{"id":107,"date":"2009-02-09T17:35:36","date_gmt":"2009-02-09T17:35:36","guid":{"rendered":""},"modified":"2021-07-10T20:32:28","modified_gmt":"2021-07-10T23:32:28","slug":"peixes_como_recurso_sustentavel_do_pantanal","status":"publish","type":"post","link":"http:\/\/localhost\/agua\/artigos_agua_doce\/peixes_como_recurso_sustentavel_do_pantanal.html","title":{"rendered":"Peixes como recurso sustent\u00e1vel do Pantanal"},"content":{"rendered":"\n

A utiliza\u00e7\u00e3o sustent\u00e1vel de recursos naturais, particularmente no caso de recursos pesqueiros \u00e9 um desafio formid\u00e1vel que necessita ser encarado do ponto de vista, t\u00e9cnico, pol\u00edtico, econ\u00f4mico e social. Os recursos pesqueiros podem ser utilizados economicamente pela pesca profissional e amadora ou esportiva. O Brasil \u00e9 um dos poucos pa\u00edses em que a pesca profissional de \u00e1guas interiores possui um valor econ\u00f4mico apreci\u00e1vel, particularmente na Amaz\u00f4nia e no Pantanal.<\/p>\n\n\n\n

Do ponto de vista pol\u00edtico, como conciliar os diferentes usos da terra com a manuten\u00e7\u00e3o e integridade do ambiente, particularmente para a maioria das esp\u00e9cies de valor econ\u00f4mico que necessitam dessa integridade para a manuten\u00e7\u00e3o dos seus ciclos de vida, j\u00e1 que s\u00e3o esp\u00e9cies migradoras e mostram uma intera\u00e7\u00e3o muito grande entre cabeceira e plan\u00edcie de inunda\u00e7\u00e3o. Ainda, sob esse aspecto, como conciliar a pesca profissional e esportiva coexistindo no mesmo sistema, de vez que a esportiva traz muito mais retorno econ\u00f4mico que a profissional, em termos de gera\u00e7\u00e3o de emprego e de valor agregado ao peixe.<\/p>\n\n\n\n

Do ponto de vista social, a situa\u00e7\u00e3o da pesca profissional \u00e9 bastante cr\u00edtica, visto que os pescadores s\u00e3o pouco escolarizados, possuem baixa capacidade de associa\u00e7\u00e3o e em muitos casos, s\u00e3o manobrados por aqueles que deveriam estar defendendo os seus interesses. Por necessidade de sobreviv\u00eancia, qualquer morador de cidade ribeirinha, ao perder o emprego, torna-se um pescador em potencial e o controle do n\u00famero de pescadores, para assegurar uma pesca sustent\u00e1vel, passa a ser impratic\u00e1vel. Alia-se a isso ainda o acesso a programas governamentais de apoio social, tipo seguran\u00e7a alimentar, onde muitos se cadastram para ter acesso a cestas b\u00e1sicas, por exemplo. Ainda, como a licen\u00e7a de pesca profissional \u00e9 gr\u00e1tis, qualquer morador de beira de rio, acaba conseguindo a sua licen\u00e7a de pescador profissional e quando isso acontece, uma estimativa do n\u00famero real de pescadores profissionais passa a n\u00e3o existir.<\/p>\n\n\n\n

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Como a pesca em ambientes naturais, seja profissional ou esportiva, \u00e9 essencialmente extrativista, na medida em que outros usos da terra se intensificam (agricultura, pecu\u00e1ria, minera\u00e7\u00e3o, etc.), h\u00e1 uma gradativa perda de qualidade ambiental, ao menos no Brasil, o que afeta tremendamente o potencial de reposi\u00e7\u00e3o ou capacidade de suporte do sistema, chegando em muitos casos, a ser responsabilidade exclusiva dos pescadores, a redu\u00e7\u00e3o dos estoques pesqueiros de um dado ambiente. Dessa forma, temos muitas vezes interpreta\u00e7\u00f5es equivocadas dos reais motivos da redu\u00e7\u00e3o dos estoques pesqueiros e uma demanda por parte de governantes para o fechamento das atividades de pesca, seja profissional ou esportiva.<\/p>\n\n\n\n

Uma das formas de democratizar as decis\u00f5es quanto ao uso sustent\u00e1vel e manuten\u00e7\u00e3o das atividades de pesca \u00e9 a exist\u00eancia de um \u00f3rg\u00e3o colegiado onde os conflitos de interesse possam ser resolvidos, sempre ouvidos os argumentos t\u00e9cnico-cient\u00edficos.<\/p>\n\n\n\n

Por Emiko Kawakami de Resende (emiiko@cpap.embrapa.br) – doutora em ci\u00eancias, pesquisadora e Chefe Geral da Embrapa Pantanal.
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