{"id":1110,"date":"2009-01-23T10:47:06","date_gmt":"2009-01-23T10:47:06","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:33:52","modified_gmt":"2021-07-10T23:33:52","slug":"energia_solar_do_artesanato_para_a_tecnologia_de_ponta","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/energia\/artigos_energia\/energia_solar_do_artesanato_para_a_tecnologia_de_ponta.html","title":{"rendered":"Energia solar: do artesanato para a tecnologia de ponta"},"content":{"rendered":"\n

Qual \u00e9 a ind\u00fastria que cresce com um \u00edndice de 30 a 40% ao ano? A inform\u00e1tica? N\u00e3o! A biotecnologia? Tamb\u00e9m n\u00e3o. A ind\u00fastria nuclear? Muito menos. A el\u00e9trica? Nem brincando! \u00c9 a solar! Uma ind\u00fastria que est\u00e1 dotada de uma sa\u00fade capaz de fazer pensar duas vezes os ministros da economia do G-8. A ind\u00fastria solar, nas suas duas vertentes, a t\u00e9rmica e a fotovoltaica, est\u00e1 revelando que tem f\u00f4lego o bastante para ir muito al\u00e9m, no futuro imediato. Este clima entusi\u00e1stico percebeu-se sumamente palp\u00e1vel durante a 19\u00aa Confer\u00eancia Europ\u00e9ia da Ind\u00fastria Fotovoltaica que aconteceu em Paris de 7 a 11 de Junho passado. Foi um grande encontro de industriais, engenheiros e profissionais do setor que assistiram a mais de 40 sess\u00f5es, semin\u00e1rios e palestras; os mais de 200 stands da feira paralela foram visitados por cerca de 2.500 congressistas procedentes de todo o mundo, mas principalmente da Europa Ocidental. A Confer\u00eancia parisiense mostrou que j\u00e1 aconteceu a decolagem de uma ind\u00fastria que se encontra saindo de seu estado artesanal para se transformar num setor econ\u00f4mico inovador e possuidor de uma exigente tecnologia de ponta.<\/p>\n\n\n\n

A ind\u00fastria fotovoltaica, que fabrica os pain\u00e9is captadores que transformam a energia solar em eletricidade, hoje se encontra dominada pelas empresas europ\u00e9ias BP Solar, Shell Solar e pelas japonesas Sharp e Kyocera.<\/p>\n\n\n\n

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A ajuda do Estado
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Os estadunidenses s\u00e3o os grandes ausentes neste campo, mesmo considerando o fato de que a General Electric recentemente decidira se engajar no campo solar. Na realidade, este mercado ainda depende – e muito fortemente – da assist\u00eancia que os governos devem fornecer para a produ\u00e7\u00e3o deste tipo de energia n\u00e3o emissora de g\u00e1s carb\u00f4nico. O Jap\u00e3o e a Alemanha s\u00e3o, logicamente, os l\u00edderes nesta ind\u00fastria por causa da ajuda econ\u00f4mica que eles concedem aos consumidores de energia el\u00e9trica solar.<\/p>\n\n\n\n

A Alemanha j\u00e1 concede a alguns anos substanciais subs\u00eddios para compra de equipamento solar t\u00e9rmico e garante a compra de eletricidade fotovoltaica a pre\u00e7os elevados, at\u00e9 60 centavos de Euro por quilowatt\/hora. Esta vis\u00e3o combina o interesse ambiental e a pol\u00edtica industrial estatal visto que, apoiado desta forma, est\u00e1 emergindo um setor novo e, principalmente, gerador de empregos. Somente na Alemanha, nos \u00faltimos seis meses, foram abertas mais de dez mil vagas, e a perspectiva, depois da Renewables 2004, \u00e9 de 50 mil.<\/p>\n\n\n\n

A Espanha, seguindo o mesmo caminho, h\u00e1 v\u00e1rios anos que j\u00e1 disp\u00f5e de uma legisla\u00e7\u00e3o de compra de energia excedente dos usu\u00e1rios de energia e\u00f3lica e proximamente dever\u00e1 adotar uma tarifa de compra de eletricidade estimulando a gera\u00e7\u00e3o fotovoltaica.<\/p>\n\n\n\n

Em contraste com a pol\u00edtica de energias limpas da Alemanha, Espanha e a Holanda, na Europa a Fran\u00e7a est\u00e1 considerada como \u201can\u00e3 solar\u201d em raz\u00e3o do fraco interesse dos atuais governantes que se encontram obnubilados pela energia nuclear. A Fran\u00e7a conta apenas com uma grande empresa industrial, a Photowatt, uma subsidi\u00e1ria da Matrix canadense instalada nos Alpes franceses, cuja produ\u00e7\u00e3o est\u00e1 voltada quase exclusivamente para a exporta\u00e7\u00e3o.<\/p>\n\n\n\n

Garantia de pre\u00e7os leva setor alem\u00e3o de energia solar a expans\u00e3o recorde este ano. Os projetistas, por\u00e9m, querem evitar atritos pela prolifera\u00e7\u00e3o de receptores solares pela paisagem, como ocorreu com cata-ventos. Um acordo garante este ano aos fornecedores de energia solar uma remunera\u00e7\u00e3o in\u00e9dita na Alemanha: 62,4 centavos de Euro por quilowatt\/hora. A atraente tarifa est\u00e1 estimulando a multiplica\u00e7\u00e3o das usinas solares. O Governo alem\u00e3o prev\u00ea que, at\u00e9 Dezembro deste ano, ser\u00e3o instalados no Pa\u00eds 20 mil parques de coletores fotovoltaicos com capacidade para gerar 200 megawatts.<\/p>\n\n\n\n

O setor calcula que, pela primeira vez, seu faturamento ultrapassar\u00e1 a marca de um bilh\u00e3o de Euros, contra 750 milh\u00f5es em 2003 e apenas 80 milh\u00f5es em 1998. Os investimentos dever\u00e3o criar quatro mil novos empregos.<\/p>\n\n\n\n

Nesta arrancada, os projetistas de usinas solares t\u00eam uma preocupa\u00e7\u00e3o a mais, a partir da experi\u00eancia dos setores de energia nuclear e e\u00f3lica. Ou seja, s\u00f3 instalar usinas onde elas s\u00e3o bem-vindas pela popula\u00e7\u00e3o e n\u00e3o encher a paisagem com placas coletoras, sem repetir o exemplo da prolifera\u00e7\u00e3o de cata-ventos, que gera protestos em algumas regi\u00f5es do pa\u00eds.<\/p>\n\n\n\n

Afinal, o setor vive \u201cde sua imagem positiva e de sua alta credibilidade ecol\u00f3gica\u201d, afirma Carsten K\u00f6rnig, diretor-geral da Associa\u00e7\u00e3o das Empresas do Setor de Energia Solar (UVS). Maior projetista de usinas da Alemanha, a empresa Voltwerk faz coro: \u201cA aceita\u00e7\u00e3o dos parques solares em suas regi\u00f5es \u00e9 muito importante.\u201d<\/p>\n\n\n\n

De fato, a popularidade da energia solar \u00e9 das melhores. Pesquisa encomendada pelo Departamento Federal de Imprensa verificou que 70% dos alem\u00e3es apontam o sol como fonte de energia preferida para assegurar a demanda no pa\u00eds daqui a 20 ou 30 anos. A alternativa e\u00f3lica ficou em segundo lugar, com 55% das prefer\u00eancias, enquanto a nuclear obteve apenas 19% de respaldo e o uso de carv\u00e3o, irris\u00f3rios 6%.<\/p>\n\n\n\n

Problemas com a paisagem<\/strong><\/p>\n\n\n\n

Entretanto, assim como ocorreu com os cata-ventos, \u00e0 medida que novos projetos de usinas solares s\u00e3o anunciados, come\u00e7am a surgir as primeiras resist\u00eancias, sobretudo nas regi\u00f5es em que elas devem ocupar \u00e1reas anteriormente verdes, algumas usadas antes para agricultura e pecu\u00e1ria. Instala\u00e7\u00f5es de coletores em telhados n\u00e3o enfrentam contesta\u00e7\u00f5es. Mas n\u00e3o h\u00e1 telhado que chegue para atender \u00e0s metas do Governo. O potencial de conflito tende a crescer com a perspectiva de instala\u00e7\u00e3o de grandes usinas, pois nem todas as \u00e1reas n\u00e3o constru\u00eddas poder\u00e3o ser poupadas.<\/p>\n\n\n\n

At\u00e9 agora os atritos entre defensores de usinas e contestadores foram casos isolados, sem maiores repercuss\u00f5es. Ao menos n\u00e3o compar\u00e1veis com as brigas contra a abertura de estradas, por exemplo. Por\u00e9m, no povoado de Schmiechen, pr\u00f3ximo a Augsburg, a resist\u00eancia saiu-se vitoriosa. Ao se dar aos moradores do local o poder de decis\u00e3o atrav\u00e9s de plebiscito, 60% dos eleitores foi contra.<\/p>\n\n\n\n

O diretor da Associa\u00e7\u00e3o de Incentivo \u00e0 Energia Solar da cidade de Aachen, Wolf von Fabeck, rejeita categoricamente o uso de \u00e1reas verdes. Para ele, quem leva a s\u00e9rio a prote\u00e7\u00e3o ao meio ambiente tem de protestar contra \u201co uso desnecess\u00e1rio de superf\u00edcies\u201d naturais.<\/p>\n\n\n\n

\u201cOs campos de pastagem nos Alpes e as encostas vin\u00edcolas est\u00e3o para n\u00f3s fora de cogita\u00e7\u00e3o\u201d, garante Steffen Kammler, chefe de projetos da City Solar, respons\u00e1vel pelo planejamento do atual maior projeto solar do mundo.<\/p>\n\n\n\n

Em G\u00f6ttelborn, no Estado do Sarre, dever\u00e1 ser instalada uma usina de 7,4 megawatts, ou seja, tanta eletricidade quanto a produzida por todas as instala\u00e7\u00f5es solares na Alemanha h\u00e1 dez anos. Resist\u00eancias ao projeto? Nenhuma. Afinal, a usina ocupar\u00e1 uma \u00e1rea deformada pela extra\u00e7\u00e3o de carv\u00e3o. Portanto, op\u00e7\u00f5es existem. Pa\u00eds afora, existem terrenos de pouco valor ecol\u00f3gico \u00e0 disposi\u00e7\u00e3o, como campos de treinamento militar e aterros sanit\u00e1rios, como o de Karlsruhe. Ap\u00f3s o saneamento do local, a prefeitura instalou ali tr\u00eas aerogeradores. Agora quer cobrir o monte de lixo soterrado com coletores solares.<\/p>\n\n\n\n

A China se est\u00e1 configurando muito menos medrosa do que a Fran\u00e7a no campo solar; a nova gera\u00e7\u00e3o de empres\u00e1rios do gigante asi\u00e1tico pensa implementar uma poderosa ind\u00fastria fotovoltaica e inundar o mercado interno que se encontra em pleno desenvolvimento. Durante a Renewables 2004 as autoridades chinesas anunciaram que, no m\u00e1ximo at\u00e9 o ano 2010, Beijing pretende suprir at\u00e9 10% da eletricidade nacional mediante placas fotovoltaicas e turbinas e\u00f3licas. A \u00cdndia que \u00e9 o \u00fanico Pa\u00eds que disp\u00f5e de um Minist\u00e9rio das Energias Renov\u00e1veis, tamb\u00e9m demonstrou interesse em renovar a sua matriz energ\u00e9tica com uma maci\u00e7a implementa\u00e7\u00e3o de fotovoltaicos.<\/p>\n\n\n\n

Nos pa\u00edses em desenvolvimento, estas novas formas de energia s\u00e3o altamente apreciadas pelo seu car\u00e1ter de f\u00e1cil instala\u00e7\u00e3o local, em especial nas regi\u00f5es rurais que se encontram distantes das redes el\u00e9tricas tradicionais. Hoje existe um grande n\u00famero de pa\u00edses do Terceiro Mundo que come\u00e7am a se interessar pelo universo fotovoltaico. Tanto na Europa como na Am\u00e9rica Latina, na \u00c1frica ou na \u00c1sia, de um ponto de vista tecnol\u00f3gico, o solar dever\u00e1 avan\u00e7ar rapidamente gra\u00e7as ao emprego de novos e mais baratos materiais: os pol\u00edmeros poder\u00e3o deslocar para sempre o sil\u00edcio cristalino com o qual s\u00e3o fabricadas hoje as c\u00e9lulas solares. Eles oferecem maior transpar\u00eancia e, como conseq\u00fc\u00eancia, a espessura do filme solar ser\u00e1 menor; este detalhe que permitir\u00e1 aos fotovoltaicos se integrarem melhor aos edif\u00edcios e resid\u00eancias do que os sistemas solares atualmente dispon\u00edveis. Sem d\u00favida o futuro ser\u00e1, entre outras formas de energia, solar.<\/p>\n\n\n\n

Aurore Bubu – Ambientalista
\nFonte: Revista Eco 21, Ano XIV, Edi\u00e7\u00e3o 92, Julho 2004. (www.eco21.com.br)<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"