise de rendimento, consumo, pot\u00eancia e tamb\u00e9m de emiss\u00f5es, al\u00e9m de tr\u00eas bancadas dinamom\u00e9tricas. Esses mesmos ensaios s\u00e3o feitos de forma paralela na sede da PSA Peugeot-Citro\u00ebn na Fran\u00e7a”, conta Dabdoub.<\/p>\n\n\n\n

Estudos pelo Brasil – A pesquisa da USP de Ribeir\u00e3o Preto n\u00e3o \u00e9 a \u00fanica relacionada ao desenvolvimento de combust\u00edveis alternativos ao diesel no Brasil. Existe uma extensa rede que envolve universidades, institutos de pesquisa, associa\u00e7\u00f5es empresariais, ag\u00eancias reguladoras e de fomento, empresas, cooperativas e ONGs interessadas no desenvolvimento e na implanta\u00e7\u00e3o do biodiesel. Ainda falando de \u00f3leos residuais, o LADETEL mant\u00e9m um sub-projeto no chamado “Projeto Biodiesel Brasil” coordenado por Dabdoub, que utiliza os \u00f3leos residuais dos refeit\u00f3rios universit\u00e1rios (bandej\u00f5es) da USP-RP, USP-Pirassununga, ESALQ-Piracicaba, UNESP de Jaboticabal e USP-Capital, al\u00e9m de grande quantidade de \u00f3leo doado pela rede de lanchonetes Mc Donald’s do estado de S\u00e3o Paulo. O projeto com esta rede de “fast food” visa uma a\u00e7\u00e3o social atrav\u00e9s do ap\u00f3io do Projeto Biodiesel Brasil ao GACC (Grupo de Ap\u00f3io \u00e0 Crian\u00e7a com C\u00e2ncer) que j\u00e1 recebe ap\u00f3io de outros setores da USP e dessa mesma rede de lanchonetes.
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Resumo Hist\u00f3rico – No princ\u00edpio, Diesel usou \u00f3leo vegetal<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Foi a partir da inven\u00e7\u00e3o do motor a diesel, pelo engenheiro franc\u00eas de origem alem\u00e3 Rudolph Christian Carl Diesel (1858-1913) no final do s\u00e9culo XIX, que vislumbrou-se, pela primeira vez, a possibilidade de se usar \u00f3leos vegetais como combust\u00edvel. Foi apenas na primeira d\u00e9cada do s\u00e9culo passado que o \u00f3leo diesel passou a ser produzido \u00e0 partir do petr\u00f3leo. A primeira patente de biodiesel feito com \u00f3leo de amendoim e metanol foi depositada no Jap\u00e3o na d\u00e9cada de 1940, seguida de outras tr\u00eas patentes americanas na d\u00e9cada de 1950.<\/p>\n\n\n\n

No Brasil, as pesquisas tiveram in\u00edcio nos anos de 1980 com a cria\u00e7\u00e3o do Programa de \u00d3leos Vegetais (OVEG). O pioneirismo coube, entre outros, ao IME, IPT, CEPLAC – Min. Agricultura, a escola de Engenharia Mec\u00e2nia de S\u00e3o e \u00e0 Universidade Federal do Cear\u00e1 (UFC), respons\u00e1vel pela primeira patente brasileira de um processo de biodiesel. Pesquisadores cearenses produziram o combust\u00edvel \u00e0 partir de uma mistura de \u00f3leo de mamona e metanol.<\/p>\n\n\n\n

“O programa brasileiro n\u00e3o vingou nessa \u00e9poca por motivos econ\u00f4micos. Faltou uma vis\u00e3o estrat\u00e9gica de longo prazo que permitisse a supera\u00e7\u00e3o das defici\u00eancias tecnol\u00f3gicas como foi feito com o programa do \u00e1lcool (PROALCOOL)”, conta o professor Miguel J. Dabdoub. Nos anos 90, pa\u00edses da Europa come\u00e7aram a implantar programas de uso do biodiesel. Atualmente, dois milh\u00f5es de ve\u00edculos rodam no continente com esse combust\u00edvel. Na Alemanha e na \u00c1ustria, emprega-se o biodiesel puro, enquanto nos demais pa\u00edses ele \u00e9 misturado ao diesel na propor\u00e7\u00e3o de 5% a 20%. Dentro de tr\u00eas anos (2005) 2% de todo combust\u00edvel consumido na Europa deve ser proveniente de fontes renov\u00e1veis. Em 2010, esse percentual subir\u00e1 para 5,75%. Segundo Dabdoub “Com isso, existe uma grande possibilidade do Brasil vir a exportar biodiesel”. Em fun\u00e7\u00e3o das pol\u00edticas de incentivo ao uso de combust\u00edveis renov\u00e1veis, adotadas na Europa, \u00e9 previs\u00edvel que haver\u00e1 um aumento da demanda superior \u00e0 sua capacidade de produ\u00e7\u00e3o, enquanto o Brasil \u00e9 o pa\u00eds com maior potencial de produ\u00e7\u00e3o. “S\u00f3 no cerrado, temos 90 milh\u00f5es de hectares para expandir a nossa fronteira agr\u00edcola e teremos o biodiesel realmente 100% renov\u00e1vel se empregarmos o \u00e1lcool de cana ao inv\u00e9s do metanol” conclui o professor.<\/p>\n\n\n\n

Texto e fotos: Antonio Carlos Ferreira Batista<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Se tudo correr bem, dentro de dois anos os ve\u00edculos brasileiros movidos \u00e0 \u00f3leo diesel caminh\u00f5es, \u00f4nibus, tratores e locomotivas – estar\u00e3o rodando com um percentual de biodiesel no tanque. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":1114,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1454],"tags":[23,59,69,68,50],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1113"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1113"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1113\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5559,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1113\/revisions\/5559"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media\/1114"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1113"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1113"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1113"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}