{"id":1100,"date":"2009-01-23T10:28:07","date_gmt":"2009-01-23T10:28:07","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:33:55","modified_gmt":"2021-07-10T23:33:55","slug":"havera_vida_na_terra_depois_do_petroleo","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/energia\/artigos_energia\/havera_vida_na_terra_depois_do_petroleo.html","title":{"rendered":"Haver\u00e1 vida na Terra depois do petr\u00f3leo?"},"content":{"rendered":"\n

Talvez fosse melhor inverter os termos e chamar o artigo de: \u201cHaver\u00e1 petr\u00f3leo para o g\u00eanero de vida criado pela sociedade industrial?\u201d. O \u00fanico tipo de desenvolvimento econ\u00f4mico que conhecemos \u00e9 intensivo em energia. \u00c0 medida que se desenvolvam, os habitantes dos pa\u00edses em desenvolvimento ter\u00e3o de passar do atual consumo insignificante de energia \u2013 0,75 TEP (tonelada de equivalente de petr\u00f3leo por pessoa\/ano) \u2013 a algo entre 2 e 3 TEPs, o que n\u00e3o \u00e9 exagerado, pois os desenvolvidos t\u00eam \u00edndice de 4,5 TEP pessoa\/ano. Isso significa que, em 2050, quando a popula\u00e7\u00e3o dos mais pobres for de 9 bilh\u00f5es de habitantes, o consumo mundial de energia ter\u00e1 passado de menos de 9 bilh\u00f5es de TEP para a cifra colossal de 25 bilh\u00f5es a 30 bilh\u00f5es! Esse futuro, ali\u00e1s, j\u00e1 come\u00e7ou, pois \u00e9, em grande parte, a press\u00e3o da China e, em grau menor, a da \u00cdndia que est\u00e3o alterando o perfil da demanda energ\u00e9tica.<\/p>\n\n\n\n

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\u00c9 \u00f3bvio que apenas parte desse choque gigantesco de demanda poder\u00e1 ser atendida pelo petr\u00f3leo. O resto ter\u00e1 de vir de outras fontes, alternativas ou tradicionais. \u00c9 por isso que modalidades altamente poluidoras de energia, como o carv\u00e3o, t\u00eam pela frente brilhante futuro assegurado. Nessa equa\u00e7\u00e3o, o papel da oferta de petr\u00f3leo \u00e9 garantir a produ\u00e7\u00e3o de 120 milh\u00f5es de barris para 2025, aumento de 50% do n\u00edvel corrente, apenas para satisfazer o crescimento da demanda espec\u00edfica por \u00f3leo, que \u00e9 de 1,9% ao ano. Ora, at\u00e9 isso, que representa muito menos que a demanda por energia em geral, \u00e9 hoje objeto de controv\u00e9rsia.<\/p>\n\n\n\n

Na discuss\u00e3o sobre a capacidade de a oferta fazer face a esse desafio, h\u00e1 duas correntes principais. De um lado, est\u00e3o os que d\u00e3o \u00eanfase aos limites f\u00edsicos de produ\u00e7\u00e3o do \u00f3leo, derivados da geologia e da tecnologia dispon\u00edvel para extrair o petr\u00f3leo a custos competitivos. Do outro, ficam os que privilegiam fatores econ\u00f4micos e geopol\u00edticos. O que complica a tarefa do leigo desejoso de ver claro na confus\u00e3o das posi\u00e7\u00f5es contradit\u00f3rias \u00e9 ser a ind\u00fastria petrol\u00edfera uma das menos transparentes da economia. Nela, o recurso \u00e0 contra-informa\u00e7\u00e3o \u00e9 moeda corrente. A falsifica\u00e7\u00e3o de cifras de produ\u00e7\u00e3o \u00e9 habitual, do mesmo modo que a do n\u00edvel das reservas, a que n\u00e3o escapam at\u00e9 empresas prestigiosas, como a Shell.<\/p>\n\n\n\n

\u00c9 em rela\u00e7\u00e3o aos limites f\u00edsicos e geol\u00f3gicos da extra\u00e7\u00e3o que se situa o debate sobre o esgotamento das reservas e o atingimento do chamado \u201cPico de Hubbert\u201d, do nome do ge\u00f3logo estadunidense King Hubbert, o primeiro a calcular, 50 anos atr\u00e1s, quando se atingiria, na produ\u00e7\u00e3o, o ponto mais alto a partir do qual o decl\u00ednio e a conseq\u00fcente explos\u00e3o dos pre\u00e7os se tornariam irrevers\u00edveis. Veja bem, ningu\u00e9m nega que, algum dia, o petr\u00f3leo vai acabar, j\u00e1 que \u00e9 recurso finito. O que se discute \u00e9 quando. Os pessimistas, minorit\u00e1rios na ind\u00fastria, afirmam que o pico ser\u00e1 atingido entre 2007 e 2010, depois de amanh\u00e3, portanto. Os otimistas apostam entre 2020 e 2030. A previs\u00e3o mais otimista \u00e9 a do Departamento de Energia dos EUA, que indica que o pico seria alcan\u00e7ado entre 2030 e 2075.<\/p>\n\n\n\n

Asseveram os c\u00e9ticos que, durante muito tempo, as grandes companhias subestimaram as reservas em cerca de 30%, criando uma reserva n\u00e3o-declarada que lhes permitiu, ano ap\u00f3s ano, reavaliar a capacidade, mascarando o fato de que, h\u00e1 20 anos, os volumes descobertos s\u00e3o inferiores aos consumidos. \u00c9 verdade que a evolu\u00e7\u00e3o das reservas tem refletido, sobretudo, a reavalia\u00e7\u00e3o permanente e sempre para mais de jazidas j\u00e1 conhecidas, mais que descobertas novas. Os pessimistas calculam as reservas mundiais em 780 bilh\u00f5es de barris, ao passo que as empresas e fontes convencionais afirmam que elas estariam em pouco mais de 1,1 trilh\u00e3o, do qual 65,4% no Oriente M\u00e9dio.<\/p>\n\n\n\n

O que ningu\u00e9m pode negar \u00e9 que, desde 2000, quando se descobriu o campo gigante de Kashagan, no Cazaquist\u00e3o \u2013 a maior descoberta em 30 anos \u2013, n\u00e3o se encontrou nenhum campo compar\u00e1vel, e as reservas globais descobertas ca\u00edram 40% em compara\u00e7\u00e3o com a expans\u00e3o registrada nos quatro anos anteriores.<\/p>\n\n\n\n

Entre 2001 e 2003, apenas 6 das 15 principais firmas produtoras conseguiram repor integralmente o \u00f3leo que bombearam do solo. Para os que duvidam da explica\u00e7\u00e3o baseada nas limita\u00e7\u00f5es geol\u00f3gicas, a raz\u00e3o da baixa taxa de reposi\u00e7\u00e3o \u00e9 de natureza econ\u00f4mica. A vis\u00e3o de curto prazo, caracter\u00edstica de um tipo de economia dependente do chamado \u201cvalor para o acionista\u201d, fez com que as companhias cortassem em 27% o or\u00e7amento de explora\u00e7\u00e3o, no momento em que pagam dividendos cada vez mais altos, possibilitados pelos bons pre\u00e7os.<\/p>\n\n\n\n

O custo, em longo prazo, \u00e9 comprometer as reservas num setor no qual a falta de investimento agora s\u00f3 se far\u00e1 sentir plenamente em dez anos.<\/p>\n\n\n\n

Para essas grandes companhias, a melhor op\u00e7\u00e3o \u00e9 ganhar acesso f\u00e1cil \u00e0 regi\u00e3o que concentra dois ter\u00e7os das reservas j\u00e1 localizadas e de f\u00e1cil explora\u00e7\u00e3o: o Oriente M\u00e9dio.<\/p>\n\n\n\n

O problema \u00e9 que, ap\u00f3s anos de negocia\u00e7\u00f5es no \u00e2mbito da Organiza\u00e7\u00e3o dos Pa\u00edses Exportadores de Petr\u00f3leo – OPEP, nem a Ar\u00e1bia Saudita nem o Kuait aceitaram a volta das \u201cmajors\u201d, para n\u00e3o falar do Ir\u00e3, fechad\u00edssimo como sempre, nem do Iraque, cuja porta vem sendo aberta do jeito que todos sabem.<\/p>\n\n\n\n

N\u00e3o h\u00e1 alternativa inteiramente satisfat\u00f3ria, pois a R\u00fassia al\u00e9m da incerteza pol\u00edtica deve, segundo muitos consultores, atingir o pico em 2007\/08, enquanto a \u00c1frica ocidental \u00e9 tamb\u00e9m zona de instabilidade cr\u00f4nica. Outro fator complicador \u00e9 que, mesmo se tudo der certo e os campos do golfo voltarem a acolher os ocidentais, o resultado l\u00edquido ser\u00e1 o aumento da depend\u00eancia do mundo em rela\u00e7\u00e3o ao mais problem\u00e1tico dos pontos quentes de toda a geopol\u00edtica universal.<\/p>\n\n\n\n

Como se pode deduzir dessa an\u00e1lise, a maior parte da oferta ter\u00e1 de provir do Oriente M\u00e9dio, cuja produ\u00e7\u00e3o dever\u00e1 dobrar exigindo investimen tos estimados em perto de US$ 30 bilh\u00f5es por ano, durante muito tempo. \u00c9 conceb\u00edvel esperar clima de estabilidade pol\u00edtica que viabilize tal n\u00edvel de investimento na regi\u00e3o do Planeta com o mais intenso \u00edndice de conflito por metro quadrado de deserto?<\/p>\n\n\n\n

Revista Eco 21, Ano XIV, Edi\u00e7\u00e3o 96, Novembro 2004. (www.eco21.com.br)<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"