<\/span><\/div>\n\n\n\n\u00c9 \u00f3bvio que apenas parte desse choque gigantesco de demanda poder\u00e1 ser atendida pelo petr\u00f3leo. O resto ter\u00e1 de vir de outras fontes, alternativas ou tradicionais. \u00c9 por isso que modalidades altamente poluidoras de energia, como o carv\u00e3o, t\u00eam pela frente brilhante futuro assegurado. Nessa equa\u00e7\u00e3o, o papel da oferta de petr\u00f3leo \u00e9 garantir a produ\u00e7\u00e3o de 120 milh\u00f5es de barris para 2025, aumento de 50% do n\u00edvel corrente, apenas para satisfazer o crescimento da demanda espec\u00edfica por \u00f3leo, que \u00e9 de 1,9% ao ano. Ora, at\u00e9 isso, que representa muito menos que a demanda por energia em geral, \u00e9 hoje objeto de controv\u00e9rsia.<\/p>\n\n\n\n
Na discuss\u00e3o sobre a capacidade de a oferta fazer face a esse desafio, h\u00e1 duas correntes principais. De um lado, est\u00e3o os que d\u00e3o \u00eanfase aos limites f\u00edsicos de produ\u00e7\u00e3o do \u00f3leo, derivados da geologia e da tecnologia dispon\u00edvel para extrair o petr\u00f3leo a custos competitivos. Do outro, ficam os que privilegiam fatores econ\u00f4micos e geopol\u00edticos. O que complica a tarefa do leigo desejoso de ver claro na confus\u00e3o das posi\u00e7\u00f5es contradit\u00f3rias \u00e9 ser a ind\u00fastria petrol\u00edfera uma das menos transparentes da economia. Nela, o recurso \u00e0 contra-informa\u00e7\u00e3o \u00e9 moeda corrente. A falsifica\u00e7\u00e3o de cifras de produ\u00e7\u00e3o \u00e9 habitual, do mesmo modo que a do n\u00edvel das reservas, a que n\u00e3o escapam at\u00e9 empresas prestigiosas, como a Shell.<\/p>\n\n\n\n
\u00c9 em rela\u00e7\u00e3o aos limites f\u00edsicos e geol\u00f3gicos da extra\u00e7\u00e3o que se situa o debate sobre o esgotamento das reservas e o atingimento do chamado \u201cPico de Hubbert\u201d, do nome do ge\u00f3logo estadunidense King Hubbert, o primeiro a calcular, 50 anos atr\u00e1s, quando se atingiria, na produ\u00e7\u00e3o, o ponto mais alto a partir do qual o decl\u00ednio e a conseq\u00fcente explos\u00e3o dos pre\u00e7os se tornariam irrevers\u00edveis. Veja bem, ningu\u00e9m nega que, algum dia, o petr\u00f3leo vai acabar, j\u00e1 que \u00e9 recurso finito. O que se discute \u00e9 quando. Os pessimistas, minorit\u00e1rios na ind\u00fastria, afirmam que o pico ser\u00e1 atingido entre 2007 e 2010, depois de amanh\u00e3, portanto. Os otimistas apostam entre 2020 e 2030. A previs\u00e3o mais otimista \u00e9 a do Departamento de Energia dos EUA, que indica que o pico seria alcan\u00e7ado entre 2030 e 2075.<\/p>\n\n\n\n
Asseveram os c\u00e9ticos que, durante muito tempo, as grandes companhias subestimaram as reservas em cerca de 30%, criando uma reserva n\u00e3o-declarada que lhes permitiu, ano ap\u00f3s ano, reavaliar a capacidade, mascarando o fato de que, h\u00e1 20 anos, os volumes descobertos s\u00e3o inferiores aos consumidos. \u00c9 verdade que a evolu\u00e7\u00e3o das reservas tem refletido, sobretudo, a reavalia\u00e7\u00e3o permanente e sempre para mais de jazidas j\u00e1 conhecidas, mais que descobertas novas. Os pessimistas calculam as reservas mundiais em 780 bilh\u00f5es de barris, ao passo que as empresas e fontes convencionais afirmam que elas estariam em pouco mais de 1,1 trilh\u00e3o, do qual 65,4% no Oriente M\u00e9dio.<\/p>\n\n\n\n
O que ningu\u00e9m pode negar \u00e9 que, desde 2000, quando se descobriu o campo gigante de Kashagan, no Cazaquist\u00e3o \u2013 a maior descoberta em 30 anos \u2013, n\u00e3o se encontrou nenhum campo compar\u00e1vel, e as reservas globais descobertas ca\u00edram 40% em compara\u00e7\u00e3o com a expans\u00e3o registrada nos quatro anos anteriores.<\/p>\n\n\n\n
Entre 2001 e 2003, apenas 6 das 15 principais firmas produtoras conseguiram repor integralmente o \u00f3leo que bombearam do solo. Para os que duvidam da explica\u00e7\u00e3o baseada nas limita\u00e7\u00f5es geol\u00f3gicas, a raz\u00e3o da baixa taxa de reposi\u00e7\u00e3o \u00e9 de natureza econ\u00f4mica. A vis\u00e3o de curto prazo, caracter\u00edstica de um tipo de economia dependente do chamado \u201cvalor para o acionista\u201d, fez com que as companhias cortassem em 27% o or\u00e7amento de explora\u00e7\u00e3o, no momento em que pagam dividendos cada vez mais altos, possibilitados pelos bons pre\u00e7os.<\/p>\n\n\n\n
O custo, em longo prazo, \u00e9 comprometer as reservas num setor no qual a falta de investimento agora s\u00f3 se far\u00e1 sentir plenamente em dez anos.<\/p>\n\n\n\n
Para essas grandes companhias, a melhor op\u00e7\u00e3o \u00e9 ganhar acesso f\u00e1cil \u00e0 regi\u00e3o que concentra dois ter\u00e7os das reservas j\u00e1 localizadas e de f\u00e1cil explora\u00e7\u00e3o: o Oriente M\u00e9dio.<\/p>\n\n\n\n
O problema \u00e9 que, ap\u00f3s anos de negocia\u00e7\u00f5es no \u00e2mbito da Organiza\u00e7\u00e3o dos Pa\u00edses Exportadores de Petr\u00f3leo – OPEP, nem a Ar\u00e1bia Saudita nem o Kuait aceitaram a volta das \u201cmajors\u201d, para n\u00e3o falar do Ir\u00e3, fechad\u00edssimo como sempre, nem do Iraque, cuja porta vem sendo aberta do jeito que todos sabem.<\/p>\n\n\n\n
N\u00e3o h\u00e1 alternativa inteiramente satisfat\u00f3ria, pois a R\u00fassia al\u00e9m da incerteza pol\u00edtica deve, segundo muitos consultores, atingir o pico em 2007\/08, enquanto a \u00c1frica ocidental \u00e9 tamb\u00e9m zona de instabilidade cr\u00f4nica. Outro fator complicador \u00e9 que, mesmo se tudo der certo e os campos do golfo voltarem a acolher os ocidentais, o resultado l\u00edquido ser\u00e1 o aumento da depend\u00eancia do mundo em rela\u00e7\u00e3o ao mais problem\u00e1tico dos pontos quentes de toda a geopol\u00edtica universal.<\/p>\n\n\n\n
Como se pode deduzir dessa an\u00e1lise, a maior parte da oferta ter\u00e1 de provir do Oriente M\u00e9dio, cuja produ\u00e7\u00e3o dever\u00e1 dobrar exigindo investimen tos estimados em perto de US$ 30 bilh\u00f5es por ano, durante muito tempo. \u00c9 conceb\u00edvel esperar clima de estabilidade pol\u00edtica que viabilize tal n\u00edvel de investimento na regi\u00e3o do Planeta com o mais intenso \u00edndice de conflito por metro quadrado de deserto?<\/p>\n\n\n\n
Revista Eco 21, Ano XIV, Edi\u00e7\u00e3o 96, Novembro 2004. (www.eco21.com.br)<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"Talvez fosse melhor inverter os termos e chamar o artigo de: “Haver\u00e1 petr\u00f3leo para o g\u00eanero de vida criado pela sociedade industrial?”. O \u00fanico tipo de desenvolvimento econ\u00f4mico que conhecemos \u00e9 intensivo em energia. <\/a><\/p>\n<\/div>","protected":false},"author":2,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1454],"tags":[23,54,11],"_links":{"self":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1100"}],"collection":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/users\/2"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=1100"}],"version-history":[{"count":1,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1100\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":5569,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/1100\/revisions\/5569"}],"wp:attachment":[{"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=1100"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=1100"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"http:\/\/localhost\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=1100"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}